Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg – blogdolindenberg@hojeemdia.com.br
Com uma frase de efeito – “Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve” –, o ex-governador de São Paulo, João Dória, desistiu nesta segunda-feira da pré-candidatura à Presidência da República. E optou pela candidata do MDB, Simone Tebet, como possibilidade de uma terceira via, cada vez mais distante, até porque só mesmo a alta direção do MDB acredita que ela possa ganhar as eleições de outubro, polarizadas entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro, com vantagem para o primeiro.
O ex-governador João Dória ameaçava judicializar a indicação – na verdade ele venceu as prévias do PSDB, mas, na semana passada, o presidente do partido, Bruno Araújo, reuniu-se com os presidentes do MDB e Cidadania e o nome de Simone Tebet foi defendido como a candidata da terceira via, um posto que vem sendo ocupado pelo candidato do PDT, Ciro Gomes, em várias rodadas seguidas de pesquisas.
Na semana passada, o ex-governador faltou a uma reunião do PSDB em que deveria fixar a sua posição, mas sua ausência funcionou como uma espécie de senha de que a ala liderada por Aécio Neves estava ganhando força.
E assim foi.
Até que ontem, no início da tarde, João Dória jogou a toalha, mesmo tendo vencido as prévias com 53,9% dos votos, batendo o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que ficou em segundo lugar com 44,66%, e Virgílio Neto, com 1,3%.
Na sua fala de ontem, quando anunciou a renúncia à candidatura, o ex-governador João Dória reiterou o compromisso de seu partido, manobrado por trás contra ele, pelo ex-governador de Minas, Aécio Neves, que não aceitava a candidatura de Dória, e pela formação de um bloco politico para tentar derrotar o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Bolsonaro (PL), reafirmando que “o Brasil precisa de uma alternativa para os eleitores que não querem os extremos”.
A desistência de João Dória não traz maiores expectativas de vitória para a candidata da terceira via, Simone Tebet. Na verdade, essa terceira via já está ocupada há tempos por Ciro Gomes, que também não sai do lugar, girando aí entre 8 e 9 pontos, sempre dentro da margem de erro, enquanto o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro lideram a disputa com folga, com boa vantagem para o primeiro colocado.
E para onde vão os votos de João Dória?
Segundo o cientista político Felipe Nunes, “numericamente não tem mudança significativa porque Dória sempre apareceu nas pesquisas da Quaest com pouco voto (3 a 5%), mas Ciro Gomes tem maior potencial entre esses eleitores (de Dória) e Tebet é muito desconhecida”.
Felipe vai adiante e diz que “politicamente, Lula aumenta as chances de vitória no primeiro turno, com o voto útil, pois o eleitor de Dória rejeita mais Bolsonaro (77%) do que Lula (62%)”. Essa, portanto, seria a maior consequência que adviria da renúncia de João Dória à pré-candidatura à Presidência da República.
Foto: Gustavo Rampini/VEJA