Por G1
A paralisação de ônibus em Belo Horizonte foi suspensa pelo Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários da capital e região após reunião no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) nesta terça-feira (23).
Na sexta-feira (19), a categoria interrompeu o trânsito na Avenida Antônio Carlos, na altura da Região da Pampulha, horas depois do prefeito Alexandre Kalil (PSD) anunciar que não teria reajuste de tarifas no fim do ano. Na segunda-feira (22), uma paralisação começou em toda a cidade pela manhã.
Especialista ouvido pela TV Globo diz que, na verdade, o que ocorre é um locaute, uma forma de as empresas pressionarem a prefeitura a reajustar a tarifa de ônibus.
Segundo a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), apenas 34,4% das viagens programadas na cidade entre 0h e 16h desta terça-feira foram realizadas.
Uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (TRT-MG) determina o funcionamento de, no mínimo, 60% da frota durante a greve, sob pena de multa diária de R$ 50 mil.
Uma nova reunião entre o sindicato patronal (Setra) e o sindicato dos rodoviários está marcada para sexta-feira (26) no TRT.
Os motoristas pedem reajuste salarial (INPC e perdas dos últimos anos), retorno do ticket nas férias, pagamento do abono 2019/2020 e fim da limitação do passe livre. Já as empresas alegam uma “crise sem precedentes”.
Estações vazias e filas nos pontos
A estação Barreiro, que recebe, em média, 57 mil passageiros por dia, ficou vazia durante a manhã desta terça, e nenhum veículo passou pelo local.
Na estação Diamante, os ônibus também pararam de circular. Os passageiros formaram uma fila na porta do local à espera do serviço.
Quando um ônibus da linha 30 (Estação Diamante/ Centro) passou no entorno da estação, por volta das 7h, dezenas de usuários cercaram o veículo e conseguiram embarcar.
Os ônibus da empresa de ônibus Transcbel, localizada no bairro Tirol, também na Região do Barreiro, foram impedidos de sair da garagem. O primeiro veículo deixaria o local às 3h50, mas, até as 4h15, nenhum tinha se deslocado e não havia previsão de partida.
Na estação Pampulha, a maior de Belo Horizonte, por onde passam, em média, 84 mil passageiros por dia, os usuários chegavam a esperar uma hora pelos ônibus, no início da manhã desta terça-feira. A espera era ainda maior porque um grupo de grevistas impedia a entrada dos coletivos no local, por volta das 6h.
Na estação Vilarinho, a espera pelos ônibus era de até 40 minutos. Alguns coletivos passaram pela estação, mas a fila de passageiros ainda era grande no local por volta das 6h10.
Locaute
Para André Veloso, integrante do movimento Tarifa Zero, a paralisação dos trabalhadores não é uma greve, e sim um locaute – é o que acontece quando os patrões se recusam a ceder aos trabalhadores os instrumentos para que eles desenvolvam seu trabalho, impedindo-os de exercer a atividade.
Na avaliação de Veloso, o locaute seria uma forma de as empresas pressionarem a prefeitura a reajustar a tarifa de ônibus.
Na última sexta-feira (19), o prefeito Alexandre Kalil (PSD) falou que não haverá aumento de passagem no final deste ano. A última alta ocorreu em 2018, quando a tarifa pastou a custar R$ 4,50.
Além disso, o locaute também seria um protesto contra um projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal que determina o fim da isenção do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) e o restabelecimento da cobrança da Taxa de Gerenciamento Operacional às empresas de ônibus.
“Essa paralisação que a gente está vendo hoje não tem nenhuma resistência por parte das empresas de ônibus. Então, não é uma greve, é o que a gente chama de locaute, quando as empresas impedem o acesso dos trabalhadores ao local de trabalho. Então, as empresas mesmo estão tirando os ônibus das ruas , mas atribuindo isso ao sindicato”, disse André Veloso.
O Setra-BH negou que as concessionárias tenham promovido locaute. O STTRBH disse que desconhece a hipótese de locaute e que a greve tem o objetivo de reivindicar direitos da categoria.
Já a prefeitura enviou uma nota, assinada pelo próprio prefeito Alexandre Kalil (PSD), em que diz: “Isso é muito grave. A prefeitura de Belo Horizonte não comenta ilação”.
Paralisação na segunda-feira
Motoristas de ônibus de Belo Horizonte iniciaram a greve na madrugada de segunda-feira (22). Pela manhã, moradores da capital que precisam do transporte público para se locomover estavam com dificuldade para encontrar veículos disponíveis.
Segundo balanço da BHTrans, as estações estavam realizando, no máximo, 30% das viagens programadas na faixa das 6h. Na faixa das 7h, este percentual subiu para 41%. Nas estações Barreiro e Diamante, os ônibus não circularam.
Na Estação Pampulha, foi registrado filas imensas e passageiros relataram que chegaram no local de madrugada e até o início da manhã não conseguiram embarcar.
Já na Estação São Gabriel, na Região Nordeste da capital, onde somente 25% das viagens foram cumpridas, ônibus que deveriam passar em um intervalo de três minutos, demoraram mais de uma hora.
Foto: TV Globo