O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, parece ter mudado de estratégia e resolveu mudar o seu discurso, até aqui quase que de confrontação ao do presidente Jair Bolsonaro, pelo menos na avaliação dos ministros que orbitam em torno da cadeira presidencial. Com efeito, Mourão quase sempre divergia do presidente, falando abertamente à imprensa sobre assuntos diversos, desde os de natureza econômica como os ambientais.
E isso vinha criando problemas na relação dele com o presidente a tal ponto que Bolsonaro já não cogita mais em reeditar a chapa Bolsonaro-Mourão para as eleições de 2022. Mas o que fez Mourão se enquadrar no discurso presidencial? Em primeiro lugar, a indisposição entre o presidente e seu vice, a tal ponto que Bolsonaro já dizia que não consultava o seu vice para mais nada. Em segundo, essa nova posição esboçada na manhã desta segunda-feira, quando finalmente o general Mourão bateu continência para o capitão Bolsonaro , que, aliás, é de fato e de direito o comandante em chefe das Forças Armadas.
Essa nova postura do vice, uma espécie de bandeira branca entre ele e o presidente, foi revelada nesta segunda feira quando Mourão questionou a política do governador João Dória, de São Paulo, sobre a compra da vacina coronavac para imunizar a população de São Paulo – mas não só, porque há dezenas de estados e centenas de prefeituras pretendendo entrar na carona da vacina a ser produzida pelo Instituto Butantã, de São Paulo. Ontem, ao ser questionado pelos jornalistas, Mourão perguntou quem: – quem comprou a Coronavac? Nenhum país comprou.” A pergunta dos jornalistas fazia sentido porque a vacina do Butantã, fabricada pela chinesa Sinovac, não consta do documento do Plano Nacional de Imunização, enviado pelo Ministério da Saúde ao Supremo Tribunal Federal , sábado, mas sem prazo de aplicação de tal forma que obrigou o ministro Ricardo Lewandowski a dar um prazo de 48 horas para que ministério diga que dia começará a vacinação da população e quando pretende encerrar a campanha.
No plano apresentado, o Ministério da Saúde informa que garantiu 300 milhões de doses da vacinas contra a Codiv-19, sendo 100 milhões da Fiocruz/AstraZeneca, até julho de 2021, e mais 30 milhões por mês no segundo semestre; ; 42 milhões do consorcio Covax Facility e 70 milhões da Pfizer, negociação ainda em andamento. OO curioso é que nenhum laboratório, nem o Butantã, enviou qualquer consulta à Anvisa, o órgão do governo federal que cuida desse assunto. Ou seja, está tudo como dantes no quartel de Abranches. O ministério da Saúde mandou um esquema de vacinação ao STF mas ninguém comprou nada e a Coronavac nem faz parte dos planos do governo federal, pelo menos por enquanto, como admitiu ontem o general Mourão, ao mudar de estratégia para se enquadrar no visor do presidente Jair Bolsonaro.
Foto: Romério Cunha/VPR