Por Poder360
O escritor de direita Olavo de Carvalho morreu na 2ª feira (24.jan.2022), aos 74 anos. A informação foi divulgada em suas redes sociais. Segundo a nota, Olavo morreu em Richmond, na Virgínia (EUA), onde estava hospitalizado. A causa da morte não foi informada.
Olavo foi diagnosticado com covid-19 em meados de janeiro. No dia 15, cancelou as aulas no curso virtual que ministrava. Ele deixa a esposa, Roxane, 8 filhos e 18 netos. Uma das filhas, Heloísa de Carvalho, informou no Twitter que o pai morreu de covid. Heloísa era brigada com o pai.
Filósofo autointitulado, Olavo teve forte influência na direita política brasileira e no governo Jair Bolsonaro, mas foi perdendo a influência no Executivo à medida que militares e Centrão ganhavam espaço.
Ele era elogiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, costuma propagar ideias do escritor.
Sua pregação “antissistema” casava com o discurso de campanha de Bolsonaro em 2018. O conservadorismo, os ataques à esquerda e o gosto por armas de fogo eram outros pontos de contato.
Olavo de Carvalho pregava uma guerra cultural entre direita e esquerda. Dizia que os conservadores deveriam ocupar universidades, imprensa e outros emissores de informações e ambientes da vida cotidiana.
Sua mensagem sempre circulou primordialmente pela internet. Nos protestos contra o governo de Dilma Rousseff (PT), porém, surgiram cartazes dizendo “Olavo tem razão”. À época, 2015-2016, cogitar a eleição de Jair Bolsonaro era tido quase como delírio.
Um dos alvos preferenciais de Olavo de Carvalho era o Foro de São Paulo. Trata-se de uma organização de partidos de esquerda latino-americanos cuja força o discurso do escritor superestimava.
O ideólogo conservador chegou a indicar 2 ministros no início do governo Bolsonaro, incluindo o da Educação. Em 2019, lançou um jornal on-line, chamado Brasil Sem Medo.
Trajetória
Olavo de Carvalho nasceu em Campinas (SP), em 29 de abril de 1947. Antes de ganhar a dimensão que conquistou como formador de opinião na direita, teve experiências como astrólogo e como parte de uma comunidade de orientação islâmica. Também escreveu para jornal O Globo.
Heloísa de Carvalho Martin Arribas, filha de Olavo, disse em entrevista à revista Época, em abril de 2019, que o pai teve 3 esposas muçulmanas ao mesmo tempo. O escritor teve 8 filhos.
Mudou-se para os Estados Unidos em 2005, de onde passou a oferecer cursos de filosofia –criticados por especialistas na área– por meio da internet. Olavo não tinha formação acadêmica nesse campo.
Mesmo dos EUA, o curso era em português e voltado para brasileiros. Morava em Richmond, no Estado da Virgínia.
Entre os alunos, há nomes como o jornalista Felipe Moura Brasil e o assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro Filipe Martins –que responde por gesto de conotação racista.
Dois livros de Olavo, “O imbecil coletivo” (2013) e “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” (2018), venderam 400 mil exemplares de 2013 a 2019.
O Grupo Editorial Record resolveu não renovar os contratos desses 2 livros. “O posicionamento do Olavo hoje é de uma convivência péssima com as vozes discordantes, para dizer o mínimo”, disse em julho de 2020 ao jornal O Globo Rodrigo Lacerda, editor-executivo do grupo editorial.
Olavo e o bolsonarismo
O escritor passou de figura influente em nichos de direita na internet para um influenciador do governo federal depois da eleição de Jair Bolsonaro.
Ele foi considerado uma espécie de mentor intelectual do presidente e seus filhos políticos –principalmente o deputado Eduardo Bolsonaro.
Em dezembro de 2018, antes de Bolsonaro tomar posse, Olavo disse que não quis ser ministro. Mas que aceitaria ser embaixador do Brasil nos EUA, o que não aconteceu.
Olavo indicou ao governo federal o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez, e depois disse que não lamentaria sua demissão. O sucesso de Vélez, Abraham Weintraub, demonstrava simpatia pelo escritor, de quem havia sido aluno.
O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo também havia sido indicado pelo escritor. Chamava Olavo de “professor”.
O ex-chanceler, ainda antes de assumir o cargo, disse que a união entre Olavo, Bolsonaro e Lava Jato foi responsável por “quebrar o sistema cultural marxista criado pelo PT”.
Em março de 2019, menos de 4 meses depois da posse de Bolsonaro, pediu que seus alunos deixassem o governo. Também chamou ministros do Executivo de “traidores filhos da puta”.
Ele entrou em conflito com os militares do governo Bolsonaro logo no início da nova gestão.
O vice-presidente, general Hamilton Mourão, era um dos alvos frequentes do escritor. O também general e ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, um dos primeiros integrantes do governo a ser fritado, foi outro que esteve na mira.
Em março de 2019, Jair Bolsonaro esteve nos Estados Unidos e deu uma amostra do prestígio que Olavo de Carvalho gozava no início do governo.
Na ocasião, o presidente participou de um jantar na residência oficial do embaixador do Brasil em Washington. Estavam presentes o escritor, Steve Bannon, articulista de Donald Trump em 2016, e outros convidados.
Também em 2019, em abril, o escritor afirmou que estava sendo “boi-de-piranha” do governo. Em maio, Olavo foi condecorado pelo Executivo.
Em setembro, Olavo cobrava dos simpatizantes de Bolsonaro uma “militância organizada”. No fim daquele ano, o presidente deixaria o PSL e tentaria fundar um partido. Hoje, o presidente é filiado ao PL.
Depois das eleições municipais de 2020, em que aliados do presidente da República tiveram maus resultados, Olavo culpou Bolsonaro.
Antes, em julho daquele ano. Havia anunciado o rompimento com o presidente, mas voltou atrás. Disse, na ocasião, que Bolsonaro nunca havia sido seu amigo. Em 2019, declarara que ambos tinham amizade “100% sincera”.
Mentiras e palavrões
Olavo tinha por hábito usar palavrões e insultos contra seus desafetos. Em março de 2019 descreveu os militares do governo como “bando de cagões”.
Acusou o músico Caetano Veloso de pedofilia em 2017 –aos 40 anos, Caetano começou a namorar sua atual mulher, Paula Lavigne, que tinha 13. A Justiça determinou que Olavo indenizasse o artista em R$ 2,9 milhões.
Ele também afirmou que o governo Bolsonaro poderia durar apenas 6 meses. Disse que a imprensa distorceu sua fala e declarou que era necessário tomar providências contra “mídia criminosa”.
O escritor também propagava mentiras. Disse em março de 2020, por exemplo, que não existia pandemia do coronavírus e que não havia mortes confirmadas –naquela altura haviam 12.784 vítimas contabilizadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Uma de suas declarações mais famosas foi a de que a Pespsi usava “células de fetos abortados como adoçantes nos refrigerantes” –depois, disse que não era bem assim.
O escritor também declarou que o candidato do PT à presidência da República em 2018, Fernando Haddad, havia defendido o incesto em um livro. Não procede.
Em 2019, declarou que as músicas dos Beatles foram compostas pelo sociólogo alemão Theodor Adorno, expoente da Escola de Frankfurt, com influência marxista. Entre outras informações falsas.
Problemas de saúde
Em fevereiro de 2021, Olavo de Carvalho foi internado para tratar uma pneumonia. Em 2020 já havia tido uma passagem pelo hospital também por causa de problemas respiratórios –precisou ser intubado na ocasião.
Em abril do ano passado, foi internado novamente, também por questões respiratórias. Em julho, surgiu a notícia de que o escritor havia voltado para o Brasil para cuidar de sua saúde. Ele havia tido uma crise de angina –dor no peito causada por redução no fluxo de sangue.
“Estou no Brasil por um motivo muito simples: a medicina brasileira é melhor que a americana”, declarou Olavo de Carvalho em 9 de julho.
Internado no InCor (Instituto do Coração), em São Paulo, o escritor teve diagnosticadas infeção urinária e na corrente sanguínea.
Ele teria chegado ao hospital com anemia, diarreia e sangramento urinário. Foi investigada a possibilidade de haver um câncer na bexiga do paciente –ele passara por uma cirurgia, ainda nos EUA, para tratar um câncer no órgão, mas poucos ficaram sabendo à época.
Olavo passou por uma operação na bexiga em 15 de julho. Os médicos precisavam tratar 4 lesões que causavam sangramento. O material retirado foi enviado para análise. Em 18 de julho ele teve alta e deixou o Incor. Leia a íntegra (895 KB) do boletim médico divulgado naquela data.
Em 9 de agosto, porém, Olavo de Carvalho voltou a ser internado no mesmo InCor. Tratava-se de caso grave de infecção urinária. O quadro evoluiu para sepse, infecção generalizada.
Foi para a UTI (unidade de terapia intensiva) em agosto e transferido para a clínica paulistana Saint Marie em seguida. Teve alta e, em 17 de novembro, retornou aos EUA.
Foto: Reprodução/Facebook