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Quando o presidente dá mau exemplo

29 de março de 2020, 18h32 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Ao desrespeitar a orientação do seu ministro da Saúde, Henrique Mandetta, e sair pelas ruas de Brasília, como fez ontem, o presidente Jair Bolsonaro dá no minimo dois maus exemplos à população, a quem deveria conduzir num momento de quase pânico em que o pais está diante do ataque do novo Coronavírus – não só o Brasil, mas o resto do mundo. Pois foi o que fez Jair Bolsonaro, repetindo o gesto tresloucado do dia 15 de março, quando convocou os seus eleitores às ruas, depois de voltar dos Estados Unidos, numa viagem desastrada em que 23 membros de sua comitiva foram confirmados positivamente com o vírus da morte. E o fez com a desfaçatez de sempre: todos nós iremos morrer um dia a exemplo daquela estupidez de que se ele pegar o vírus será uma “gripezinha”.

Ora, o país está agora sob dois focos: ou segue o mau exemplo do presidente, desrespeitando as normas não apenas de seu ministro da Saúde como também da Organização Mundial da Saúde (OMS), saindo alegremente às ruas, ou obedece a orientação dos governadores de Estado – o governador Zema não assinou a carta dos governadores – e fica em casa esperando o pico do coronavírus passar, que é a recomendação da OMS e do ministro Mandetta. Ou traduzindo, como quer demonstrar o presidente: fiquem em casa e afundem a economia do país ou voltem ao trabalho e salvem o país, ainda que com o sacrifício de milhões de vidas, já que a estimativa é de que mais de um milhão de brasileiros morrerão se escolherem o caminho enganoso de voltar ao trabalho antes da hora. Bolsonaro prefere esse caminho, como demonstrou ontem ao sair às ruas de Brasília para conversar com ambulantes, num dia aliás em que o jornal Valor exibe uma pesquisa que mostra a reação popular à posição de seu governante maior – seus índices de popularidade no sudeste, onde venceu com folga seus adversários em 2018, eleição da qual o ex-presidente Lula foi afastado pelo TSE se assemelham aos do Nordeste, onde sofreu a sua pior derrota no mesmo ano.

Este é o novo dilema do país: seguir as diatribes do presidente ou acompanhar a decisão majoritária dos governadores, que optam pelo isolamento domiciliar enquanto durar a viagem do vírus da morte pelo país. A vida ou a economia? Ora, a economia é possível recuperar-se depois. Uma vida, uma única vida perdida, não se recupera nunca. Bolsonaro prefere salvar a economia à custa de milhares de vidas. Não se trata mais de um mau exemplo, é um genocídio.

Foto: Joedson Alves, Agência EFE

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