Por Estado de Minas
Diante do crescimento sistemático no setor de navegação em Minas desde que a Capitania Fluvial (CFMG) se instalou em Belo Horizonte, em 2018, com reordenação da estrutura no estado, ganhou força na Marinha do Brasil a necessidade de uma nova delegacia na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, segundo apurou o Estado de Minas.
A nova unidade funcionaria como braço da capitania, como já ocorre em Pirapora (Rio São Francisco), no Norte de Minas, e em São José da Barra (Furnas), no Sul do estado. O estudo que pode viabilizá-la se encontra no Estado Maior da Armada e tem a avaliação positiva do comandante da CFMG, o capitão de mar e guerra Leonardo Carvalho de Lucena Navaes.
Apesar de não ser banhado pelo mar, o estado de Minas Gerais apresenta crescimento nos serviços de registros de embarcações e condutores gerenciados pela Marinha, o que demonstra aquecimento do setor. Só entre 2022 e 2023, ocorreu um aumento diário de emissão de carteiras de habilitação de 19%, a aplicação de exames para amadores foi ampliada em 18%, a quantidade de cadastros de embarcações cresceu 7,5% e as inscrições de embarcações subiram 3,2%.
A necessidade de outra delegacia na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba pode ajudar a ampliar ainda mais o acesso a esses serviços vitais para a navegação e atividades aquáticas nos corpos d’água mineiros. Enquanto a CFMG atende diretamente 484 municípios, ainda que tenham de se reportar a Belo Horizonte, a delegacia de Pirapora atende a 206 e a de São José da Barra, a 160.
“A região do Triângulo e Alto Paranaíba tem três rios muito importantes: o Paranaíba, o Araguari e o Rio Grande. Com uma unidade na região, seria mais acessível o atendimento da Marinha. Para se sair de Belo Horizonte até lá pode se chegar a percorrer 825 quilômetros. Um alto custo logístico. A nova delegacia permitirá à Marinha entregar um serviço de qualidade ainda maior e também ensino”, avalia o comandante da capitania.
Para a comunidade náutica do Triângulo e Alto Paranaíba, ter uma unidade regional, como ocorre no Norte e no Sul de Minas, também traria mais praticidade e economia, estimulando as atividades do setor. “Atualmente, as pessoas têm de se deslocar até Belo Horizonte para a realização de vários serviços”, destaca o comandante Lucena.
Em Minas, as principais missões da Marinha são a fiscalização e o ordenamento do tráfego aquaviário, a segurança do setor e a inspeção para garantir a proteção da vida humana e a prevenção da poluição hídrica provocada por embarcações. Neste ano, até maio, foram abordadas 959 embarcações pela Força em Minas Gerais, das quais 113 foram notificadas. As irregularidades mais comuns são condutores inabilitados e falta ou falha na dotação de material de salvatagem (como coletes e boias salva-vidas).
A Força também atua no ensino profissional marítimo, com a capacitação de marinheiros, mestres de travessia e com a formação por cursos. Na sede da CFMG, no Belvedere, em Belo Horizonte, por exemplo, boa parte dos andares superiores é dotada de salas de aula para esse ensino.
De forma geral, a navegação em Minas Gerais se dá para esporte e recreio, pesca, balsas de travessia de veículos e passageiros, dragas de extração mineral (areia, em sua maioria) e um pequeno volume de transporte de carga, sobretudo no Rio Paranaíba, na entrada da Hidrovia do Rio Paraná. No Rio Araguari há também uma atividade de ranchos flutuantes para pesca. São plataformas com pequenas casas sobre tambores de 200 litros usados como flutuadores e muito comuns na região, também sob fiscalização da Marinha.
Planos para a Grande BH
A Marinha tem investido em Minas Gerais desde que ocorreu a reordenação de suas estruturas, com a vinda da Capitania Fluvial de Pirapora para Belo Horizonte, em 2018, sendo realocada do Gutierrez (Avenida Raja Gabaglia) para o Belvedere em 2019. Fez parte dessa reestruturação também a disposição de Pirapora como delegacia e a instalação da delegacia de Furnas, em 2020.
Além da possibilidade de criação de outra unidade, o comandante da CFMG, capitão de mar e guerra Leonardo Carvalho de Lucena Navaes, anuncia a instalação de uma estrutura na Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima, na Grande BH, e esforços para promover ações sociais para crianças carentes.
O projeto para a Lagoa dos Ingleses é de criar uma patromoria – um posto da Força para inspeções navais e atendimento ao público daquela região. “Essa estrutura terá um miniestaleiro e uma garagem para as embarcações. É um ponto que se torna estratégico para nós, por ser muito próximo da BR-040 e assim permitir um acesso rodoviário mais facilitado quando for necessário rebocar as embarcações para um destino determinado”, afirma o comandante Lucena, que prevê a instalação ainda neste ano.
Já o projeto social em que o capitão de mar e guerra aposta é o Programa Forças no Esporte, com o qual a Marinha pretende levar cidadania e dignidade a crianças por meio de atividades esportivas. “Quando tivemos patrocínio, conseguimos reunir e atender 80 adolescentes em situação de vulnerabilidade social no contraturno escolar. Em 2022, conseguimos trazer modalidades como boxe, mas para essa continuação podemos promover noções de vela e de canoagem na patromoria, educação ambiental, e com isso ajudar a tirar essas crianças da situação de vulnerabilidade”, afirma o comandante.
Para dar continuidade ao Programa Forças no Esporte, seriam necessários patrocinadores para o fornecimento de material esportivo, alimentação, material para professores e transportes de ônibus para dois grupos, nos turnos da manhã e da tarde.
Um dos objetivos mais nítidos da Marinha em Minas Gerais tem sido a ampliação da percepção da importância da Força para a nação. E esse sentimento se vê muito presente na sede da Capitania Fluvial de Minas, no Belvedere, onde o edifício branco com uma grande âncora de metal azul encostada na parede chama a atenção na Avenida Celso Porfírio Machado, em frente à Praça Doutor Íris Valadares.
Em cada corredor por onde se passa, seja nos gabinetes, nos escritórios ou salas de aula, mapas do estado de Minas Gerais se destacam pela cor azul. Uma inspeção de perto logo ressalta como a superfície estadual é recortada por grandes rios e lagos de diversas bacias, o que destaca o sentido e a necessidade da presença da Marinha no estado. “Minas Gerais é a caixa d’água do Brasil. E esse destaque aos corpos hídricos foi espalhado pelo prédio para sempre lembrar da vocação da Marinha sobre o estado. Aqui temos Furnas, que é o ‘Mar de Minas’, o São Francisco, Rio da Integração Nacional, e muitos outros rios e lagos importantes”, frisa o capitão de mar e guerra.
Vagas para marinheiros
A estratégia da Marinha para Minas Gerais busca também que o estado seja porta de entrada para suas fileiras. “Aumentando a percepção da Marinha na sociedade mineira, poderemos aumentar a quantidade de mineiros na nossa instituição, criando esse interesse e sediando concursos públicos. Ao todo, são 13 portas para a entrada na Marinha. E esse interesse tem se diversificado. Só para o Colégio Naval, foram 200 candidatas”, destaca o comandante Leonardo Lucena.
Foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A.PRESS