O Japão é um parceiro estratégico para o Brasil e tem demonstrado interesse em fortalecer a relação bilateral. Entre os principais temas da agenda está a inédita abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira, além da ampliação das exportações de aviões e biocombustíveis. Durante a longa viagem de quase 30 horas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também pretende debater temas internos com seus ministros e aliados que o acompanham.
A visita ao Japão marca o início de uma série de compromissos na Ásia que Lula pretende cumprir ao longo do ano. O governo busca diversificar sua pauta comercial e seus parceiros estratégicos, especialmente em um cenário global marcado pela instabilidade da política externa dos Estados Unidos, agora sob a influência de Donald Trump.
Além dos interesses comerciais, há também um componente geopolítico na viagem. O presidente quer reforçar a posição do Brasil como um país independente, sem alinhamento automático com os Estados Unidos ou a China. Após a agenda em Tóquio, Lula seguirá para o Vietnã e, no segundo semestre, deve visitar a Malásia e a Indonésia. Também está previsto um encontro bilateral com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, possivelmente em território brasileiro.
Recepção oficial e reuniões estratégicas
A agenda oficial em Tóquio começa na terça-feira (25) – ainda segunda-feira no horário de Brasília – com uma recepção no Palácio Imperial. Lula e a primeira-dama, Janja da Silva, serão recebidos pelo imperador Naruhito e pela imperatriz Masako, seguidos de um jantar oficial. Esta será a primeira recepção a um chefe de Estado pelo imperador japonês desde a pandemia, um gesto simbólico que reforça a importância da visita para a relação bilateral.
A comitiva brasileira é robusta, incluindo figuras de peso da política nacional e cerca de 100 empresários. Eles participarão de um fórum empresarial promovido pelo Itamaraty em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e sua equivalente japonesa. Na quarta-feira, Lula terá um encontro com sindicatos japoneses pela manhã e, à tarde, se reunirá com o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, no Palácio Akasaka. Em seguida, participará da cerimônia de assinatura de acordos entre os dois países.
Expansão do mercado para carne, aviação e biocombustíveis
Um dos principais objetivos da viagem é garantir a abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira. O setor agropecuário tem forte representação na comitiva, e há expectativa de que um dos acordos firmados durante a visita sinalize avanços concretos nessa negociação. Atualmente, os principais fornecedores de carne para o Japão são os Estados Unidos e a Austrália, e o Brasil busca ampliar sua participação nesse mercado.
Além da carne bovina, o governo brasileiro também negocia a exportação de carne suína in natura e a diversificação da pauta do agronegócio para o país asiático. Outros setores estratégicos na agenda incluem a venda de aeronaves brasileiras e biocombustíveis. O Japão pretende eliminar gradualmente os veículos movidos a gasolina até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050, mas ainda depende fortemente de combustíveis fósseis – o que abre espaço para o Brasil se posicionar como fornecedor de alternativas sustentáveis.
Entre os acordos em negociação, um dos mais relevantes envolve a mobilidade urbana, alinhado às metas ambientais do governo japonês. Também está prevista a assinatura de um plano de ação para a cooperação Brasil-Japão entre 2025 e 2030, abrangendo setores como ciência e tecnologia, educação, pesca e recuperação de pastagens.
Reaproximação entre Japão e Mercosul
Outro tema relevante da visita é a retomada das discussões sobre um possível acordo comercial entre o Japão e o Mercosul. Apesar de negociações anteriores, o tratado nunca avançou, mas o governo brasileiro vê a oportunidade de reativar o diálogo como um sinal positivo para a comunidade internacional.
Atualmente, o Japão ocupa a 9ª posição entre os maiores investidores no Brasil, com um volume de investimentos que chegou a US$ 35 bilhões em 2023. O comércio bilateral somou US$ 11 bilhões no último ano, mas já atingiu a marca de US$ 20 bilhões no passado, indicando um potencial significativo para crescimento. Além disso, o Japão abriga a quinta maior comunidade brasileira no exterior, fator que também reforça os laços entre os dois países.
Agenda intensa e articulações políticas internas
Durante os quase 60 horas de voo ao longo da viagem, Lula estará acompanhado por dez ministros de Estado, além dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. O presidente pretende aproveitar o tempo a bordo para discutir temas internos, como a isenção do Imposto de Renda e outras pautas econômicas e políticas.
O avião presidencial, um KC-30 (modelo A330-200) da Força Aérea Brasileira (FAB), pousou em Tóquio às 10h02 da manhã no horário local, equivalente às 22h02 de Brasília. Essa aeronave, a de maior autonomia da frota nacional, será essencial para o cumprimento da extensa agenda de viagens diplomáticas planejada pelo governo ao longo do ano.
Foto: Ricardo Stuckert.