Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg – blogdolindenberg@hojeemdia.com.br
A impressão que se tem é que o presidente Jair Bolsonaro agiu por impulso ao reunir os embaixadores no Palácio da Alvorada para atacar as urnas eletrônicas e os ministros do Supremo Tribunal Federal. Por que não parece possível que o presidente tenha decidido do alto do seu cargo cometer o que já se considera de extremo risco a menos de 80 dias das eleições.
A situação de Bolsonaro chegou a tal ponto que o comando de sua campanha à reeleição já propõe que o presidente terceirize as críticas às urnas eletrônicas e deixe de capitanear os ataques ao sistema eletrônico de apuração de votos. O comando da campanha acha que o que houve na segunda-feira, dia 18, teria sido um “equivoco eleitoral” – a batatada de Bolsonaro – de tal forma que, como dificilmente o presidente abandonará o discurso, por mais bizarro que seja, será melhor que essa besteira seja feita por ministros ou algum deputado bolsonarista num esforço hercúleo para dissociá-lo de assunto tão indigesto. É isso o que o comando da campanha à reeleição de Bolsonaro tem dito a ele. Ao que parece, as próprias Forças Armadas têm falado sobre isso com o presidente, de tal forma que nesse caso seria providencial um recuo estratégico.
De fato, há pelo menos alguns indícios de que Bolsonaro atravessou o sinal. Um deles foi a nota expedida pela embaixada norte-americana, dizendo que o Brasil é um exemplo para o mundo quando se fala em voto eletrônico. E não menos grave a posição adotada pelos procuradores eleitorais que acionaram Augusto Aras, chefe da Procuradoria Geral da República, para que ele mova uma investigação contra Jair Bolsonaro, até porque o presidente usou um palácio oficial e seu discurso foi transmitido por uma tevê estatal, o que poderia caracterizar como abuso de poder econômico.
O problema é que o presidente não se emenda e nem está convencido de que teria feito uma burrada a menos de 80 dias da eleição. O que o comando da campanha quer é que Bolsonaro fique mais contido até para que seus índices de rejeição caiam a níveis aceitáveis e nesse sentido possa capitalizar a queda do preço dos combustíveis – que na verdade caíram porque despencaram os preços internacionais aos quais a Petrobrás está subordinada – além do aumento do Auxílio Brasil que já será pago em agosto a R$ 600 por cabeça.
Nesse sentido, teme-se que Bolsonaro sofra mais um deslize na convenção nacional do partido dele, domingo, até porque ao que se saiba é o próprio Bolsonaro quem está escrevendo o discurso dele. Há quem defenda inclusive que a mulher do presidente, Michele Bolsonaro, discurse na convenção, tudo para que caiam os índices de rejeição do presidente. O problema é conter os impulsos de Bolsonaro, sempre disposto a radicalizar o discurso, a tal ponto que alguns ministros das cortes superiores já até imaginam que o presidente faz isso de propósito para que o Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, casse o seu registro e o considere inelegível tantas as bobagens que tem dito ultimamente, sobretudo na tal reunião, tida como fatídica, na segunda-feira.
Foto: Isac Nóbrega/PR