O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou nesta quinta-feira (13) que concorda com a ideia de um cessar-fogo de 30 dias na guerra contra a Ucrânia, mas destacou a necessidade de negociar os termos diretamente com os Estados Unidos, responsáveis pela proposta.
Essa foi a primeira manifestação pública de Putin sobre o plano americano, já aceito por Kiev. Ele fez a declaração durante uma entrevista coletiva no Kremlin, após uma reunião com o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko.
“Estamos de acordo com a proposta de interrupção dos combates, mas partimos do princípio de que essa trégua deve conduzir a uma paz duradoura e eliminar as causas fundamentais do conflito”, afirmou o líder russo.
Putin, que na véspera visitou a região de Kursk – onde há confrontos entre tropas russas e ucranianas –, reforçou que não se opõe ao cessar-fogo, mas levantou diversos questionamentos sobre os detalhes do acordo. Para ele, qualquer negociação precisa garantir estabilidade de longo prazo.
“A ideia do cessar-fogo é válida e, naturalmente, apoiamos, mas há questões a serem discutidas. Por que exatamente 30 dias? Seria para permitir a mobilização ou o rearmamento da Ucrânia? Não está claro como a situação vai se desenvolver em Kursk e outras áreas. Quem monitoraria a trégua? Estamos falando de 2 mil quilômetros de linha de frente”, pontuou Putin.
De acordo com o portal Politico, o presidente russo tem um encontro agendado ainda nesta quinta-feira com Steve Witkoff, enviado especial do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que desembarcou na Rússia no início da tarde, no horário local (manhã em Brasília).
Putin também mencionou a possibilidade de um novo contato telefônico com Trump para discutir a proposta.
Críticas à proposta dos EUA
Mais cedo, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que Moscou está “aberta” ao diálogo com representantes dos Estados Unidos, mas enfatizou que certas exigências precisam ser atendidas para que um acordo seja alcançado.
O principal assessor de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov, foi mais crítico à proposta de Washington, classificando-a como uma manobra para favorecer o Exército ucraniano.
“Essa proposta nada mais é do que um alívio temporário para as forças armadas da Ucrânia. Não nos oferece qualquer vantagem, apenas dá a Kiev tempo para se reorganizar, reabastecer e continuar o conflito. Neste momento, ninguém precisa de medidas que apenas simulem esforços pela paz”, declarou Ushakov.
Por sua vez, Trump disse esperar que Putin aceite o cessar-fogo e indicou que poderia pressioná-lo a concordar com os termos. No entanto, evitou detalhar quais medidas tomaria caso o Kremlin rejeitasse a proposta, limitando-se a afirmar que “posso agir financeiramente, o que seria muito ruim para a Rússia, mas não quero seguir esse caminho porque desejo alcançar a paz”.
Rússia quer garantias e reforça exigências
Moscou defende que qualquer acordo deve resultar em um cessar-fogo definitivo, rejeitando soluções temporárias. Autoridades russas reforçaram que uma trégua sem garantias concretas dificilmente será aceita por Putin. Entre as principais exigências do Kremlin estão:
• Garantias de segurança para a Rússia;
• Proibição da presença de tropas da Otan na Ucrânia;
• Manutenção dos territórios já ocupados pelas forças russas;
• Compromisso de que a Ucrânia não poderá aderir à Otan.
Ao mesmo tempo, a Rússia busca melhorar sua posição estratégica antes de qualquer negociação. Apesar do avanço militar no conflito, Moscou tem interesse em recuperar áreas na região de Kursk, onde tropas ucranianas lançam contraofensivas desde agosto de 2024.
Na quarta-feira, Putin apareceu vestindo traje militar – algo incomum nos últimos meses da guerra – durante sua visita a Kursk. Ele ordenou que seus comandantes acelerassem as operações para consolidar o controle da área.
Nesta quinta-feira, o governo russo afirmou que suas tropas retomaram a cidade de Sudzha, o maior centro urbano da região, e garantiu que toda a província será reconquistada em breve.
A Ucrânia surpreendeu a comunidade internacional em agosto do ano passado ao atravessar a fronteira e tomar parte do território russo. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, vê a manutenção da presença de suas tropas na região como um trunfo para futuras negociações.
Imagens de satélite analisadas pela Reuters indicam que as forças ucranianas em Kursk estão quase cercadas pelo exército russo, o que pode impactar diretamente os rumos das tratativas de paz.
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