Home Brasília “Havia vontade de golpe, mas Forças Armadas não queriam”, diz Múcio sobre 8/1

“Havia vontade de golpe, mas Forças Armadas não queriam”, diz Múcio sobre 8/1

5 de janeiro de 2024, 10h22 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

Ao falar sobre os atos terroristas promovidos por bolsonaristas nas sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro, durante entrevista ao jornal O Globo, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, admitiu a existência de uma inclinação golpista, porém ressaltou que os militares não aderiram à ideia. Ele também reconheceu que houve “erro” na condução do acampamento golpistas em frente ao QG do Exército.

Confira alguns trechos:

Onde o senhor estava quando soube dos ataques?

Preciso falar de como tudo começou. Não estava nos meus planos voltar para a política, mas não queria ser cúmplice do estado em que o Brasil vivia. No dia 5 de dezembro, eu cheguei em Brasília, conversei com o presidente e fui anunciado (ministro da Defesa). E começa aí o meu 8 de janeiro. Primeiro, tive uma dificuldade enorme de chegar aos comandantes (das Forças Armadas). Só consegui na segunda quinzena de dezembro. O comandante da Aeronáutica cumpriu a Constituição e saiu no dia correto. O da Marinha não me recebeu, mas saiu no dia correto. O comandante do Exército me disse que queria sair no dia 20, mas fiz um apelo, e ele saiu 30 de dezembro.

O sucesso do dia 1º de janeiro talvez tenha nos contaminado. Foi uma posse em que ninguém desafinou.

No dia 6 ou 7 de janeiro, o comandante do Exército disse que o movimento (em frente aos quartéis) estava enfraquecido. A inteligência tinha detectado uns ônibus, mas nada significativo. Combinamos que eles não entrariam no acampamento.

Acho que cometemos um erro. Não era para ter entrado nem os ônibus nem as pessoas que vinham neles, mas as pessoas entraram. No dia 8, estava almoçando com a minha mulher e uma pessoa que trabalha comigo. Foi quando avisaram que o povo estava descendo. Saí correndo do restaurante.

Como o senhor atuou nos bastidores para conter os atos?

Fomos ao Ministério da Defesa e, depois, para o da Justiça. Havia um ambiente já de confusão. Ficamos bem perto das pessoas.

Não havia um líder com quem negociar. Eram senhoras, crianças, rapazes, moças… Como se fosse um grande piquenique, um arrastão em direção à Praça dos Três Poderes. Foi um movimento de vândalos, financiados por empresários irresponsáveis. (…)

O senhor sugeriu ao presidente um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para que os militares controlassem a desordem nas ruas?

Alguém disse: “Olha, só com GLO para os soldados irem”. Eu não sugeri ao presidente, mas poderia ter sugerido. Era uma forma de o Exército ir para a rua e conter. Tínhamos 1.500 homens à disposição. Mas o presidente disse: “GLO não”. Havia um grupo que achava que, se houvesse GLO, os militares aproveitariam para materializar o golpe.

Mas havia esse risco?

Podia ser até que algumas pessoas da instituição quisessem, mas as Forças Armadas não queriam um golpe. É a história de um jogador indisciplinado em uma equipe de futebol: ele sai, a equipe continua. No final, me parecia que havia vontades, mas ninguém materializava porque não havia uma liderança.

Você pode dizer: “No governo anterior havia pessoas que desejavam o golpe”, mas não havia um líder que dissesse assim: “Nós queremos, eu sou o chefe, vamos”. Não existe revolução sem um chefe.

Há militares investigados por uma suposta participação em uma trama golpista…

Torço muito para que as investigações encontrem os culpados. Para as Forças Armadas, é fundamental, para que essa névoa de suspeição que paira sobre os militares se dissipe. Precisamos dos nomes, para puni-los. Isso é de interesse das Forças Armadas: dentro dos seus princípios e suas regras, punir os culpados. Agora, precisamos que a Justiça dê as provas e as ferramentas. (…)

Com informações do Diário do Centro do Mundo.
Foto: Cristiano Mariz.

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