Home Sem categoria República do Galeão: más lembranças também ensinam

República do Galeão: más lembranças também ensinam

7 de novembro de 2019, 13h29 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Com a participação direta do presidente da República, estão criando no Rio de Janeiro uma réplica canhestra da histórica e de má lembrança República do Galeão, de que falam os livros de nossa História. Nessa mesma narrativa se instala também o famoso “mar de lama” que levou o então presidente Getúlio Vargas ao suicídio e arrastou o país para uma grave crise institucional. A História tem esse mérito: nos ensina por onde caminhar.

Essa reminiscência é para lembrar aos atuais mandatários por onde devem se conduzir. Assim como em 1954 a imprensa teve papel importante, agora também, por coincidência está tendo. Especialmente a Rede Globo e a Folha de São Paulo – que fazem lembrar o ensinamento de Ruy Barbosa, segundo o qual, a imprensa são os olhos e os ouvidos da nação. Tudo isso para recomendar a uns e a outros que o país, assim como em 1954, vive momentos tumultuados, ainda que por razões diversas.

Mas é sempre oportuno lembrar que os homens nem sempre são donos de seus destinos. E que a história, como nos ensinam os estudiosos desse ramo do conhecimento humano, costuma pregar peças ao longo de sua trajetória.1954 foi assim. Nem os guardas que velavam o tumultuado sono do presidente Getúlio Vargas, no Palácio das Mangabeiras, e o viram andar de um lado para o outro, quase que à noite toda, poderiam imaginar que dois ou três dias depois ele dispararia contra seu próprio peito, ainda que para sair da vida e entrar para a história.

Não se quer dizer com isso que a história se repetirá – quase nunca se repete, a não ser como farsa. Mas ao mandar a Polícia Federal apurar se tal porteiro que estava de serviço no condomínio Vivendas da Barra, no dia em que a vereadora Marielle Franco e seu motorista foram assassinados, para saber se ele mentiu ou se foi induzido a erro com o propósito de denegrir a figura do presidente da República – personagem de uma minuciosa reportagem da Rede Globo – não custa lembrar que o Ministério Público Federal também requisitou o inquérito, criando aí uma duplicidade de ação que só visa tumultuar um fato que desde o seu início – o assassinato da vereadora fluminense – é nebuloso e que até hoje não se sabe quem matou ou mandou matar Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.

Criada essa, digamos, litispendência entre a Polícia Federal e o Ministério Público, que teria avocado o inquérito para apurar a suposta mentira do porteiro – e por que um simples porteiro haveria de inventar uma mentira? – sabe -se também que, na verdade, o porteiro que estava de trabalho no dia não seria o mesmo cuja voz teria sido exibida nas redes sociais como sendo o que autorizou a entrada de um dos suspeitos no Condomínio, onde vivia o então deputado federal, Jair Bolsonaro, de onde aliás saíram juntos, Edson Queiroz e Ronnie Lessa, supostos criminosos, para o duplo homicídio, até hoje não desvendado. Em suma, recomenda-se andar devagar com o andor por que o santo – se há santos nessa história – é de barro.

Foto Moro: Reprodução/Twitter @SF_Moro
Foto Getúlio Vargas: Reprodução/Wikipédia

LEIA TAMBÉM

1 comentário

Joe Fernandes 7 de novembro de 2019 - 17:21h

Na mosca, Berguim!
Na República do Galeão, criou-se o factóide do atentado fake ao Carlos Lacerda na rua Toneleros.
Na atual República das Fake News, ou dos Milicianos, criou-se o factóide da facada fake em Juiz de Fora.
A História ensina, mas burro não aprende.
Lacerda não foi eleito e os Bolsonaros podem terminar os mandatos na cadeia.

Responder

Envie seu comentário