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Moraes autoriza quebra de sigilo bancário de Bolsonaro Decisão também atinge contas do ex-assessor Mauro Cid no exterior

18 de agosto de 2023, 09h46 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Por Itatiaia

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, autorizou nesta quinta-feira (17) a quebra de sigilo de contas bancárias internacionais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do tenente-coronel Mauro Cid e de Mauro César Lourena Cid, pai do ex-ajudante das ordens da República. A informação é da CNN Brasil.

A Polícia Federal (PF) fez a solicitação ao Supremo por meio do Acordo de Cooperação Internacional com o governo dos Estados Unidos. As autoridades apuram se as contas teriam sidos usadas para receber os altos valores relacionados à venda das joias recebidas de autoridades árabes.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) localizou cerca de R$ 4 milhões movimentados em contas no exterior do ex-presidente. Procurado pela CNN, o ex-presidente não se manifestou.

Confissão de Mauro Cid

O tenente-coronel Mauro Cid decidiu confessar que participou da venda de joias nos Estados Unidos e que entregou o dinheiro obtido com a operação em espécie ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A informação foi confirmada pelo novo advogado de Cid, Cezar Bitencourt, à revista Veja, em reportagem publicada nesta quinta-feira (17).

“A relação de subordinação na iniciativa privada é uma coisa. O funcionário pode cumprir ou não. No funcionalismo público, é diferente. Em se tratando de um militar, essa subordinação é muito maior”, disse o advogado à publicação.

Entenda o caso

Uma investigação da Polícia Federal (PF) aponta que Cid, que está preso desde o dia 3 de maio, levou para os Estados Unidos presentes de alto valor recebidos por agentes públicos brasileiros de autoridades árabes com a intenção de vendê-los.

Ele teria transportado objetos no mesmo avião presidencial que Jair Bolsonaro viajou para Orlando, em 30 de dezembro do ano passado.

Segundo a PF, a suspeita é de que a conta do pai do ex-ajudante de ordens teria sido usada para recebimento de valores relativos à venda dos presentes. Nesta conta teriam sido depositados R$ 68 mil.

A investigação “identificou que esse modus operandi foi utilizado para retirar do país pelo menos quatro conjuntos de bens recebidos pelo ex-Presidente da República em viagens internacionais, na condição de chefe de Estado”, aponta o relatório.

As apurações mostram trocas de mensagens escritas e gravadas entre os suspeitos de fazerem parte da suposta organização criminosa. Também foram reunidas fotos dos objetos, que incluem relógios, estátuas e kits de joias.

Entenda a venda ilegal de joias da Presidência

Também foi dito pela PF que o pai de Cid foi o responsável pela venda das joias nos Estados Unidos, e que Crivelatti era o responsável por cuidar das joias sauditas e da manutenção dos objetos, que eram deixados em um acervo criado em uma fazenda em Brasília.

De acordo com a lei, os presentes recebidos pelo presidente da República ou integrantes do governo durante viagens e compromissos oficiais devem ser registrados no acervo da Presidência como de interesse público e incorporados ao patrimônio cultural brasileiro.

A exceção, segundo a legislação, são itens que podem ser consumidos, como frutas típicas ou bebidas, e os considerados de uso personalíssimo, como roupas e perfumes.

Ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal (PF) diz ter “fortes indícios” de utilização da estrutura do Estado brasileiro para “desviar de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao presidente da República ou agentes públicos a seu serviço” e “posterior ocultação da origem, localização e propriedade dos valores provenientes, com o intuito de gerar o enriquecimento ilícito” de Bolsonaro.

A PF diz que o dinheiro era recebido por meio de pessoas interpostas e sem usar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores.

Para os investigadores, os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de peculato e lavagem de dinheiro. Nem todos os itens teriam sido vendidos, mas, mesmo assim, o esquema teria movimentado mais de R$ 1 milhão.

Um dos itens citados pela investigação é um relógio da marca Rolex, dado a Jair Bolsonaro em 2019. Esse relógio chegou a ser vendido a uma empresa nos Estados Unidos, mas, após o caso vir à tona e o Tribunal de Contas da União (TCU) exigir que o objeto fosse devolvido, ele foi recomprado pelo ex-advogado de Jair Bolsonaro Frederick Wassef.

O inquérito também cita um áudio em que Mauro Cid diz que o pai dele estaria na posse de US$ 25 mil que supostamente pertenceriam ao ex-presidente, e que esse dinheiro deveria ser entregue em espécie.

Ainda segundo a corporação, na gestão de Bolsonaro, o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) adotou interpretação contrária aos princípios que regem a administração pública e que o órgão foi usado para “legalizar” a incorporação dos bens de alto valor presenteados por autoridades estrangeiras ao acervo privado de Bolsonaro.

“O referido entendimento firmado pela GADH, na gestão do ex-presidente da República Jair Bolsonaro, além de chancelar um enriquecimento inadmissível pelo Presidente da República, pelo simples fato de exercer uma função pública, proporciona a possibilidade de cooptação do chefe de Estado brasileiro, por nações estrangeiras, mediante o recebimento de bens de vultosos valores”, diz a Polícia Federal.

Ainda segundo os investigadores, o GADH foi usado pela gestão Bolsonaro para “desviar os bens de alto valor” recebidos pelo então presidente para, posteriormente, “serem evadidos do Brasil, por meio de aeronaves da Força Aérea brasileira e vendidos nos Estados Unidos”.

“Dados que, além de ilícitos criminais, demonstram total desprezo pelo patrimônio histórico brasileiro e desrespeito ao Estado estrangeiro, cujos presentes ofertados, em cerimônias diplomáticas, podem retratar aspectos de suas culturas e representa um gesto de cortesia e hospitalidade ao Brasil, representado naquele momento pelo presidente da República”, diz a PF.

Em sua decisão, Alexandre de Moraes afirma que a Polícia Federal trabalha com a possibilidade de o GADH ter sido “utilizado para desviar, para o acervo privado do ex-presidente da República, presentes de alto valor, mediante determinação de Jair Bolsonaro”. Além disso, o ministro também diz que os investigadores trabalham com indícios de que alguns presentes recebidos por Bolsonaro “teriam sido desviados sem sequer terem sido submetidos à avaliação do GADH”.

Foto: Allan Santos/PR

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