“Intervenção militar com Bolsonaro!”, Gritava uma enorme faixa estendida à frente da carreata, que virou passeata e terminou em comício, em frente ao Palácio do Planalto, com a presença do presidente da República.
Os compartilhamentos de carros ocuparam toda a Esplanada dos Ministérios na manhã deste domingo, quando ocorreu o aviso de que Bolsonaro estava no caminho da manifestação, o maior deste ano.
Uma multidão entrou no lírio ao ver o seu líder, em mangas de camisa, descendo a rampa do palácio, cercada de segurança, com os braços estendidos para o alto, como o comandante de um exército de ocupação vitorioso.
Em transmissão ao vivo em suas redes sociais, Jair Bolsonaro proclama:
“Tenho certeza de uma coisa: temos o povo ao nosso lado, temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia e pela liberdade. E o mais importante: temos Deus conosco”.
Como não havia fardados de óculos escuros no seu lado, nem tanques nas ruas, esse não era mais um golpe militar como os outros.
Desta vez, não se trata de um golpe militar clássico, mas de um golpe militar, como ficou bem claro no discurso inflamado pelo ex-capitão do baixo claro, agora aliado ao Centrão.
“Quero governar sem interferência que possa atrapalhar o Brasil. Acabou a paciência! Chegou ao limite. Não tem mais conversa. Não faça mais conversas. Não faça mais frente, não seja tão exigente, faça a execução de uma Constituição. Ela será cumprida em qualquer preço, e ela tem tudo na mão ”
Para quem já disse que “eu sou uma Constituição”, pode imaginar o que virá pela frente, após sucessivas derrotas de Bolsonaro no STF e a exclusão de oito horas feitas por Sergio Moro no sábado, no mesmo prédio da Polícia Federal, em Curitiba, onde começou a Operação Lava Jato, que abriu como portas de saída para o ex-capitão expulso do Exército por planejados poderosos terroristas.
À sua frente, selecionando “armas para os cidadãos de bem” e pregando ou fechando o Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal, ou o cenário assustador de uma democracia em colapso.
Bem no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, uma equipe de reportagem do Estadão, o jornal centenário que apoia todos os golpes na nossa república bananeira, é atacada por robustos militares, uniformizados com as camisas amarelas da seleção.
O fotógrafo Dida Sampaio e o motorista do jornal foram agredido por socos e ponta pés para a imprensa ficar sabendo qual é o seu lugar na nova ordem bolsonarista.
Como disse à sua equipe mestre Clóvis Rossi, chefe de reportagem do Estadão em 13 de dezembro de 1968, quando foi decretado no AI-5, após o fechamento da edição referente ao dia:
“Meninos, uma brincadeira acabou. Cuidem-se”.
Na escala militar golpista, que começou duas semanas atrás, em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, quando Bolsonaro foi mais uma manifestação do pediatra intervenção militar e a volta da AI-5, este primeiro domingo de maio será marcado como o maior desafio às instituições democráticas desde o golpe militar de 1964.
No meio da maior crise sanitária mundial, que já deixou 8 milhões de mortos e mais de 100 mil contaminados pelo vírus da doença no país, o Brasil está entrando agora no AI-6, meio século depois, sob o comando de um alucinado na paisana, que desistiu de governar o país para tornar o chefe de uma organização perigosa familiar-militar-fundamentalista, com uma guarda pretoriana de geradores de pijama.
Parece filme de terror, mas tudo é real, com um enredo tão inverossímil, que é capaz de colocar Gabriel Garcia Marques no chinelo.
Fonte/Créditos: Coluna Balaio do Kotscho/UOL
Foto: Jorge William / Agência O Globo