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Onde está a voz de Minas? Comentário da Tarde - Por Carlos Lindenberg

6 de agosto de 2021, 16h42 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Minas apequenou-se diante dos arroubos proferidos a todo e a direito.

O título poderia ser do livro de Alceu Amoroso Lima – A voz de Minas – mas na verdade remete para um artigo do ex-secretário do Governador Hélio Garcia, e ex-ministro do Trabalho de Fernando Henrique Cardoso e de Itamar Franco, Paulo Paiva, publicado no jornal O Tempo dessa sexta-feira, em que o articulista, hoje dedicado à Fundação Dom Cabral, uma das dez maiores escolas de negócios do mundo, pergunta e questiona ao mesmo tempo “Por onde andará Minas Gerais?”.

Paulo Paiva lembra os episódios mais marcantes da história de Minas, desde o grito dos Inconfidentes, no final do século XVIII, o protesto dos mineiros à visita de D. Pedro I, ao Estado, em 1822, o levante do presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, em 1926, que deu na Aliança Liberal que colocou Getúlio Vargas na presidência da República, quando disse alto e bom som: “As democracias vencerão a opressão”. Posteriormente, descreve Paulo Paiva, Minas se levantou contra a opressão no histórico Manifesto dos Mineiros, em 1942, com ninguém menos do que Milton Campos, Afonso Arinos, Tristão da Cunha, Virgílio Melo Franco, Bilac Pinto – avô do deputado federal Bilaquinho – e tantos outros da mesma cepa desses nominados, depois o grito não menos firme de Tancredo Neves na magistral posse no Palácio da Liberdade que ajudou a demolir a ditadura dos generais – “sempre colocando Minas no centro das decisões políticas mais agudas do país “, realça Paulo Paiva, quando o empossado no governo de Minas bradou “o segundo nome de Minas é liberdade”, sem esquecer que, se Hélio Garcia apoiou a privatização da Usiminas, foi Itamar Franco que impediu a venda de Furnas na bacia das almas, de forma que Paulo Paiva faz uma passagem pelos momentos mais cruciais e importantes da presença de Minas nos acontecimentos nacionais para concluir tristemente, como Drummond – “Minas não há mais” – que o silêncio de Minas impõe a necessidade de um uma liderança, como aqueles citados, por exemplo, no Manifesto dos Mineiros, para dar um basta nessa hora de turbulência institucional, que o articulista chama de “tempos sombrios da vida nacional”, como a evocar o passado de Minas Gerais insubmissa, até certo ponto inconformada com movimentos que colocavam em risco a vida democrática do país, para chegar à conclusão, talvez como o poeta Drummond, de que realmente “Minas não há mais”, diante do silêncio que insiste em persistir quando a vida nacional está em jogo.

Paulo Paiva conclui com a concordância certamente de muitos, que “Minas silenciou-se. Apequenou-se”. A propósito, não é demais lembrar que a primeira leva dos empresários, líderes religiosos e intelectuais que assinaram o “manifesto dos empresários”, como ficou sendo conhecido esse alerta de boa parte do PIB nacional, não tem a assinatura de um único mineiro. O que parece significar que de fato “Minas apequenou-se”, como diz Paulo Paiva. Com quem concordo, modestamente.

Foto: Flávio Tavares/Hoje em Dia

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