Ao investir ontem, segunda-feira, 21/06, contra uma repórter da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo, o presidente Jair Bolsonaro mostrou o seu despreparo para o exercício do cargo, embora legitimamente eleito em 2018. Desrespeitou, neste episódio, não apenas a repórter que o questionava sobre o uso da máscara na parte da manhã, embora ele a usasse à tarde, quando deu o seu faniquito, como passou dos limites da sanidade e agrediu a audiência não apenas da Globo.
Bolsonaro ofendeu a população como um todo, num dia especialmente doloroso para o país que chora mais de 500 mil vidas perdidas – houve nessa pandemia quem perdeu avós, pai e mãe – de sorte que apesar do seu autoritarismo o presidente mostrou que alguma coisa o está incomodando – e não pode ser apenas uma unha encravada – não sendo demais supor que, na verdade, o que o incomoda tanto pode ser a ideia do comando da CPI da pandemia que pretende tomar o seu depoimento, ainda que por escrito, para que ele possa explicar porque razão se transformou num garoto-propaganda da cloroquina, ao invés de liderar uma campanha nacional de vacinação e com isso evitar que mais de 500 mil vidas se esvaíssem em pouco mais de um ano da maior epidemia que o mundo já viu desde que o mundo é mundo.
Não faz sentido, a não ser pela perda, digamos, momentânea da sanidade, que o presidente entrasse em desespero diante da simples pergunta de uma repórter, a ponto de mandá-la calar a boca ( e aqui é oportuno lembrar a frase dita pela ministra do STF, Carmen Lúcia, numa sentença, “cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu”) e, não satisfeito, mandar toda a sua equipe que, claro, o acompanhava, também calar a boca, num faniquito de quem realmente está politicamente acuado por alguma razão, talvez pelos apertos que a CPI da pandemia vem lhe dando, ainda mais agora quando se pensa em colher o seu depoimento. Mais ainda, como ele poderá se safar das graves acusações que pesam sobre ele, como por exemplo deixar de comprar a vacina da Pfizer, que lhe foi oferecida em agosto do ano passado ou ainda quando tentou vetar o consórcio Butantan-Sinovac para a produção da Coronavac, o primeiro imunizante a entrar no país e até agora o de maior abrangência geográfica, quando todos se lembram da entrevista em que ele desautorizou o seu então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, dizendo que no governo quem manda é ele – e manda mesmo tanto é que demitiu não apenas Pazuello, ainda que colocando-o ao seu lado, como exonerou também Henrique Mandetta e Ricardo Teich, nomeando por ultimo Marcelo Queiroga. Ou seja, o presidente dos chiliques já nomeou quatro ministros da Saúde, um feito certamente mundial, mas para o qual ele com certeza não está se lixando – até porque foi essa a expressão que ele usou ontem para desacatar a repórter da TV Vanguarda, num desrespeito, embora comum vindo de quem é, mas pouco visto na relação presidente/jornalista que, a seu favor, diga-se, está ali porque alguém a mandou lá para ouvir o que o presidente da República poderia falar de relevância para o país. A repórter ouviu um destampatório e uma série de bobagens que não dignificam o presidente da República do Brasil. E volta a pergunta: será que é a CPI que está provocando tanto azedume no presidente ou seria a possibilidade de ter que responder ao país porque deixou mais de 500 mil brasileiros perderem a vida?
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