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Governo FHC espionou MST e grupos internos do PT, mostram documentos

27 de dezembro de 2023, 17h45 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

Durante o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, líder do PSDB, o governo brasileiro realizou vigilância intensiva sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), grupos internos do PT, e figuras proeminentes da oposição, entre 1995 e 1999. Fernando Henrique Cardoso, o primeiro presidente reeleito por voto direto, administrou o país de 1995 a 2002.

Documentos confidenciais de inteligência obtidos pelo Intercept Brasil expõem a vigilância detalhada contra o MST e seu líder, João Pedro Stedile, revelando a extensão do monitoramento realizado pelo governo. Esses relatórios foram elaborados pela Subsecretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), sucessora do Serviço Nacional de Inteligência (SNI) da era militar, que posteriormente se transformou na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

O MST, fundado em 1984, já era objeto de relatórios do SNI sob os governos de José Sarney e Fernando Collor. No entanto, sob FHC, a escala de monitoramento aumentou. Foram descobertos mais de 121 relatórios sobre o MST durante esse período. Devido à Lei de Acesso à Informação, que exige a publicação de documentos ultrassecretos após 25 anos, a amplitude e os abusos da espionagem política na era FHC podem ser ainda maiores.

Os documentos evidenciam a infiltração de agentes em atividades internas do MST em vários estados e a interceptação de suas comunicações. Um relatório de setembro de 1996 descreve estratégias do MST em relação ao governo. Outros documentos revelam preocupação com a possível candidatura de Stedile pelo PT em 1998 e monitoramento detalhado de suas viagens e atividades pessoais.

Durante o governo FHC, ocorreram episódios violentos envolvendo o MST, como o massacre de Carajás em 1996, e a ocupação da fazenda Córrego da Ponte, de FHC, em 2002. A espionagem obsessiva de FHC também se estendeu a correntes internas do PT, com relatórios detalhados sobre suas estruturas e atividades.

Em 2016, conversas vazadas revelaram que a vigilância sobre o MST continuou mesmo sob governos posteriores. O MST, lembrando da espionagem em sua gestão, reagiu às novas revelações. João Pedro Stedile, líder do movimento, afirmou que a espionagem nunca foi uma surpresa, considerando-a parte da ação dos serviços de inteligência contra movimentos sociais, mas nunca um motivo de preocupação devido à justiça de suas causas.

Stedile ponderou que a espionagem sob FHC não necessariamente refletia ordens do ex-presidente. Ele relembrou casos de infiltração em atividades do MST, incluindo durante a ocupação da fazenda de FHC. Quanto à especulação sobre sua candidatura presidencial em 1998, Stedile a descreveu como uma brincadeira entre amigos.

O governo FHC produziu relatórios sobre as correntes internas do PT, Articulação de Esquerda e Brasil Socialista, detalhando suas estruturas, líderes e atividades, mostrando que havia um esforço governamental para monitorar as dinâmicas internas do principal partido de oposição naquela época.

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