Por G1
Pouco mais de um mês após Minas Gerais chegar ao “platô” da pandemia, a circulação e a infecção pelo coronavírus ainda não estão em um patamar confortável, alertam especialistas. Nos últimos 15 dias, o estado registrou o segundo maior número de mortes provocadas pela Covid-19 no Brasil: 1.183. Os mineiros ficaram atrás apenas dos paulistas em relação a vidas perdidas pela doença. O estado vizinho teve 3.544 óbitos no mesmo período. Os dados são do Consórcio da Imprensa.
Apesar de Minas estar no topo deste ranking, nesta terça-feira (18), o secretário de Estado de Saúde Carlos Eduardo Amaral mostrou otimismo em relação à redução do número de óbitos.
“De uma forma geral, nós vemos que os óbitos, baseados na data do óbito constatado, estão realmente com uma tendência a equilíbrio. O máximo que nós tivemos até agora foi em torno de 80 óbitos diários, isso já em meados de julho, e nós estamos vendo uma tendência a um início de uma queda. Porque ainda está um pouco precoce nós definirmos isso, mas parece claro que parou de haver um incremento no número de óbitos”, disse ele em entrevista coletiva.
A hipótese é contestada pelo professor de matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ricardo Takahashi, que lidera estudos referentes à evolução da Covid-19. As projeções apontam que há tendência de oscilação em torno dos números atuais, sem previsão para queda.
“Minas tende a oscilar em torno deste número atual. Vai demorar a cair número de óbitos. Mas não tende a disparar”.
Em relação a casos confirmados no mesmo período, Minas Gerais é o terceiro colocado, com 41.529 novos registros, atrás da Bahia, com 45.453 e São Paulo, com 145.212. Segundo Takahashi, os números do estado podem ser piores, já que a testagem é baixa. “É dificílimo comparar a situação de Minas com outros estados, porque cada um tem um protocolo para testes e aqui se testa pouco.”
Para o pesquisador, a pandemia pode sinalizar certa estabilidade, mas os números, que permanecem elevados, sinalizam que o “platô” será mais duradouro no estado do que estimado, especialmente por causa do protocolo adotado pelas prefeituras em relação à abertura ou ao fechamento do comércio.
“Em Minas, teve um lado positivo, que a situação não chegou a ficar descontrolada, não teve a catástrofe de hospitais hiperlotados. Mas isso causa, como efeito colateral, um platô mais duradouro que outros lugares. É um platô que demora a cair. Se permanecer nesta lógica de abrir comércio, deixar funcionando mais ou menos normalmente e, quando os índices começam a subir e chegam perto do limite, fechar de novo, acaba sendo um ciclo que tende a permanecer. É um ciclo que a gente não pode dizer que está fora do controle. Está sob controle. Mas será assim por meses”.
O epidemiologista Stefan Vilges, que atua no Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia, contesta a hipótese de estabilidade do casos de contágio do coronavírus.
“Existia discurso de potencial estabilização. Isso não se mostrou nas últimas semanas. (…) E a gente sabe das limitações dos dados, subnotificações, as [baixas] testagens. Discurso de estabilidade é bem precoce. E mesmo que esteja ocorrendo estabilidade, não é o ideal que este platô esteja num volume alto de casos. Não adianta ter estabilidade com número alto de casos.”
Segundo Stefan, a baixa testagem afeta o índice de contágio, chamado RT, que a Secretaria de Estado de Saúde afirma estar próximo de 1. “Observamos nos últimos dias uma defasagem de testagem. Ela não tem sido sistemática e progressiva. Se tem kit, se testa, se não tem, não testa. Quem procura, acha. Quanto mais testar, mais casos vai ter”.
O infectologista Leandro Curi, que trabalha no enfrentamento à Covid-19 em Contagem e em Ibirité, na Grande BH, também não vê sinal de queda dos números nos próximos dias. E reforça que o momento ainda não é para relaxar.
“Estávamos esperando um pico, mas este pico nunca chegou. E quando chegou o platô, a gente ficou no plano, mas lá no alto. Estabilidade não significa em momento nenhum conforto. É uma estabilidade ruim. É uma realidade que não dá para relaxar. Ainda não sabemos se está acabando”, disse.
Leitos de UTI
Em contraponto aos números recordes do estado, a taxa de ocupação de leitos mostra uma leve queda nos últimos dias. No início do mês, a taxa de ocupação de leitos de UTI estava em 68%. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, 1.020 pacientes com sintomas de Covid-19 estavam internados no dia 2 de agosto. Duas semanas depois, a taxa de ocupação caiu para 64%. São 961 pessoas com suspeita ou confirmação da doença internados nestes leitos.
Mas a região Central continua com índices mais elevados. Betim está com 97,5% da capacidade de leitos de UTI ocupados. Belo Horizonte, Nova Lima e Caeté que aparecem juntas na contabilização, estão com 78,33% de ocupação. Contagem tem o menor índice da Grande BH, com metade (50,83%) das vagas em UTI ocupadas. O estado contabiliza a ocupação de leitos Covid e não-Covid, sem separação.
Stefan Vilges criticou a forma como o estado contabiliza a ocupação de leitos, somando as unidades Covid e não-Covid. Como o G1 mostrou, dos 3.885 leitos de terapia intensiva em Minas, 1.110 são habilitados no SUS para tratamento da doença, segundo o Ministério da Saúde. O número de pacientes internados já passou de mil, bem próximo à quantidade de estruturas disponíveis.
O estado disse que faz remanejamentos, quando há demanda, e que não é possível dizer o número total de UTIs disponíveis só para Covid-19, já que podem ter outros leitos não habilitados. “Acaba criando sensação que não é verdade”, afirmou o pesquisador.
Grande de BH tem mais de 550 mortes pela Covid-19
A Região Metropolitana de Belo Horizonte levou quase dois meses e meio para registrar as primeiras 500 mortes causadas pelo coronavírus. Mas em apenas 15 dias de agosto foram contabilizadas 557 novas mortes. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde entre os dias 3 e 18 e, se comparado com as duas últimas semanas de julho, quando foram confirmadas 369 mortes, o aumento foi de 50,9%.
A capital lidera o número de óbitos e chegou a 815 confirmados até esta terça-feira (18). Nos últimos 15 dias foram 263 novas mortes. Confins, Florestal, Itaguara, Nova União e Rio Acima são as únicas cidades que não registraram óbitos pela Covid-19 na Região Metropolitana, que contabiliza 1.561 mortes por causa da doença.
Já o número de casos confirmados no mesmo período na Grande BH foi de 13.694. Redução de 0,7% em relação às duas últimas semanas de julho, quando foram 13.793 registros. Ao todo, são 52.519 casos de coronavírus distribuídos nos 34 municípios que fazem parte da região. Contagem é segunda cidade com mais casos e, em 24 horas já são 456 novas notificações, chegando a 5.962.
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