Parece inacreditável. Mas ao que parece não é não. E o que seria tão espantoso assim? Acreditem. A equipe econômica do ministro Paulo Guedes começa a ruminar a ideia de que, para criar o Renda Cidadania, um programa eleitoreiro apenas, o governo pensa em congelar os benefícios do INSS superiores a um salário-mínimo, ( RS$ 1.045,00) para financiar o programa que iria substituir o Programa Bolsa Família.
Com um agravante: a tunga em cima do aposentado não daria para angariar os R$ 25 bilhões que o governo federal precisa para bancar o projeto de reeleição do presidente Bolsonaro.
Essa ideia da equipe de Paulo Guedes, no entanto, bate de frente com uma parecida que foi levada a Bolsonaro algum tempo atrás. Na época, o presidente refugou a ideia e descartou inteiramente a possibilidade de congelar a aposentadoria e pensões do INSS para criar o que na época era chamado de Renda Brasil. Na época, em setembro, Bolsonaro chegou a dizer que essa “gente não tem coração, o mínimo de entendimento para com os aposentados do Brasil”. E foi além, dizendo que “pode ser que alguém do governo tenha falado isso”, mas que o governo dele jamais iria fazer congelamento de auxilio para idoso ou qualquer coisa parecida.
Mas a equipe econômica insiste e agora tem a seu favor o relator do orçamento, senador Marcio Bittar (MDB-AC), que pediu ontem mais uma semana a Paulo Guedes para arranjar uma solução sem que o governo furte o teto de gastos – o que poderia até gerar um pedido de impeachment de Bolsonaro. O problema do governo seria simples se Bolsonaro não tivesse uma reeleição pela frente. Era só cumprir o orçamento e pronto. Mas como fica a reeleição? É aí que entra o complicador. Bolsonaro quer tirar o Bolsa Família, que é um programa do PT, e colocar um outro no lugar que possa servir de trampolim para a sua sonhada reeleição. Mas o teto de gastos não deixa. Daí essa ideia de congelar os benefícios do INSS para quem ganha acima do salário-mínimo, uma vez que o uso do FUNDEB e até o uso de precatórios – um dinheiro que já não é do governo – colocariam Bolsonaro na marca das pedaladas fiscais, ou seja, na marca do pênalti. A questão, como definiu o vice Hamilton Mourão, é simples: o dinheiro acabou. Pelo menos o previsto no Orçamento. De qualquer forma, mesmo com a promessa de Bolsonaro, de não mexer com os aposentados, é preciso que a sociedade civil fique de olho. Essas coisas costumam sumir e depois reaparecer. Ainda mais num governo que ganhou uma obsessão: a reeleição.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil