Por Estado de Minas
Prestes a completar 100 anos, celebrados no próximo dia 12, o Grupo Zema planeja criar dois centros de distribuição, em São Paulo e no Espírito Santo, para obter condições tributárias e logísticas melhores do que em Minas Gerais, revelou à reportagem do Estado de Minas o CEO do grupo, Romero, que é irmão do governador Romeu Zema (Novo).
“Infelizmente, no Brasil, devido à diversidade entre estados, a área tributária acaba estimulando a busca por novos estados onde a carga tributária seja menor. Então, nós já estamos estudando abrir dois novos pontos de distribuição, um no Espírito Santo e outro em São Paulo, para facilitar não só a logística como também uma vantagem tributária”, declarou.
Romero, no entanto, fez questão de distinguir a relação da empresa com a do governador, que por 26 anos ocupou o cargo de CEO. “Nós separamos 100% o Grupo Zema de quando o Romeu era acionista e de hoje, que ele é governador. Não abrimos a empresa hora nenhuma para conversas de candidatos e não abrimos hora nenhuma para o Romeu participar. É claro que temos pontos favoráveis e desfavoráveis aí, mas que não procuramos nem entrar no mérito da questão para não ter qualquer interferência. Definimos aqui no Grupo que não comentamos sobre política e não recebemos políticos na empresa”, ressaltou o executivo, que está no cargo desde 2019.
A decisão do grupo de investir em estados vizinhos é explicada, em parte, pela alíquota geral do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no Brasil, que é dividida em dois grupos. O primeiro inclui o Espírito Santo e todos os estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Para estes, na transação entre unidades federativas, é aplicada uma alíquota de 7% na origem. Já nos demais estados da Região Sudeste e no Sul, a retenção é de 12%.
“São Paulo é, praticamente, pela questão logística. Hoje, 80% do nosso faturamento se concentra no Sudeste e a partir do momento que você parte de São Paulo tem uma facilidade e uma agilidade maior para fazer a entrega. Já no Espírito Santo, a tributação é menor e chega a dar uma diferença em torno de 20% no preço final do produto. É claro que tem que agregar a distância, logística, frete, mas realmente acaba pesando”, afirmou o CEO.
Taxação
De acordo com Romero, a busca por alternativas tributárias é influenciada também pela não taxação de produtos importados. “O mercado de e-commerce e marketplace está passando por certas alterações. A gente vê o governo falando que vai taxar os produtos importados até US$ 50, que é uma concorrência externa de outros países que acabam sendo beneficiados devido à diferença da carga tributária e isso nos faz correr atrás de opções”, explicou.
Em 18 de abril, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recuou na proposta de tributar transações entre pessoas físicas de até US$ 50. A ideia do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), era coibir fraudes fiscais de importações em plataformas onde as empresas de comércio eletrônico colocavam indevidamente o nome de pessoas físicas como remetentes, com o intuito de escapar das taxa que pagariam enquanto pessoa jurídica.
“Diversos segmentos estão pagando caro por ainda não ter acontecido a reforma tributária. O governo está um pouco perdido nisso. Toma uma decisão, amanhã volta atrás. Aumenta a tributação de marketplace, depois retorna. Então, a gente fica perdido, sem saber para que lado ir. A gente tem que ter dois, três planos, para, dependendo do que acontecer, optar por um deles”, ponderou Romero. Segundo o executivo, outros fatores também afetaram a economia, como o aumento da taxa de juros e o impasse entre governo federal e Banco Central para que esta seja reduzida.
Americanas
Em janeiro, o mercado varejista brasileiro foi fortemente impactado pelo anúncio da Americanas S.A., que revelou uma inconsistência contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço e pediu uma tutela cautelar para evitar a antecipação de vencimento de dívidas que, segundo a companhia, somam R$ 40 bilhões.
“Para o varejo de eletrodoméstico foi outra coisa negativa, em um primeiro momento, porque nos bancos, onde a gente busca recurso para financiamento dos clientes, as taxas de juros automaticamente subiram. A gente deixa de ter recurso no mercado, ativo, devido à desconfiança excessiva. As seguradoras que asseguram o varejo perante os grandes fornecedores também elevaram as suas taxas e, consequentemente, o mercado de e-commerce acabou sentindo isso”, ponderou Romero.
Centenário
Prestes a completar 100 anos, o grupo continua inovando. Segundo Romero, o e-commerce já corresponde a 10% das vendas. Com 468 lojas e 5.100 funcionários diretos em seis estados, o grupo registrou um faturamento de R$ 2,2 bilhões em 2022, somando as cinco divisões atuais: Lojas Zema, Zema Financeira, Concessionárias, Zema Consórcio e Zema Seguros. A projeção para 2023 é de R$ 2,5 bilhões, com um crescimento entre 10% e 12%.
“Uma das coisas que permitiram ao grupo se superar em várias crises que passou foi justamente a diversificação que a gente possui. Já atuamos no ramo de combustível, de construção, já tivemos hotéis. Quando há uma crise, sempre tem um ramo melhor do que o outro. Na pandemia, por exemplo, a gente viu que vários segmentos tiveram crescimento enquanto que outros estão sofrendo até hoje”, avaliou Romero sobre o sucesso do Grupo Zema ao longo do último século.
Foto: Grupo Zema/Divulgação