Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg
Muita coisa ainda vai rolar até a posse do presidente eleito Lula (PT) em 1º de janeiro. Mas duas coisas são certas: é compromisso do presidente eleito promover a conciliação nacional, mas, já agora, o governo Lula pretende de imediato aumentar o teto de gastos – uma medida do governo Temer – para que se mantenha nos próximos anos o Auxílio Brasil.
O programa passará a ser chamado novamente de Bolsa Família, no valor de R$ 600, como prometeram na campanha tanto Lula quanto Bolsonaro. Em que pese o atual presidente da República não ter incluído na LDO esse valor, daí por que o desejo de ambos os candidatos terminaria em 31 de dezembro. Agora, no entanto, Lula terá que emitir a PEC que certamente irá furar o teto de gastos do governo Temer.
Mas o grande imbróglio desse novo tempo que vive o país é saber se o futuro governo irá ou não apoiar o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, como seu candidato. Ou se vai compor com Lira, deixando de apoiar, por exemplo, algum outro nome, dos vários que já estão em jogo.
Diante dessa trama, o que parece acertado é o apoio de Lula ao nome do senador Rodrigo Pacheco para que continue na presidência do Senado. Além de pertencer ao PSD, Pacheco foi considerado durante a campanha como um discreto aliado do novo governo, além de estar filiado ao mesmo partido do ex-prefeito Alexandre Kalil, com quem Lula se compôs para ter um palanque aqui no Estado.
Até aí tudo bem. O problema que se avizinha é o tal orçamento secreto, contra o qual se bateu durante a campanha, por exemplo, a senadora Simone Tebet (MDB), uma possível ministra do governo Lula. Para Simone, o orçamento secreto é o maior escândalo de que se tem notícia no país. E uma das razões é simples: ninguém sabe para quem vai o dinheiro nem quem o recebe.
O problema é que essa chamada “emenda do relator” deve continuar no governo Lula, ainda que sofra várias alterações, uma delas a discriminação de quem paga e quem recebe – além de ter que provar que a emenda foi efetivamente gasta mediante comprovação documentada.
No mais, são fragmentos de uma derrota mal digerida, como os promotores que pedem o enquadramento de Nelson Piquet porque ele pregou a morte de Lula, ou ainda o fato de uma ambulância ter chegado tarde em São Paulo, com um coração a ser doado e o receptor ter morrido antes do transplante.
Ou ainda o caso de um garoto ter sido covardemente agredido ao passar por um bloqueio de bolsonaristas que invadiram o ônibus em que estavam os garotos por que fizeram o gesto pró-Lula com o “L” em pé.
Ou, ainda, por mais lamentável que seja, o fato de várias equipes de televisão terem sido agredidas quando faziam a cobertura dos bloqueios, entre as quais uma dupla argentina que fazia a transmissão ao vivo, tendo sido orientada pela central para que se afastasse do local – o que não contribui evidentemente para a boa imagem do Brasil no exterior, até porque as imagens correram o mundo.
O fato inquestionável, no entanto, é que a transmissão do poder já está sendo efetivada. Na quinta-feira, por sinal, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro, ainda que, por alguns momentos, no que parece ter sido uma coisa adredemente preparada: alguém avisou Bolsonaro de que Alckmin estava no Planalto, ele foi até lá, e logo em seguida voltou para o Alvorada.
O que é lamentável, no entanto, é o aumento da intolerância entre famílias, como se tem constatado ao longo da campanha e sobretudo no segundo turno. Há casos de pais expulsando filhos ou filhas de casa por absoluta incompatibilidade ou por simples intolerância política, o que é inconcebível.
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