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Manifestação fraca mostra que a direita não tem força para ir às ruas Comentário da Noite

12 de setembro de 2021, 21h36 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Não foram muitos, mas mesmo assim, a manifestação do MBL e do Vem pra Rua fez barulho neste fim de semana em diversas capitais do país. E até agora não sei se a esquerda fez bem ou mal em não ter ido às ruas também para pedir o “fora Bolsonaro”, já o presidente de alguma forma é o, digamos, inimigo comum tanto da direita como da esquerda. Da direita porque a atuação dele atrapalha o projeto de mercado que vem sendo posto em prática pelo governo Bolsonaro- um desastre total.

Da esquerda porque o governo tem sido responsabilizado pelo impeachment da presidente Dilma, em colaboração com o PSDB de Aécio Neves e a efetiva participação de Michel Temer – que novamente entrou em cena nesta semana ao redigir a carta de trégua entre Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal – de maneira que ainda não tenho clareza, admito, se a esquerda deveria ou não ter participado da manifestação, da qual participaram entre outros Ciro Gomes, a senadora Simone Tebet e o ex-presidente do Partido Novo, João Amoedo. O raciocínio inicial seria o seguinte: se Bolsonaro infelicita o país, como diz a oposição, e se ele seria o inimigo número um a ser derrotado, por que a esquerda se omitiu ontem? Ah, está bem. Quem infelicita o país é o neoliberalismo e ele estaria sendo imposto a todos pelo presidente Jair Bolsonaro.

Mas já houve momentos, registrados pela história política do país, em que se formou uma grande frente, com liberais e tudo o mais, para enfrentar a ditadura militar. Lembram do Diretas-Já? E o que era esse movimento senão uma frente ampla, com Tancredo, Arraes, Leonel Brizola, para ficar nesses, com o objetivo de derrubar a ditatura de 64? É claro que nem todos os gatos eram pardos, tanto que depois Brizola esteve contra Lula, numa disputa em que acabou ganhando, ao final, o hoje senador Fernando Collor de Mello, atual simpatizante do presidente Bolsonaro.

De forma que se houve barulho ontem nas ruas é porque, de fato, a esquerda esteve rachada ou simplesmente não apareceu. E talvez quem melhor tenha definido a manifestação de ontem foi o deputado federal Alexandre Frota, um ex-seguidor de Bolsonaro. A definição seria essa: acho difícil trazer a esquerda para a rua falando “nem Lula nem Bolsonaro”. E o que se viu foi que, sem a esquerda na rua, o presidente Jair Bolsonaro fica numa situação mais confortável, a despeito das turbulências que vem criando – aliás foi elogiado ontem pelo ex-presidente Donald Trump.

Hoje no PSDB, Alexandre Frota esteve na avenida paulista ontem com uma faixa “fora Bolsonaro” na mão, mas se mantém descrente de que um pedido de impeachment possa prosperar na Câmara dominada pelo centrão de Arthur Lira.

O resultado mais conclusivo do que se viu nas manifestações desse domingo, no entanto, não estava no pequeno grupo que saiu às ruas. Na verdade, é um sujeito oculto: se esse grupo que estava nas ruas ainda está disposto a encontrar uma terceira via na eleição do ano que vem, pode desistir. Simplesmente não haverá terceira via, mesmo com as cartas de Michel Temer, com o bom desempenho do senador Rodrigo Pacheco à frente do Senado – sua recusa em receber a denúncia contra o ministro Alexandre de Moraes pode não ter feito muito barulho, mas estourou onde deveria estourar. E aí não custa lembrar a avaliação do deputado Alexandre Frota: – querer trazer a esquerda pra rua falando “nem Lula nem Bolsonaro” é não querer a contribuição da esquerda.

 

Foto: divulgação /Facebook

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