O levantamento do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Economia da UFMG projeta que o pico do número de infecções por coronavírus em Minas Gerais deve acontecer entre 6 e 20 de maio. Inicialmente, a expectativa era de que os casos oficiais disparassem entre 27 de abril e 11 de maio. Com a nova previsão, foi concluído que a mudança na data estipulada é um resultado das medidas de isolamento social adotadas no estado, o que ajuda a “achatar a curva” e evita que o sistema de saúde fique sobrecarregado.
Com 853 municípios e dimensão territorial superior a de países como Espanha, Itália e Alemanha, Minas Gerais tem na distância entre cidades de menor porte e polos urbanos mais bem equipados um fator que pode dificultar as ações de combate à pandemia do novo coronavírus. O estudo acredita que 4,78% da população mineira terá sido contaminada no pico da curva de infecção.
A nota técnica foi publicada nesta semana por pesquisadores do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), vinculado à Faculdade de Ciências Econômicas (Face), do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais e da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão de Belo Horizonte mostra que nas regiões onde há pouca oferta de leitos e respiradores, os pacientes que desenvolverem quadros graves da doença precisarão ser encaminhados para cidades próximas que ofereçam o tratamento.
“No caso de alguns municípios, a distância que os pacientes terão de percorrer pode ser elevada. Segundo diretrizes definidas pelo Estado, quando a distância média a ser percorrida for superior a 200 quilômetros, a oferta de transporte via Suporte Aéreo Avançado de Vida ou UTI móvel será organizada conforme a necessidade. Municípios com esse perfil correspondem a 9% do total do estado e estão em sua maior parte localizados na macrorregião Nordeste”, destaca uma das autoras do estudo, a professora Kenya Noronha, do Cedeplar.
Kenya afirma que a Secretaria Estadual de Saúde mantém uma central de regulação que desempenhará papel importante no gerenciamento de oferta e demanda de leitos, o que possibilitará o transporte dos pacientes em tempo hábil. “Devido à rapidez de evolução dos casos graves é fundamental que a Secretaria organize a lógica do encaminhamento para evitar tempo de espera que pode levar pacientes ao óbito”, alerta a pesquisadora.
De acordo com o estudo, a maior quantidade de casos da Covid-19 está concentrada nas macrorregiões Centro e Sudeste, que têm oferta mais organizada de equipamentos de saúde. Kenya Noronha reforça a importância de atuação do poder público com medidas restritivas que contribuam para a contenção da transmissão do vírus para as regiões onde a estrutura de saúde é mais precária. “Minas Gerais tem uma janela de oportunidade importante. Esse quadro dá aos gestores um período maior para organização da oferta”, avalia.
Capacidade comprometida
Com base na oferta de leitos de hospitais, leitos UTIs e ventiladores mecânicos, o grupo avaliou a capacidade de atendimento em Minas Gerais de quadros graves da Covid-19. Segundo o estudo, a situação em Minas Gerais pouco difere do quadro nacional. Se a taxa de infecção de 1% da população for alcançada em um mês, nenhuma macrorregião do Estado conseguiria atender a demanda dos casos graves da doença, considerando a oferta existente em dezembro de 2019. Os pesquisadores alertam para uma grande possibilidade de aumento das taxas de infecção, caso estratégias mais rígidas de contenção da transmissão do novo coronavírus não sejam adotadas.
“Com a mesma taxa de infecção, em três meses, 12 das 14 macrorregiões de Minas Gerais teriam sua capacidade de atendimento comprometida se nenhuma política de expansão da oferta de leito UTI for realizada”, afirma Kenya Noronha.
Mesmo no melhor cenário, em que a taxa de infecção da população for de 1% em seis meses, 36% das macrorregiões de saúde estaduais já estariam comprometidas. Se a taxa de infecção atingir 10% em 12 meses, todas as microrregiões seriam sobrecarregadas.
De acordo com Kenya, outro gargalo é a carência de profissionais de saúde capacitados e de suprimentos médicos necessários para garantir a segurança do atendimento. “Essa análise é fundamental, pois, sem esses recursos, o atendimento dos pacientes com o coronavírus pode ficar comprometido. Infelizmente, ainda não temos dados disponíveis mais atualizados para realizar esse mapeamento no Estado”, ressalta a professora.
A situação da oferta de leitos gerais, porém, é menos crítica em Minas, indica o estudo. Quando a taxa de infecção da população pela Covid-19 chegar a 1% em um mês, 36% das microrregiões de saúde estariam operando além de sua capacidade. A maioria delas está localizada na macrorregião Norte. Se a mesma taxa for alcançada em um tempo maior – seis meses –, apenas duas microrregiões seriam sobrecarregadas (João Pinheiro e Ipatinga).
A nota técnica é uma continuação dos estudos de avaliação de demanda e oferta do sistema de saúde em relação à pressão adicional exercida pelo avanço da pandemia. O primeiro relatório foi publicado no fim de março e trazia a análise do cenário nacional.
De acordo com o estudo, a expectativa era de que, até o fim de abril, o sistema de saúde poderia entrar em colapso, com 53% das microrregiões de saúde operando além de sua capacidade, caso a infecção atingisse 1% da população em cada uma delas.
Foto: Alex de Jesus/O Tempo