Por Itatiaia
Lideranças do Partido Socialista Brasileiro (PSB) se movimentam para tentar emplacar a candidatura de Paulo Brant à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em 2024. Vice-governador de Minas Gerais durante o primeiro mandato de Romeu Zema (Novo), Brant voltou aos quadros socialistas em março deste ano, após alguns anos fora da legenda. Nas últimas semanas, o PSB intensificou as conversas com forças políticas posicionadas do centro à esquerda sobre a possibilidade de liderar uma chapa na corrida pela sucessão de Fuad Noman (PSD) — que ainda não definiu se tentará renovar o mandato.
As articulações, aliás, proporcionaram a volta do ex-prefeito Marcio Lacerda à cena política. Reservadamente, interlocutores afirmam que há conversas com Lacerda, que venceu as eleições municipais de 2008 e 2012 pelo PSB. O objetivo é tê-lo como voz importante nas conversas que podem desaguar na candidatura de Brant.
À Itatiaia, Brant diz estar dialogando com “várias forças políticas” sobre o cenário político. A ideia, segundo ele, é saber se a conjuntura vai permitir uma candidatura ampla, que não seja composta apenas por forças do PSB.
“Uma candidatura não pode ser projeto pessoal — ou de um partido só. Não adianta você viabilizar a eleição. Você tem de viabilizar, também, o governo. Isso ocorre a níveis municipal, estadual e federal: a dificuldade dos governantes de estabelecer maiorias sustentáveis para implementar algum projeto de governo”, afirma.
Brant, aliás, viveu de perto as dificuldades de um governo sem maioria no Legislativo. Isso porque, quando foi eleito vice-governador, venceu a eleição por meio de uma chapa “puro-sangue” do Novo. Depois, Zema teve problemas para reunir partidos em torno de sua gestão — cenário bem diferente do segundo mandato, em que o governador, reeleito com o apoio de 10 legendas, conseguiu o apoio de parte considerável dos deputados estaduais.
As conversas que culminaram no retorno de Paulo Brant ao PSB foram encabeçadas pelo ex-deputado federal Mário Assad Júnior, que no início do ano assumiu a presidência estadual do partido. Segundo ele, a presença do ex-vice-governador “oxigenou” o partido.
“O nome de Paulo Brant é, hoje, o nome que unifica nosso partido com vistas à eleição municipal”, garante. “Hoje, pela direção do partido, Paulo é ‘pré-candidatíssimo’. É um nome que tem plenas condições de fazer um grande governo para a cidade”, completa.
Por ora, segundo soube a reportagem, lideranças do PSB já fizeram contatos com partidos como PT, PV e PCdoB — que formam uma federação. A informação vai ao encontro, justamente, da ideia de Brant de lançar uma candidatura com contornos amplos. Outras forças, como a Rede Sustentabilidade e o União Brasil, também chegaram a ser procuradas. Houve, ainda, um bate-papo com o ex-prefeito Alexandre Kalil, do PSD.
Outras forças à esquerda que cogitam uma candidatura também defendem a unificação dos partidos do mesmo campo. O PT, por exemplo, aventa os nomes do deputado federal Rogério Correia e das parlamentares estaduais Beatriz Cerqueira e Macaé Evaristo. No PDT, por sua vez, há a deputada Duda Salabert.
Amparo em legado e ‘reconstrução’
Além das vitórias de Marcio Lacerda, o PSB triunfou em BH em 1996 e 2000, ocasiões em que Célio de Castro foi eleito prefeito. Ambos são citados por Mário Assad, que fala em “reconstrução” do partido na cidade. Depois de não conseguir eleger vereadores em 2020, a ideia é retomar a influência socialista no debate público belo-horizontino. Neste momento, apesar da ausência de representatividade no Legislativo, o PSB adota posição de independência a Fuad Noman.
“O PSB tem uma história de grande êxito governando a cidade. Marcio Lacerda foi um grande prefeito de Belo Horizonte e realizou muitas obras. O doutor Célio de Castro foi um grande prefeito e uma figura humana incrível”, afirma o dirigente.
O nome de Célio, aliás, segue “vivo” nos bastidores do PSB. Isso porque, além das constantes menções ao “Doutor BH”, o filho dele, Rodrigo, é filiado à agremiação.
Em 2016, quando o partido debatia o sucessor de Lacerda, o plano inicial girava em torno de uma candidatura de Paulo Brant. Uma articulação de última hora, entretanto, mudou a rota e entregou a liderança da chapa a Délio Malheiros, então vice-prefeito, que concorreu pelo PSD. O vice, lançado pelos socialistas, foi Josué Valadão, o mesmo que deixou a secretaria de Governo de Fuad na semana passada.
Integração da Grande BH em pauta
O discurso no PSB é que, para além das conversas sobre nomes que podem ir às urnas, é preciso debater as lacunas da cidade. Paulo Brant diz que os problemas na mobilidade urbana de Belo Horizonte são “gravíssimos” e defende a união dos prefeitos da Região Metropolitana para tratar de temas comuns.
“Grandes partes dos problemas de Belo Horizonte são de natureza metropolitana, como a mobilidade urbana, a saúde e o saneamento. Hoje, no Brasil, as metrópoles não são poderes autônomos, como em muitos países da Europa”, opina. “Minas Gerais tem uma agência que cuida da Região Metropolitana de BH. É uma agência muito qualificada, pequena e com técnicos qualificados, mas que não tem capacidade política”, completa.
Mário Assad, por sua vez, cita os cidadãos em situação de rua. “A sociedade está vendo as pessoas vivendo nas ruas. O poder público está vendo. Mas não se apresenta uma solução. Não há preocupação com isso”, considera.
Críticas a Zema
No segundo turno da eleição presidencial do ano passado, Paulo Brant apoiou Luiz Inácio Lula da Silva (PT). À época, ele estava filiado ao PSDB — e chegou, inclusive, a tentar a reeleição como vice-governador por meio da chapa do também tucano Marcus Pestana.
A aliança de Brant a um rival de Zema na eleição do ano passado foi o estopim para o rompimento de ambos. O então vice-governador chegou a ter os servidores de gabinete exonerados e ficou sem estrutura formal de trabalho.
Durante a conversa com a Itatiaia, o ex-vice-governador criticou o tom adotado por Zema para reivindicar “protagonismo político” do Sul e do Sudeste ante estados do Norte e do Nordeste. Ele chamou a fala de “infeliz”.
“Uma coisa é os estados do Sul e do Sudeste se organizarem — e isso é legítimo e democrático — para defender seus interesses. Agora, essa provocação, essa comparação, com o Nordeste, é muito infeliz e extemporânea. Não contribui para o momento que o Brasil está passando, de buscar essa pacificação”, assinala.
Foto: Sarah Torres/ALMG