Por Metrópoles
Tudo indica que as eleições presidenciais estão definidas neste 2º turno.
Desde o início do 2º turno, a diferença entre Lula e Bolsonaro caiu de 8% para 5%, no momento estável A rejeição a Bolsonaro mantém-se em 50%, Lula em 42%. A definição do voto está em 93%, indicador inédito no Brasil. Em Minas Gerais, swing state por excelência, Lula tem 5% a mais do que Bolsonaro.
São duas as principais variáveis nestas eleições: a economia e a democracia, ambas desfavoráveis a Bolsonaro. Adiciona-se também a COVID, onde o Brasil, com 2,7% da população obteve 10,5% dos óbitos mundiais. Com 688 mil óbitos, não existe uma pessoa ou família que não tenha tido óbito, ou que não tenha conhecimento de óbito em suas relações pessoais.
A estas variáveis, foi adicionada, principalmente no 2º turno, a “pauta de costumes”, campanha difamatória de fake news, sintetizada na fala de Damares, ex-Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e Senadora eleita pelo Distrito Federal, da suposta extração de dentes de crianças em Marajó para sexo oral, sem evidência ou comprovação, sempre como “culpa das esquerdas”, assim como outras assertivas de Bolsonaristas como o PT iria fechar igrejas, e outras. Mas, como diz a 3ª Lei de Newton, “a toda ação corresponde uma reação contrária de mesma intensidade”. A rejeição de Lula aumenta relativamente no início do 2º turno, mas logo retorna a seus níveis anteriores. Nas eleições de 2020 nos Estados Unidos, a polarização foi política, assim como neste ano na Itália. Aqui, batemos o recorde mundial da baixaria. O feitiço virou contra o feiticeiro, com pessoas que nunca dantes pensaram em votar no PT votando em Lula como suporte à democracia.
No total do eleitorado, Bolsonaro obteve 33% neste 1º turno, os mesmos 33% obtidos no 1º turno em 2018; Lula obteve 37% neste 1º turno, acima dos 34% em 2002, os mesmos 37% de 2006. Bolsonaro se reserva à 1/3 do eleitorado, das classes médias iliteratas, base social do fascismo, tão bem descrito nos trabalhos de Hanna Arendt, De Felice, e Mosse. Dão-se ao direito de se comportarem anomalamente na inspiração de seu líder, como no episódio de Roberto Jefferson, com o uso de granadas contra a Polícia Federal, explosivo privativo do Exército Brasileiro. Lula, com histórico de entrega na economia, e de política sindical sem afronta à democracia, embora com problemas de corrupção anterior em setores de seu governo, já precificado no voto, concatena uma frente ampla, simbolizada por Alckmin, Tebet, Fernando Henrique, empresários e intelectuais. O apoio de governadores eleitos a Bolsonaro é fluido, mais interessados no equacionamento de suas dívidas do que na geração de votos. A campanha de Bolsonaro sente os efeitos da possível derrota, já pavimentado o que poderia se chamar de “3º turno”, rota da conturbação.
E la nave va. Eleições definidas, a não ser por fato absolutamente imponderável.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus
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