Por Metrópoles
O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta terça-feira (5/4) que o Brasil passou por “momentos difíceis” durante os três anos e três meses de seu governo. E ao discursar durante cerimônia de cumprimento aos oficiais-generais promovidos, o chefe do Executivo federal afirmou que sofre “açoites quase que diários” por parte de “alguns poucos”.
Em sua fala, o presidente não citou nomes, mas disse que esses “açoites” são motivados por “interesses pessoais”.
“O Brasil já viveu, nesses três anos, momentos difíceis. E às vezes a gente se pergunta como é que a gente consegue ainda estar em pé com os problemas que ninguém esperava. Como o da pandemia, falta de chuva, guerra quase do outro lado do mundo, problemas internos. Açoites quase que diários — não para defender a pátria, mas por interesses pessoais de alguns poucos que podem muito, mas tenho certeza, não podem tudo”, declarou Bolsonaro.
Apesar de não ter citado nomes, o mandatário do país fez referência aos três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – e que também integram o Tribunal Superior Eleitoral (TSE): Luís Roberto Barroso (ex-presidente da Corte), Edson Fachin (atual presidente) e Alexandre de Moraes (que irá presidir o tribunal durante o pleito de outubro). O presidente costuma dizer que os ministros acham que são os “donos da verdade”.
Nessa segunda-feira (4/4), durante almoço com empresários, no Rio de Janeiro, o presidente da República pediu para o setor boicotar a imprensa e parar de anunciar em veículos que, segundo ele, “mentem o tempo todo”. Na sequência, ele criticou os ministros do STF, mas sem citá-los. Disse que “enchem o saco o tempo todo”.
“Eu peço a vocês [empresários], órgãos de imprensa que mentem o tempo todo, não anunciem nesses órgãos de imprensa. Não podemos avançar com mentiras. Falhas? Temos. Nós nos corrigimos quando se faz necessário. Mas realmente não é falha”, disse Bolsonaro.
“E não é só a imprensa. Tem dois ou três de outro poder que ficam enchendo o saco o tempo todo. Não admitem a gente trabalhar em paz no nosso país. E dizer a todos vocês, vocês não serão ninguém se faturarem muito, mas se perderem a liberdade”, acrescentou.
Barroso, Fachin e Moraes são o alvo predileto da artilharia de Bolsonaro, que diz não criticar poderes, mas autoridades. Após manifestação de 7 de Setembro, no ano passado, o presidente chegou a pedir ao Senado o impeachment de Moraes, o que não prosperou.
Outras críticas
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro voltou a lançar dúvidas sobre as eleições, quando disse, durante agenda no Nordeste: “não serão dois ou três” que vão decidir a contagem dos votos nas eleições de outubro.
Ele também disse esperar que as eleições deste ano ocorram “sem nenhuma surpresa” por parte da Justiça Eleitoral.
A volta das críticas de Bolsonaro aos ministros ocorre no momento em que ele é aconselhado, pelo comitê que trabalha pela sua reeleição como presidente da República, a “ter calma”. O grupo é liderado pelo Centrão.
Última pesquisa do Instituto Datafolha mostra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 43% das intenções de voto para o primeiro turno, contra 26% de Bolsonaro. Segundo o levantamento, a reprovação do governo Bolsonaro caiu para 46%. A aprovação da atual gestão é de 25%.
A avaliação do Planalto é de que críticas ao STF e ao sistema eleitoral acenam à base mais radical, que teve grande influência na eleição de Bolsonaro em 2018.
Foto: Igo Estrela/Metrópoles