A TV Globo revelou nessa segunda-feira (31) um esquema montado com funcionários públicos para fazer plantão na porta dos hospitais municipais do Rio de Janeiro, atrapalhar reportagens e impedir que a população fale e denuncie problemas na área da Saúde.
Conforme publicou o G1, a organização tem escalas diárias, horários rígidos e ameaças de demissão.
Dessa forma, por grupos de Whatsapp, funcionários públicos são distribuídos por unidades de saúde municipais para fazerem uma espécie de plantão. Entre os participantes de um dos grupos, um número aparece registrado como sendo do próprio prefeito, Marcelo Crivella.
De acordo com apuracão do Jornal Nacional, da TV Globo, o prefeito já usou esse número.
“O prefeito, ele acompanha no grupo os relatórios e tem vezes que ele escreve lá: ‘Parabéns! Isso aí!’”, contou à TV Globo um dos participantes dos grupos.
Segundo investigação do G1, os agressores são contratados da prefeitura do Rio. Recebem salários pagos pelo contribuinte para vigiar a porta de hospitais e clínicas, para constranger e ameaçar jornalistas e cidadãos que denunciam os problemas na saúde da capital fluminense.
Depois de bater uma espécie de ponto, os funcionários públicos monitoram e relatam tudo o que acontece na porta das unidades de saúde. Principalmente a chegada dos jornalistas.
Repercussão
Entidades de jornalismo e de direitos humanos enviaram notas de repúdio às tentativas de funcionários da prefeitura do Rio de impedir o trabalho da imprensa na porta de unidades de saúde municipais. Veja abaixo:
A Associação Brasileira de Imprensa afirmou que os episódios repetidos nas portas dos hospitais mostram que não estamos diante de fatos isolados, mas de uma política do prefeito pra constranger repórteres e cidadãos.
“A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) denuncia mais um atentado contra a democracia por parte do prefeito Marcelo Crivella. Em ações orquestradas, funcionários da prefeitura tentam intimidar, com agressões verbais e ameaças de agressões físicas, jornalistas que trabalham em reportagens sobre a situação de calamidade dos hospitais públicos no Rio. As ameaças se estendem aos usuários que prestam depoimentos sobre o mau atendimento. Episódios ocorridos nas portas de vários hospitais municipais nos últimos dias mostram que não estamos diante de fatos isolados, mas de uma política do prefeito para constranger repórteres e cidadãos. A ABI reafirma seu compromisso com a liberdade de expressão e deixa claro que irá às últimas consequências para defender esses princípios. Não aceitaremos que o prefeito Crivella tente violentar a democracia e impeça o trabalho da imprensa”, diz a nota, assinada pelo presidente Paulo Jeronimo.
A Associação Nacional de Jornais lamentou que funcionários da prefeitura do Rio estejam impedindo a atividade jornalística e afirmou que os maiores prejudicados são os cidadãos do Rio, a quem esses funcionários deveriam prestar seus serviços e de quem recebem seus salários.
O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, Marcelo Träsel, afirmou que a “estratégia de constranger entrevistados e repórteres ou impedir o acesso a instituições públicas é não apenas um retrocesso autoritário, mas uma estratégia para minar a democracia e a liberdade de imprensa”: “É dever do poder público prestar contas à sociedade e fornecer informações transparentes sobre eventuais falhas no sistema de saúde”.
O presidente da Abraji disse ainda que usar servidores públicos ou acionar militantes para impedir o trabalho de repórteres demonstra incapacidade de lidar com críticas e grave ameaça à liberdade de imprensa.
Maria Laura Canineu, diretora da Human Rights Watch no Brasil, disse: “Em uma democracia, as autoridades em todos os níveis devem respeitar o direito da população de acessar informações de interesse público, especialmente na área da saúde durante uma pandemia que matou já mais de 120.000 brasileiros . O alegado envolvimento do prefeito Crivella em um esquema para restrição do trabalho da imprensa não é só um absurdo, mas um atentado a direitos fundamentais”.
Foto: TV Globo/Reprodução