Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg – blogdolindenberg@hojeemdia.com.br
Convenhamos: a quem interessa tumultuar ainda mais esse processo eleitoral por que passa o Brasil? É hora de se dar um basta em tudo isso. A começar pelo presidente da República, que deveria acionar o seu ministro da Justiça, para botar ordem nessa bagunça em que está se transformando o curso eleitoral brasileiro.
Vejam o que nos espera: o carro do juiz que mandou prender o ex-ministro Milton Ribeiro foi atacado em Brasília. A redação do jornal Folha de São Paulo foi alvo de tiros. Bombas caseiras foram atiradas contra o comício que se fez nessa quinta-feira em favor do ex-presidente Lula, no centro do Rio de Janeiro.
É urgente a inibição desses extremos sob pena, como alertou o ministro Edson Fachin, de termos aqui no Brasil atos mais dolorosos do que a invasão do Capitólio nos Estados Unidos – uma herança de Donald Trump que sobrou aqui para nós, até porque ele tem admiradores no Brasil.
É verdade que foram presos alguns dos que na semana passada jogaram veneno ou algo parecido contra um comício que se fazia em favor do ex-presidente Lula, em Uberlândia. Assim como Lula foi obrigado a usar um colete à prova de balas no comício em pleno centro do Rio de Janeiro, quinta-feira.
O presidente da República deveria assumir a sua responsabilidade de condutor do processo eleitoral brasileiro. Não basta prender o homem que jogou um explosivo no comício em favor do ex-presidente Lula na Cinelândia, no segundo atentado, digamos assim, contra o candidato do PT. O suspeito pelo suposto atentado – e não se trata de vandalismo, como querem alguns – é André Stefano Dimitri Alves de Brito, de 55 anos, que se infiltrou na multidão e cometeu o atentado que poderia ter ferido muita gente, até porque o comício estava cheio de apoiadores do ex-presidente.
Ora, em Brasília não foi menos grave o que aconteceu com o juiz Renato Borelli, que mandou prender o ex-ministro Milton Ribeiro por envolvimento com alguns pastores da Igreja Quadrangular. O carro do juiz da Justiça Federal de Brasília foi atacado com fezes de animais, terra e ovos, numa ação possivelmente premeditada porque desde a ordem de prisão do ex-ministro o juiz vem recebendo ameaças, sobretudo pela internet. Quinta-feira as ameaças se transformaram em realidade e o juiz Borelli foi vítima de uma emboscada quando saía do trabalho para casa.
E o que dizer dos tiros disparados contra o jornal Folha de São Paulo? Dizer que se inscreve numa tentativa de ameaça à liberdade de imprensa, é pouco, embora seja verdade. Quando se ataca um veículo de comunicação é a própria democracia que está em risco porque só uma imprensa livre e desabrida é capaz de sustentar a verdade em seus pesos e contrapesos.
Não menos grave – porque fere a vida de forma inequívoca – foi o atentado sofrido pelo ex-primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, na cidade de Nara, no oeste do país. Um homem foi preso e uma espingarda foi apreendida. A morte chocou o Japão, onde o controle de armas de fogo é rígido e casos iguais são muito raros.
Mas ninguém garante, nem o presidente da República do Brasil, que não estejamos caminhando para situações assim. A advertência do ministro Edson Fachin vai nessa direção ao relembrar o caso do Capitólio, em janeiro de 2021. Fachin, no entanto, não discorreu sobre o que poderá acontecer numa situação semelhante à invasão do Capitólio.
De qualquer forma, é de se esperar que não se chegue a tanto. E que nem passe por perto da previsão de Edson Fachin. O que não se pode descartar, no entanto, é a polarização perigosa em que se encontra o país, dividido entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro, sem qualquer expectativa para a chamada terceira via, nem mesmo para o ex-ministro de Lula, Ciro Gomes, que não consegue sair dos 6% ou 8% de intenção de votos, quando em Minas, por exemplo, já se nota certo favoritismo do governador Romeu Zema, que na pesquisa da Genial/Quaest de ontem marcou 44 pontos contra 26 de Alexandre Kalil, mas também numa eleição tão polarizada que o ex-prefeito ganharia na capital mas perderia no interior.
Mas tudo muda quando o nome de Kalil é apresentado ao eleitor ao lado de Lula. Kalil vai a 42% das intenções de voto enquanto Zema, apoiado pelo candidato do Novo, Felipe d’Avila, fica com 26%. O problema é que, na verdade, o governador Romeu Zema pode vir a ter o apoio do presidente Bolsonaro, embolando o jogo, ainda que o pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva possa ter mais votos do que Bolsonaro em Minas.
Foto: reprodução