Por Diário do Comércio
A conta de luz dos mineiros vai ficar mais cara a partir do próximo domingo (28). Isso porque, ontem, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a revisão periódica das tarifas da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). A medida impacta tanto os consumidores residenciais quanto o setor produtivo do Estado, sendo que os comerciantes e industriais devem repassar os reajustes de preços para os consumidores.
Cabe destacar que a elevação tarifária será distinta por classe de clientes. Conforme o órgão regulador, quem está ligado à rede de baixa tensão terá um aumento de 15,55%. O conectado a alta tensão sofrerá um acréscimo de 8,94%. Já o consumidor que usufrui da energia em residência receberá um incremento de 14,91%. O aumento médio dos valores será de 13,27%.
De acordo com o economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG), Stefan D’Amato, o reajuste resultará em um crescimento dos custos operacionais para as empresas. Sendo assim, vai reduzir suas margens de faturamento e, consequentemente, afetará seus investimentos. Logo, é provável que se tenha um repasse do incremento na conta de luz para os preços dos produtos e serviços ofertados.
“Dessa forma, os consumidores podem ser impactados com o aumento nas tarifas, refletindo em preços mais altos nos produtos e serviços que consomem. Porém, é importante ressaltar que o repasse pode variar conforme a concorrência no mercado e a capacidade das empresas absorverem parte desse aumento sem comprometer suas margens de lucro”, salienta.
Conforme a gerente de Energia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Tânia Santos, o efeito no setor industrial varia de acordo com o custo da energia na produção dos itens. Sendo assim, o impacto será maior, por exemplo, nas empresas eletrointensivas, como as fabricantes de vidro, borracha e cerâmica. Ainda conforme ela, normalmente as indústrias também repassam o reajuste tarifário para o produto final.
Aumento tarifário preocupa comerciantes
O encarecimento da conta de luz preocupa os comerciantes. Segundo D’Amato, o aumento foi além das expectativas do setor e se mostrou extremamente elevado. Vale lembrar que a categoria sofreu o maior reajuste, visto que a maioria do comércio utiliza baixa tensão.
Ainda conforme o economista, a alta ocorre em um momento incompatível com a recuperação econômica e a queda da inflação. E a decisão de aumentar significativamente os custos vai contra os esforços de estabilização econômica e controle inflacionário em curso.
“Com o comércio buscando se reerguer e os consumidores tentando se recuperar das crises econômicas e políticas, o impacto negativo desse aumento é agravado. Portanto, o aumento acima do esperado é um fator preocupante, pois contraria o momento de recuperação da economia e de controle inflacionário em que o País se encontra”, ressalta.
Elevação estimula migração de indústrias para o mercado livre de energia
Ao contrário do comércio, a indústria, que geralmente utiliza média e alta tensão, segundo Tânia Santos, já previa um reajuste dentro desses parâmetros.
Ainda conforme a gerente, sempre que há uma elevação tarifária, existe um favorecimento à migração das empresas que operam no mercado cativo para o mercado livre. Neste sentido, ela afirma que os associados da entidade que se interessarem podem procurar a área de energia da Fiemg para receber assessoria gratuita sobre a possibilidade de mudança.
“Esse novo mercado estará se abrindo a partir de janeiro de 2024. Com isso, deverá ter, no mínimo, cerca de 5 mil indústrias, que podem optar pela migração. E é uma grande oportunidade. Ao migrar, a empresa pode ter descontos superiores a 25% em relação ao mercado cativo no custo global de energia”, destaca.
Aloísio Vasconcelos, engenheiro, ex-diretor da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e ex-presidente da Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobras), ressalta que a expectativa para o final do ano é que saia uma nova legislação do setor elétrico, uma espécie de melhoria da Lei 14.300. Porém, em função da luta atual dos industriais para reduzir custos, deverá existir uma tendência de migração, visando uma tarifa mais favorável ao negócio.
“Na medida que você onera os custos, a tendência para se equilibrar internamente é buscar o mercado de energia mais favorável. Então eu creio que não é muita, mas a tendência de tentar migrar vai acontecer, sim, principalmente nos setores que tiverem um pouco mais de mão de obra intensiva”, avalia.
Foto: Alisson J. Silva