Em entrevista à Folha de S.Paulo, publicada nesta segunda-feira (20), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que não investiu mais recursos na prevenção de desastres porque “o governo também vive outras agendas” e que a pauta “que se impunha era a questão fiscal”:
(…) Temos os números oficiais de óbitos, mas há receio de que possa haver mais mortos do que os dados indicam. O dado, de fato, pode ser somado ao de desaparecidos?
Ainda é prematuro para dizer. Potencialmente, cada desaparecido poderá ser uma vida perdida, mas é um dado que ainda precisa ser apurado.
Desde o início, quando a gente contabilizava, nos primeiros dias, 27, 30 mortes, eu já dizia, “infelizmente será muito maior”. Entendo a imprensa, a sociedade querer saber desses números, mas qualquer número que sair agora é absolutamente impreciso diante de uma situação que a gente está observando. (…)
Ambientalistas criticam mudanças sancionadas pelo senhor em 2020 em cerca de 480 normas ambientais. Isso pode ter relação com a tragédia vivida no estado?
Sobre as 480 mudanças na legislação, na forma como se apresenta essa afirmação, ela naturalmente tenta induzir de que o que nós estamos vivendo no Rio Grande do Sul se relaciona a uma mudança legislativa de 2019, o que é absurdamente equivocado, para dizer o mínimo.
Além disso, sequer analisa o que está dentro dessas alterações. Nós temos ali, por exemplo, a mudança de protocolo que era exigido ser em meio físico para poder ser feito por meio virtual.
Tem outros vários pontos que são relacionados à correção de multas para infratores, que não havia previsão legal. Nós botamos correção de valores porque senão ele ganha dinheiro em cima da postergação, para ser mais dura a pena para o infrator.
Mas também simplesmente burocratizar e dificultar licenças não é proteger o meio ambiente. Acabaram com a legislação ambiental? Não, aprimoramos, modernizamos, ajustamos e até endurecemos em muitos pontos.
Estudos já apontavam a possibilidade de aumento significativo nas chuvas no RS. O governo do estado se preparou mal para lidar com as enchentes?
Bom, você tem esses estudos, eles de alguma forma alertam, mas o governo também vive outras pautas e agendas. A gente entra aqui no governo e o estado estava sem conseguir pagar salário, sem conseguir pagar hospitais, sem conseguir pagar os municípios.
A agenda que se impunha ao estado era aquela especialmente aquela vinculada ao restabelecimento da capacidade fiscal do estado para poder trabalhar nas pautas básicas de prestação de serviços à sociedade gaúcha.
Cumprimos essa tarefa, porque agora estamos diante dessa crise enorme com capacidade fiscal para enfrentá-la. Então, alertas que estejam sendo feitos são ouvidos, mas eles se deparam com uma situação agora absurdamente crítica que naturalmente vai dar para eles um outro grau de importância, não apenas aos olhos do governo, mas da sociedade como um todo.
Esses alertas deveriam ter sido mais ouvidos?
Muitos alertas se revelam agora especialmente relevantes. Muitos alertas foram feitos e não se consumaram também. Então, naturalmente, vamos estruturar o poder público para que a gente possa receber esses alertas, tentar depurar o que é crítico, o que não é tão assim. Não é o governante de plantão sozinho que vai conseguir fazer isso.
Até por isso o Comitê Científico de Adaptação e Resiliência, para nos ajudar a entender. Já recebi alertas que não se revelaram. Agora mesmo na crise, fizemos alerta numa determinada quarta-feira que teriam vendavais e temporais e não se confirmou. Então, eventualmente, os alertas também não se confirmam.
A gente está buscando fazer a adaptação e essa situação crítica que a gente está enfrentando agora impõe ao governo e à sociedade uma nova postura, sem dúvida nenhuma, diante dos alertas.
Com informações do Diário do Centro do Mundo.
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