Home Brasil Le Monde: “Primeiro ano de Lula tem resultados encorajadores”

Le Monde: “Primeiro ano de Lula tem resultados encorajadores”

6 de janeiro de 2024, 22h28 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

O Le Monde, jornal de maior referência na França, publica neste sábado um balanço positivo do primeiro ano do governo Lula 3.

“No Brasil, para Lula, um primeiro ano com resultados encorajadores mas frágeis”, diz a manchete da análise de Bruno Meyerfeld.

“O crescimento e o emprego estão melhores do que o previsto e o desmatamento desacelera na Amazônia. Mas o país permanece dividido e o presidente deve compor com um Congresso que permanece dominado pela oposiçao”.

“A vontade, confiante e até mesmo radiante, Luiz Inácio Lula da Silva se dirigiu ao povo brasileiro dia 24 de dezembro de 2023 para seu tradicional discurso de natal”, considera o correspondente no Brasil.

“Lula, o ‘jardineiro’, está otimista sobre sua colheita e, num primeiro momento, tem razao de estar.De volta ao poder depois de um eleição presidencial vencida por pouco contra Jair Bolsonaro, num país que sai desorientado, traumatizado pelas destruições do dia 8 de janeiro de 2023 das instituições de Brasília, o dirigente de esquerda pode se vangloriar dos primeiros resultados encorajadores, fato que díspares mas portadores de algumas esperanças”.

“Em um ano, o salário mínimo foi reajustado em 16,5 % (mais do que a inflação) e os investimentos foram retomados. Trezentos bilhões de euros foram descongelados por quatro anos num vasto plano centrado no desenvolvimento de infraestruturas”, relata.

“O presidente brasileiro deu estímulos a mercados que ele sabe hostis ao Partido dos Trabalhadores. Um novo arcabouço fiscal limita o aumento das despesas públicas a 70% do aumento das receitas do Estado. Meados de dezembro, uma simplificação inédita dos impostos sobre o consumo foi votada pelo Congresso, uma incitação a investir num Brasil dotado de um sistema de impostos bizantino”, avalia.

“Entre estímulo e ortodoxia, esta primeira ‘mução’ deu frutos. O PIB cresceu em mais de 3% este ano, acima das previsões dos economistas. O nível de desemprego (7,5 %) é o mais baixo desde 2014, o preço dos alimentos está em queda e as Bolsas estão em festa: o índice Bovespa de Sao Paulo atingiu níveis nunca vistos, com 134.000 pontos, e agência Standard & Poor’s elevou a nota do Brasil de BB- para BB.”

“Além disso, o governo fez questão de se diferenciar da era Bolsonaro. Na Amazônia, os resultados foram rápidos: o desmatamento caiu pela metade em 2023 em relação a 2022, com pouco mais de 5.000 quilômetros quadrados destruídos, segundo os primeiros dados da agência espacial brasileira. O executivo retomou a luta contra a fome, restabeleceu as restrições à venda de armas de fogo, multiplicou por dez as multas em caso de não respeito da igualdade salarial entre mulheres e homens”, enumera.

“De fato, seria difícil fazer pior nesse âmbito do que Jair Bolsonaro. Mas há de se reconhecer que um ‘efeito Lula’ existe mesmo. Orador fora da série e bom negociador, o dirigente de esquerda é uma vantagem para seu país, popular e cortejado, erguido como um porta-voz do ‘Sul global’. O ex-metalúrgico confirmou sua estatura de estadista. Prova disso é sua atitude no dia seguinte aos distúrbios de 8 de janeiro: recusando qualquer instrumentalização, ele escolheu a unidade e a pacificação, evitando novas violências a seu país exausto”.

A análise da publicação também pondera os bons resultados. “A taxa de aprovação estagna em 38% segundo o instituto Datafolha, muito longe do 87% de popularidade que concluiu seus dois primeiros mandatos no poder”.

“O Brasil permanece rasgado e elétrico, como mostra uma cena de 20 de dezembro. Presente no Congresso para promulgar sua reforma fiscal, Lula se depara com uma Assembleia tormentosa. Uma parte dos deputados bolsonaristas canta o hino nacional de costas ao presidente. Um deputado do PT, Washington Quaquá, estapeia um eleito da oposiçao”.

“O poder vivenciou diversos reveses, em particular na área ambiental, com principalmente a adoção no final de dezembro pelo Congresso da lei do marco temporal, que limita drasticamente a homologação de novas terras indígenas, apesar da oposição do STF. Emparedado, Lula teve de compor uma aliança com diversos partidos de direita e ele fez entrar em setembro dois ministros conservadores no governo”.

“A manobra chocou, ou até mesmo irritou, a esquerda, que lhe critica sua falta de consideração pelas questões de gênero e diversidade. Lula, que havia triunfalmente subido a rampa do Palácio do Planalto no dia de sua posse ao lado de vários membros da sociedade, só nomeou 23% de mulheres ao governo. O presidente brasileiro recusou-se a indicar uma jurista negra ao STF, que só conta com uma mulher dentre dez homens”, critica.

“Inclusive, o pequeno ‘milagre’ econômico é frágil e poderia ser de curta duração. As previsões de crescimento para 2024 são médias (+ 1,8 % segundo a OCDE) e o ministro da Fazenda Fernando Haddad prepara o país com mais rigor. Ele deu um objetivo estrito de “zero déficit” para 2024, para o desapontamento dos partidos de esquerda”, observa.

“Violências policiais, desigualdades, aborto ou reforma das instituiçoes: os canteiros a trabalhar nao faltam no Brasil. Mas o ‘grande pai da nação’ está pronto para colocar em jogo sua popularidade para conduzir essas reformas arriscadas? No topo de sua glória, em 2010, ele não havia se arriscado a”.

“A considerar os mais próximos dele, Lula sonha mais com um franco sucesso diplomático. Mas qual? Sua proximidade com Vladimir Putin colocou-o fora de jogo sobre a Ucrânia, o Brasil nao é uma potência que conta no Oriente Médio e o sonho de relançar a integração a política sul-americana foi arranhada com a vitória do populista de extrema direita Javier Milei na Argentina e o conflito entre Guiana e Venezuela. O peso do Brasil se reduziu nos BRICS, dominados por Pequim e já ampliados para onze membros”.

A análise da publicação indica um país que volta a bombar sob Lula. Suas ponderações sobre os limites do governo talvez façam sentido, e certamente o fazem em questões como a do gênero.

Mas será o caso para suas críticas à situação política do Brasil no mundo? Ou refletem mais um incômodo de seus interlocutores, os franceses, que parecem não só contar cada vez menos no mundo, mas suscitar cada vez mais hostilidade?

Sobretudo com a falta de liderança que lhes governa, uma figura patética e detestada como Emmanuel Macron, que delira ser um novo Napoleão. E que, a cada passo no exterior, constata a irrelevância de seus sonhos.

Uns sonham, mas parecem caminhar na direção do mundo. Outros deliram, dando marcha à ré.

Com informações do Diário do Centro do Mundo.
Foto: Reprodução.

LEIA TAMBÉM

Envie seu comentário