Por Hoje em Dia / Blog do Lindenberg
Enquanto o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é aguardado no Egito sob grande expectativa, até porque viaja como chefe de Estado, por força da ausência do presidente Jair Bolsonaro (PL) – mas não só por isso –, no Brasil o que se ouve é um chamamento com ônibus ofertados de graça para que parte da população se dirija a Brasília, neste feriado, para reforçar os atos antidemocráticos em frente ao QG do Exército, onde apoiadores do presidente da República pedem a intervenção das Forças Armadas contra o resultado das eleições, já proclamado inclusive.
Os jornais já identificaram caravanas saindo de nada menos que oito cidades como Guarulhos (SP), Cuiabá (MT), Sinop (MT), Rondonópolis (MT), Carmo do Paranaíba (MG), Ipatinga (MG), Videira (SC) e Goiânia (GO). Nem todos confirmam o destino e alguns até dizem que a viagem foi cancelada, em mais um golpe que se arma contra a democracia, onde a palavra de ordem é que “lá está nosso inimigo”, numa clara desavença com o Supremo Tribunal Federal (STF), a despeito de o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, ter afirmado que “isso é coisa do passado”.
Mas o que se estranha, num momento tenso como esse, é que nem o presidente Jair Bolsonaro manda que se desocupem as praças e ruas – como no caso da avenida Raja Gabaglia, em BH – como o próprio Exército não põe em ação a sua Polícia Especial para a desocupação das vias, ao contrário do TSE que multa em R$ 100,00 por dia os que obstruem as rodovias, até mesmo com o uso da Polícia Militar dos estados, embora na semana passada essa ordem não tenha sido cumprida pelas tropas do governador Romeu Zema, cuja camionete, na entrada de Ouro Fino, fez vistas grossas para duas senhoras que iriam para o trabalho.
Privatizações
Zema agora, no entanto, está com receio de que na troca de governo não seja viável a privatização da CBTU-Minas, que opera o metrô de Belo Horizonte. Parlamentares da base de apoio ao presidente Lula, entre eles o deputado Rogério Correia (PT) e o senador Alexandre Silveira (PSD), são contra e fazem campanha contra leilão marcado para o final do ano.
O que parece é que, na campanha, o presidente eleito prometeu rentabilizar o metrô de Belo Horizonte, bem como concluir rodovias como a BR-381. O mesmo ocorre com a Ceasa-Minas também na marca do pênalti para ser entregue ao meio chamado de Mercado Livre do Produtor.
Mas se depender do deputado Rogério Correia e do senador Alexandre Silveira, a privatização não sai porque ambos acham que têm alternativas para a capitalização dessas obras.
Enquanto Lula desembarca sob grande expectativa no Egito para participar da conferência do clima, com mais de dez encontros bilaterais, nos Estados Unidos ministros da Suprema Corte são alvo de ataques verbais de manifestantes que não aceitam a alternância de poder e contestam a vitória do ex-presidente.
“O meio político reconheceu rapidamente o resultado das eleições”, disse o ministro Gilmar Mendes nessa segunda-feira. “Protestos e demonstração de inconformismo são normais. Agressão não encontra abrigo na Constituição, muito menos a defesa da ditadura”, afirmou o ministro que, junto com o ex-presidente Michel Temer, foi alvo de hostilidades de alguns manifestantes, embora um deles tenha corrido do ministro Alexandre de Moraes que se levantou para confrontá-lo.
Mas não deixa de ser curioso, entretanto, que nem o Exército faz questão de desocupar a praça onde está o seu QG, tomado por vendedores de camisas falsificadas da Seleção Brasileira, quando não enrolados na própria bandeira, como não faz a menor menção de livrar os baderneiros que ocupam tanto o Quartel-General do Exército, em Brasília, ou a frente da Quarta DE, na avenida Raja Gabaglia.
Aliás, é de Alexandre Moraes a frase: “sob o manto da liberdade de expressão, atacam a democracia”, que, aliás, foi premiado na semana passada pela Câmara dos Deputados pela sua “gestão transparente e eficiente”. A oposição não gostou.
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