Por Hoje em dia / Blog do Lindenberg – Carlos Lindenberg
Pronto, voltou a embolar a retirada dos brasileiros da Faixa de Gaza. Ontem, o ministro Mauro Veira, das Relações Exteriores, voltou a afirmar que não tem notícia de quando os 34 brasileiros deixarão Gaza, uma área dominada politicamente pelo Hamas. Segundo o chanceler, para isso acontecer é preciso que Israel inclua o nome das pessoas em uma lista e só assim se saberá quem vai embarcar ou não. Ora, nesse meio tempo não se saberá quem vai embarcar ou não no avião da Presidência da República que está estacionado na fronteira entre Gaza e o Egito, mais precisamente em Rafah.
Ora na última quinta-feira, a CNN Brasil anunciou que Israel permitiria a saída dos 34 brasileiros que esperam em Rafah, um povoado, situado entre o Egito e a faixa de Gaza. Mas hoje o próprio chanceler brasileiro se assustou com a notícia de que nem ele pode dizer que o grupo de brasileiros estaria em condições de fazer o translado. Ora, se o chanceler não sabe, quem saberia? Ao mesmo tempo, no Rio de Janeiro ou em Brasília, o presidente Lula estaria a postos para receber os expatriados. O que se dizia ontem é que ninguém sabe o que poderá acontecer com os 34 brasileiros que esperam sair pelo Egito a qualquer custo – incluindo a própria vida, tais os bombardeios que se ouve na faixa de Gaza. ” A situação em Gaza não me permite dizer se será hoje ou amanhã ou quando. É uma situação conflagrada e são inúmeras as questões para a reabertura da fronteira com Gaza e o Egito. O fato é que a fronteira foi de novo fechada nessa sexta-feira”.
Com isso, o chanceler brasileiro ficou sem ação, na expectativa de novos entendimentos tanto em Rafah quanto do lado israelense que voltou a destruir hospitais, como fez ontem. Na verdade, o embaixador creditado no Brasil, Daniel Zonshine, disse que muitas vezes nem é Israel que faz a lista de pessoas autorizadas a deixar a faixa de Gaza. “Tem cota diária, que não é feita por Israel. Às vezes o Hamas não permite a saída de pessoas por razões deles. Tem americanos que ainda estão em Israel”, disse o embaixador.
Nesta semana, a Polícia Federal deflagrou operação para prender pessoas ligadas ao Hezbollah que estariam planejando ataques contra prédios da comunidade judaica no Brasil. Em 2016, a PF também foi firme e prendeu no Brasil pessoas ligados ao grupo extremista libanês, Na época foi até engraçado porque um dos presos foi Israel Pedra Mesquita – um simples criador de galinhas no interior Rio Grande do Sul conectado ao temível Hezbollah?
Não menos severa foi a advertência do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, que elevou o tom ao desembarcar na Índia expressando preocupação com o grande número de palestinos mortos no conflito em andamento na Faixa de Gaza. Após a recusa de Israel em aprovar uma pausa humanitária de três dias, até para que os palestinos enterrem seus mortos – há um cheiro de carne podre em quase toda a região – Blinken afirmou que ” já morreram palestinos demais nessa guerra”.
Por fim, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, se atrapalhou, na quarta-feira, ao dizer que não convidou Jair Bolsonaro para uma reunião que realizou no dia oito – quarta-feira. No dia seguinte ao evento, a Embaixada de Israel divulgou uma nota dizendo que Bolsonaro não estava na lista de convidados e que sua presença teria “ocorrido de forma fortuita”. O que não era verdade, pois uma placa devidamente enquadrada por um fotógrafo assinalava a presença do ex-presidente entre os convidados. Ou seja, o que há de mentiras nesse conflito do Oriente Médio não está no gibi – para usar uma linguagem também fortuita. Vale, no entanto, a advertência do secretário Antony Blinken: – Já morreram palestinos demais nessa guerra.