O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, virou alvo de críticas no Parlamento Europeu ontem (29), em uma sessão para discutir a pandemia na América Latina. Durante o debate, foram criticados o “negacionismo” e a “necropolítica” do mandatário brasileiro.
No debate, os deputados conclamaram a União Europeia (UE) a aumentar a cooperação com a América Latina em geral, não apenas na compra e distribuição de vacinas, mas também no combate à desinformação sobre o vírus. O objetivo da sessão era discutir justamente o impacto da pandemia na América Latina e como a União Europeia pode ajudar os países latino-americanos a enfrentar a Covid-19.
O presidente brasileiro recebeu duras críticas por sua gestão na Pandemia do Coronavírus que já matou no país 400 mil pessoas.
“Com a gestão criminosa de Bolsonaro, ele em vez de fazer guerra ao vírus faz guerra contra a ciência”, acusou o deputado espanhol Miguel Urban Crespo, da esquerda europeia.
Para o deputado, o presidente brasileiro faz “necropolítica e lesa humanidade”, acrescentando que “Bolsonaro é não apenas um perigo para o Brasil, mas para o mundo inteiro”.
A deputada Maria Manuel Leitão, do Partido Socialista português, notou que a pandemia castigou mais a América Latina, que tem 8,4% da população mundial, mas já conta 25% das mortes totais causadas pela covid. “Precisamos ajudar na compra, produção e distribuição de vacinas e no combate à desinformação”, afirmou.
A deputada alemã Anna Cavazzani considerou que a tragédia sanitária no Brasil poderia ter sido evitada, e acusou o presidente Bolsonaro de estratégia deliberada. Observou que há uma diferença entre tentar combater o vírus e se recusar a fazer isso.
Bolsonaro, desde o começo, se recusou a tomar medidas com base científica, encorajou manifestações de massa, questionou a vacinação, foi à Justiça contra governadores que decretaram medidas de confinamento, e quase 400 mil pessoas estão mortas”, acusou.
Leila Chaib, da esquerda francesa, falou de “política criminosa de Bolsonaro”, enquanto Fabio Castaldo, do Movimento 5 Stelle italiano contou no plenário do Parlamento Europeu que no Brasil pessoas entubadas são amarradas na falta de sedativos.
A deputada portuguesa Isabel Santos, da social-democracia, denunciou o “mais irracional negacionismo de Bolsonaro e de ele ter feito tudo para a população não ser vacinada. Não foi erro, mas irresponsabilidade deliberada. O tempo e o povo vão julgá-lo”.
A deputada sueca Jutty Guteland, da aliança progressista europeia, reclamou que a situação ficou pior no Brasil com a “falsa propaganda” do presidente brasileiro. A deputada Isazkun Bilbao Barandica, do Renova Europa, acrescentou que a “atuação de Bolsonaro ajuda o vírus a matar’”.
A deputada húngara Kattalin Cseh comparou a atuação de Bolsonaro ao que vê em seu país também, em termos de negacionismo da dimensão da crise.
Entre parlamentares de centro-direita, o tom foi igualmente de condenar o negacionismo. Alguns não mencionaram Bolsonaro, mas “líderes negacionistas que cometeram inumeráveis erros”. Mas destacaram também erros na Europa no combate ao vírus.
O deputado espanhol Jordi Canas sugeriu cooperação em vez de querer dar lições à América Latina, no que foi seguido por parlamentares como Joachim Stanislaw Brudzinski, da Polônia, José Manuel Fernandes, de Portugal, Leopoldo Gil, da Espanha, e Paulo Rangel, de Portugal.
A maioria dos deputados defendeu flexibilização de patentes para produção de vacinas. Insistiram na importância de a UE contribuir nas campanhas de vacinação na América Latina e no combate ao fake news.
A comissária europeia para estabilidade financeira, Mairead McGuinness, reconheceu o “impacto devastador” do vírus na América Latina e observou que a cooperação com a região vai continuar firme.
Os legisladores conservadores que participaram no debate também apresentaram críticas, mas sem mencionar o nome do presidente brasileiro.
O Brasil é o país mais populoso da América Latina, com 212 milhões de habitantes. Na sequência vêm México (128 milhões), Colômbia (50 milhões) e Argentina (45 milhões).
Países mais afetados
Brasil e México são também os países latino-americanos mais afetados pela pandemia. O Brasil é o segundo do mundo em número de mortes (398 mil) e o terceiro em casos confirmados (14,4 milhões), atrás apenas de Estados Unidos e Índia.
O México é o terceiro em óbitos (215 mil) e o 15º em infectados (2,3 milhões), mesmo sendo um dos que menos testa no mundo. O país tem uma média diária de 100 testes a cada 1 milhão de habitantes, patamar próximo ao de nações africanas como Gana (90), Quênia (109) e Togo (110).
A Colômbia é o 11º país com mais mortes (72 mil) e o 12º em casos (2,8 milhões). A Argentina, o 14º em óbitos (62 mil) e o 11º em infectados (2,9 milhões).
Países com mais mortes por Covid a cada 1 milhão de habitantes:
1. Hungria2,8 mil
2. República Tcheca2,7 mil
3. San Marino2,6 mil
4. Bósnia e Herzegovina2,5 mil
5. Montenegro2,36 mil
6. Bulgária2,34 mil
7. Macedônia do Norte- 2,2 mil
8. Eslováquia – 2,1 mil
9. Bélgica – 2,08 mil
10. Eslovênia – 2,03 mil
11. Itália – 1,9 mil
12. Reino Unido – 1,88 mil
13. Brasil – 1,87 mil
14. Peru – 1,84 mil
15. Polônia- 1,75 mil
16. Estados Unidos – 1,73 mil
17. Croácia – 1,71 mil
18. México – 1,67 mil
19. Espanha – 1,667 mil
20. Portugal- 1,664 mil
Fonte: Our World in Data (28/04/21)
CPI da Covid
As críticas ao presidente Bolsonaro ocorrem na semana em que o Senado brasileiro instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação do governo na pandemia, no momento em que o país contabilizou 400 mil mortes.
Em sua live tradicional de quinta-feira, Bolsonaro disse que não está preocupado com a investigação. Ontem, ele voltou a criticar as medidas restritivas e lamentou as mortes no país: ‘Chegou a um número enorme de mortes aqui’. Sem manifestar muita solidariedade ele disse ser necessário “se acostumar com o vírus”.
Com G1 e Época
Foto: reprodução