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Pessoas que tiveram dengue podem ser mais resistente a Covid- 19, diz estudo Pesquisa foi conduzida pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis.

22 de setembro de 2020, 20h31 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

A Universidade Duke, na Carolina do Norte, dos EUA, trouxe à tona um estudo apontando que lugares em que grande parte da população contraiu dengue no ano passado e no começo deste ano demoraram mais tempo para ter transmissão de COVID-19 e registraram números menores de casos e de morte, indicando uma possível interação imunológica entre os dois vírus.

A conclusão é de um estudo liderado pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis, professor catedrático da Universidade Duke, na Carolina do Norte, que desde o início da pandemia se dedica a estudar o comportamento do coronavírus no Brasil. O estudo foi enviado a um repositório de pesquisas a serem publicadas em revistas científicas e ainda não foi revisado por pares.

A pesquisa, publicada na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares, comparou a distribuição geográfica dos casos de covid-19 com a disseminação da dengue em 2019 e 2020 no Brasil.

Locais com taxas mais baixas de infecção por coronavírus e crescimento mais lento de casos foram os mesmos que sofreram intensos surtos de dengue neste ano ou no último, descobriu Nicolelis.

De acordo com Nicolelis, a pesquisa indica que também há a possibilidade de que vacinas aprovadas ou em desenvolvimento para a dengue possam provocar alguma forma de proteção contra o novo coronavírus.

“Essa descoberta surpreendente levanta a intrigante possibilidade de uma reação cruzada entre o vírus da dengue e o SARS-CoV-2. Se comprovada correta em futuros estudos, esta hipótese pode significar que a infecção pela dengue ou uma eventual imunização com uma vacina eficaz e segura para dengue poderia produzir algum tipo de proteção imunológica para SARS-CoV-2, antes de uma vacina para SARS-CoV-2 se tornar disponível”, diz o estudo, visto com exclusividade pela Reuters.

O pesquisador ressaltou, em entrevista exclusiva à Reuters, que já existem trabalhos mostrando que pessoas que têm sorologia positiva para dengue testam positivo para coronavírus sem ter coronavírus, sugerindo que essas pessoas produzem um anticorpo que age nas duas doenças.

“Isso indica que existe uma interação imunológica entre os dois vírus que ninguém poderia esperar, porque os dois vírus são de famílias completamente diferentes”, afirmou.

O estudo ainda menciona dados do Ministério da Saúde que dizem que os casos de dengue no Brasil começaram o ano em um ritmo muito mais acelerado do que em 2019, mas tiveram uma queda brusca a partir da semana epidemiológica de número 11 (encerrada em 13 de março), diretamente proporcional a uma aceleração dos casos de COVID-19. Esses dados ainda reiteram que o surto de dengue se encerrou no país semanas antes do que no ano anterior, enquanto a COVID-19 fez apenas avançar.

O neurocientista brasileiro ainda levantou dados para a correlação entre dengue e coronavírus para outros 15 países da América Latina, África e Ásia, e o comportamento se repetiu. Vale ver que a equipe também comparou as estatísticas de COVID-19 com os dados de chikungunya, doença que também é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti no Brasil, e não houve qualquer correlação.

O Brasil tem o terceiro maior número de infecções por coronavírus no mundo, com mais de 4,4 milhões de casos – atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia.

Em estados como Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, com alta incidência de dengue no ano passado e no início deste ano, o coronavírus demorou muito mais para atingir um nível de alta transmissão na comunidade em comparação com estados como Amapá, Maranhão e Pará, que tiveram menos casos de dengue.

Com informações da Reuters.
Foto: Flickr/US Department of Agricultre/Creative Commons.

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