Por Estado de Minas
Pelé completará 80 anos na sexta-feira e desde ao menos os 10 encantou pessoas pelo que conseguia fazer com a bola. Das categorias de base do Bauru Atlético Clube, conhecidas como Baquinho, à Seleção Brasileira, sempre se destacou, para delírio dos torcedores e dos companheiros de profissão.
Entre os que atuaram ao lado do Rei e também os que o enfrentaram há unanimidade em reconhecê-lo como o maior de todos os tempos. “Sempre fui fã de Pelé! Quando o conheci fiquei impressionado, pois ele conversava com todo mundo, era acessível, humilde”, afirma o ex-atacante Dario, o Dadá Maravilha, que jogou tanto ao lado do camisa 10 – na Seleção Brasileira que acabaria campeã do mundo em 1970 – quanto contra, defendendo Atlético.
Se havia admiração antes de conhecer o Atleta do Século 20, isso ficou ainda maior depois do contato pessoal. “Eu pensava: ‘Se Pelé, o melhor de todos, treina tanto, também tenho de treinar’. E me matava nos treinamentos”, diz.
Outro que se inspirou no melhor jogador de futebol da história segundo a Fifa foi Dirceu Lopes. O ex-armador do Cruzeiro fez embates históricos com o ídolo, como na final da Taça Brasil de 1966. Depois teve o privilégio de defender a mesma equipe, na preparação para a Copa do Mundo do México, em 1970, da qual acabou alijado. “Pelé foi muito importante na minha carreira, era o meu maior ídolo, ao lado do Garrincha. Eu o imitava quando era criança, talvez por ser da mesma posição e por ser mineiro”, conta o também camisa 10, conhecido como Príncipe justamente por ter qualidade para ser o sucessor do Rei.
“Segui o exemplo dele como atleta. Procurei me cuidar, como ele fazia. A imagem de jogador de futebol na época era péssima, mas ele foi o responsável por mudar isso. Era um atleta na acepção da palavra, me espelhei nele dentro e fora de campo”, destaca Dirceu.
O ex-zagueiro e ex-volante Piazza também defendeu o Cruzeiro nas décadas de 1960 e 1970 e foi campeão mundial do México’1970 ao lado de Pelé, só que como titular. Ele destaca a humildade fora de campo e as virtudes como atleta de quem eternizou a camisa 10 no futebol. “O Brasil sempre teve grandes jogadores, craques, mas ele é um caso à parte. Para mim, perfeito só Deus. E no futebol, só Pelé. Ele tinha todos os fundamentos muito elaborados: batia falta, tinha domínio perfeito, cabeceio certeiro, estatura ideal, impulsão incrível, chutava com perna direita, com a esquerda, sabia jogar macio e também bater, se necessário. É muito difícil encontrar tudo isso em um único jogador.”
Já o ex-atacante Buião não teve a chance de atuar ao lado de Pelé. Nem por isso deixa de se sentir honrado só de tê-lo enfrentado por clubes como Atlético, Corinthians, Flamengo e Athletico-PR. Quando atuava pelo Furacão, em 1976, jogou contra o ídolo pela última vez e guarda verdadeiro tesouro como recordação: uma camisa autografada, com direito a dedicatória, do maior jogador de todos os tempos. “Antes de um jogo em que ele estava a gente chegava a ficar emocionado, principalmente no começo da carreira, pois ia enfrentar um ídolo. Com bola rolando, claro que isso ficava de lado e a gente procurava defender o nosso. Mas era sensacional estar ali no mesmo campo que ele”, afirma.
Polêmica
Quem sempre admirou o craque, mas nunca deixou de encará-lo como mais um adversário foi o ex-zagueiro Procópio, que atuou por Cruzeiro, Atlético, São Paulo e Fluminense. No primeiro jogo da final da Taça Brasil de 1966, acabou expulso com Pelé por cobrar uma entrada dura do Atleta do Século no companheiro Piazza. Dois anos depois, ele próprio seria vítima de uma disputa com Pelé, que quase colocou fim à sua carreira profissional.
Foram “cinco anos, um mês e 13 dias”, como Procópio frisa, sem poder atuar, sendo mais de três anos passando dias inteiros no hospital para conseguir dobrar novamente o joelho esquerdo. “Não fui o único que ele quebrou. Teve um jogador da Ferroviária-SP, outro da Seleção Alemã, teve uma cotovelada em um uruguaio no México. Nunca vai nascer ninguém genial como ele, mas esse outro lado tem de ser falado”, destaca.
O que não o impede de reconhecer a genialidade do desafeto: “Pelé não foi coroado Rei do Futebol sem motivo, é um dos grandes gênios do esporte ao lado de Tostão e Reinaldo. Tivemos muito craques, Dirceu Lopes, Zizinho, mas gênios mesmo, só esses três. Eram jogadores que pensavam muito à frente dos outros. A diferença é que Pelé não enfrentou problemas físicos como os outros dois”.
Genialidade compartilhada
Que Pelé era de outro mundo muita gente já falou. Mas, para exibir toda a genialidade que tinha, ele contou com a ajuda de grandes parceiros, tanto no Santos quanto na Seleção Brasileira. Atletas de qualidade inquestionável e que estão entre os maiores da história, contribuindo para a estrela do Rei brilhasse sempre mais.
Um deles foi Coutinho, que também chegou bem jovem ao Peixe, aos 14 anos, e ganhou espaço antes mesmo de atingir a maioridade, em 1958. Eles mostraram grande entrosamento de cara, formando uma dupla que levou o Peixe a conquistas como duas Copas Libertadores e dois Mundiais de Clubes.
Uma contusão impediu que dupla repetisse o sucesso na Copa do Chile, em 1962, mas a parceria no Santos seguiu até 1968. Viver à sombra do Rei, porém, começou a incomodar Coutinho. “Passei 12 anos fazendo tudo ao lado do Pelé. Não aguento mais falar dele”, disse, em certa ocasião.
Depois de Coutinho, o maior parceiro de Pelé no Peixe foi Toninho Guerreiro. Ele chegou à Vila Belmiro em 1962 e quatro anos mais tarde foi artilheiro do Paulista, com 27 gols, impedindo que o Rei atingisse a marca de maior goleador do compeonato pela 10ª vez consecutiva.
Revelado pelo Noroeste, de Bauru, ele ainda tem recorde que nem Pelé conseguiu: cinco títulos paulistas seguidos, sendo três pelo Santos (1967, 1968 e 1969) e dois pelo São Paulo (1970 e 1971). Ficou fora da Seleção Brasileira que disputou a Copa do México, não podendo repetir com a amarelinha a dupla com o maior jogador de todos os tempos.
Craques
Na Seleção, aliás, Pelé teve grande afinidade em campo com Garrincha. Tanto que, com a dupla, o Brasil nunca foi derrotado: de 18 de maio de 1958 a 12 de julho de 1966 foram 40 jogos, com 36 vitórias e quatro empates. Juntos, marcaram 55 gols: Pelé, 44, e Garrincha, 11.
Eles se completavam. Mas também conseguiam brilhar separados. Tanto que, com a contusão do camisa 10 em 1962, coube ao Anjo das Pernas Tortas comandar o Brasil na conquista do bi no Chile.
Outro grande parceiro de Pelé com a amarelinha foi Vavá. Foram bicampeões mundiais com a Seleção Brasileira, com Vavá sendo um dos artilheiros no Chile, com quatro gols. “Foi um dos maiores atacantes que vi jogar”, escreveu Pelé no Twitter, em 12 de novembro de 2018, quando o ex-companheiro, morto em 2002, completaria 84 anos. E contrariando muitos que afirmavam que Pelé e Tostão não poderiam atuar juntos, a dupla não só teve grandes atuações com se completou.
Foto: Arquivo EM