Por Hoje em dia / Blog do Lindenberg
Há algumas coisas nesse conflito israelense que precisam ficar bem claras. De um lado, há um massacre do poderio aéreo-transportado das forças de Israel contra a população civil, palestinos sobretudo, o que foi enfatizado, nessa sexta-feira, por conta de uma ordem das tropas israelenses que deram 24 horas para que o Hamas, o grupo armado que governa Gaza, deixe o território.
Funcionários das Nações Unidas em Gaza “foram informados por seus oficiais de ligação no exército israelense de que toda a população ao norte de Gaza deve se mudar para o sul nas próximas 24 horas”, disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric. Em resposta, a autoridade do Hamas para assuntos dos refugiados do norte disse para que “permaneçam firmes em suas casas e permaneçam firmes diante dessa guerra psicológica repugnante travada pela ocupação”. Ou seja, o Hamas considera que Israel pratica um terrorismo de Estado, embora um repórter da Al Jazeera na cidade de Gaza tenha visto os moradores arrumando todos os seus pertences para começarem a evacuar a cidade em direção ao sul em carros, vans e qualquer outro veículo que estivesse disponível. Muitos se deslocavam a pé.
Na verdade, o pânico se estabeleceu em Gaza, diante da ordem do Exército de Israel. “Até agora as pessoas acreditam que esta é uma espécie de guerra psicológica, não querem acreditar”, disse o repórter da Al Jazeera, diante de um bloqueio já devastado por 16 anos de ocupação paralisante. De fato, ninguém entra ou sai de Gaza sem ordens expressas das tropas israelenses, acrescentando o repórter que, “em termos práticos, mais de um milhão de pessoas não têm para onde ir”, situação que lembra a catástrofe de 1948 – o êxodo em massa de pelo menos 750 mil árabes da Palestina – o território reclamado tanto por Israel quanto pelos palestinos.
O fato é que a ordem dada por Israel, de que todos os palestinos devem sair para o sul, criou um pânico na população civil. “A ordem dada para a população civil é uma sentença de morte para os palestinos ou não palestinos”, que só reclamam um pedaço de chão para chamar de seu. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem hoje na presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas um embaixador de carreira, pede que se abra um corredor humanitário para que as pessoas possam sair com o mínimo de segurança diante da ordem do Exército de Ocupação de Israel.
O presidente Lula insiste na necessidade de um corredor humanitário em meio à guerra, já tendo conversado com o presidente de Israel, Isaac Herzog, apelando para a necessidade de um corredor humanitário que permita aos civis deixarem Gaza rumo ao Egito. Segundo o presidente do Brasil, “não é possível que os inocentes sejam vítimas da insanidade daqueles que querem a guerra, alguns até por problemas internos. Pedi ao presidente Herzog todas as iniciativas possíveis para que não faltem água, luz e remédios em hospitais. É a população civil que sofre as consequências dessa insanidade”, disse o presidente Lula nessa sexta-feira, além de ter feito ao presidente de Israel uma condenação aos ataques terroristas. Pelas redes sociais, Lula pediu ainda ao Hamas que liberte as crianças israelenses que foram feitas reféns e a Israel que cesse os bombardeios para que crianças palestinas e suas mães deixem Gaza.
Na opinião dos analistas, o tempo está passando para o primeiro-ministro Netanyahu enquanto o conflito com o Hamas se intensifica. Para os analistas, ainda não há certezas de como mais de mil integrantes do Hamas conseguiram atacar Israel de forma tão fortuita, devastadora e mortal, assassinando – como escreveu o presidente Herzog – mais judeus em um dia do que em qualquer momento do Holocausto.
Enquanto isso, aqui, na cidade administrativa, o governador Romeu Zema ilumina as cores da bandeira de Israel sobre um dos prédios, o auditório JK, numa falta do que fazer, até porque trata-se neste momento de uma zona de conflito, em que não há vencidos nem vencedores. Mas essa inclinação de Zema faz demonstrar o seu apreço por Israel, numa rara demonstração de afeto, e também de torcida pelo seu lado reconhecidamente bolsonarista.
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