As manifestações de policiais e das forças de segurança do Estado na manhã desta segunda-feira fazem lembrar o episódio que de certa feita marcou a administração do governo Eduardo Azeredo e em que morreu o cabo PM, Valério, que tomou um tiro de um soldado descontrolado no momento em que Valério se ombreava com os seus companheiros que tentavam impedir a invasão do quartel-geral da PMMG – isso em 1997.
Tudo começou com uma assembleia-geral da PM, à qual se juntou depois parte da Polícia Civil, no parque da Gameleira. Eu tinha informações de que a marcha iniciada na Gameleira iria bater na Praça da Liberdade, onde está o vetusto Palácio da Liberdade, símbolo do poder civil em Minas Gerais. No meio dessa manifestação, em 1997, eu fiquei sabendo de fontes militares que “alguém” poderia morrer se houvesse reação, até porque o governo estava trazendo reforços do interior, não obstante uma companhia do Exército haver ocupado os Palácios da Liberdade e dos Despachos – onde hoje funciona a Fundação Fiat.
O problema – como ainda hoje – era a questão salarial. Os coronéis achavam que ganhavam pouco e queriam equiparação com os delegados de Polícia, que, por decisão judicial também passaram a receber os mesmos proventos de procuradores do Estado. O governador Eduardo Azeredo não foi contra o aumento, tanto que mandou um de seus secretários negociar o aumento que, no entanto, impactava sobremaneira a folha do pessoal. Mas estava armado o estopim, com um agravante: um coronel da PM passou para o governador a informação – falsa – de que no governo Newton Cardoso teria havido uma greve de oficiais ocorrida no governo Newton Cardoso. A informação, que está no livro recém-editado de Eduardo Azeredo, é falsa. Não houve no governo Newton Cardoso nenhuma greve da PM, a despeito de alguns oficiais mais exaltados que queriam comparação salarial com os coronéis do Exército. Eu estava no governo e acompanhei toda a movimentação, até mesmo quando, ao atender a uma ligação, o governador Newton Cardoso disse para o “gabinete de crise” que o então comandante Coronel Braga havia perdido o comando e imediatamente chamou seu chefe da Casa Militar, coronel Sebastião, para trazer o “almanaque”, onde fica a relação dos possíveis novos comandantes da PMMG.
Newton passou os olhos no “almanaque”, praticamente não reconheceu ninguém, mas foi orientado pelo seu assistente militar, coronel Sebastião, a escolher o coronel José Dias, que foi logo convocado ao Palácio das Mangabeiras. Ao chegar, o novo comandante, foi informado que o coronel Braga já não tinha o comando da PM e se ele aceitava a missão. O coronel aceitou, mas pediu que o governador Newton Cardoso fizesse uma política de distensão porque o momento exigia um movimento nesse sentido. Newton concordou e dias depois, na minha companhia e na do coronel José Dias, mais a do coronel Sebastião, fomos ao QG da PM onde estava reunido o Estado-Maior da PM. Lá um coronel mais exaltado tentou tocar no assunto do aumento, sendo atalhado pelo coronel Dias, já empossado no comando da PM, que ponderou que aquele não era o momento para levantar problemas que seriam superados. É de lembrar que o então comandante do Exército em Belo Horizonte, em plena crise, à noite, foi ao Mangabeiras – que Zema arrendou para a Casa Cor – para dizer que assumiria o comando da PM, sendo dispensado do esforço pelo governador Newton Cardoso que se manteve firme e em nenhum momento receou qualquer tipo de rebelião da PM ou de seus oficiais. Pelo menos três testemunhas acompanharam todo esse episódio, os então ajudantes de ordem, depois coronéis, Rúbio e Antônio Luiz, além do procurador Gamaliel Herval.
Foto: Sargento Rodrigues/Arquivo Pessoal
1 comentário
O seu comentário praticamente esgota o assunto da greve das policias civil e militar, reivindicando a correção de 12 % nos seus salários , Curioso é o ¨fato¨ ocorrido no governo Newton Cardoso um fake `a antiga .