A Rússia e a China vetaram nesta sexta-feira (22/03) a resolução apresentada pelos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo imediato na guerra de Israel contra a Palestina na Faixa de Gaza.
A proposta, apresentada na última quinta-feira (21/03), obteve 11 votos a favor, três contrários – Argélia, Rússia e China – , e uma abstenção – Guiana. O documento pedia um cessar-fogo imediato e prolongado para proteger os civis de todas as partes, permitir a prestação de assistência humanitária essencial e aliviar o sofrimento humanitário.
Rússia e China, como membros permanentes do órgão, têm poder de veto, tal qual os Estados Unidos, que também já vetaram outras três resoluções que pediam cessar-fogo no conflito: do Brasil (outubro de 2023), dos Emirados Árabes Unidos (dezembro de 2023), e da Argélia (fevereiro de 2024).
A China, por meio do embaixador Zhang Jun, declarou que projeto dos EUA evitava exigir um cessar-fogo imediato de forma objetiva, fazendo com que a questão “permaneça ambígua”.
Segundo o diplomata chinês, o texto não exigia um cessar-fogo imediato, mas sim “estabelecia condições para um cessar-fogo, o que não é diferente de dar luz verde à continuação dos assassinatos, o que é inaceitável.”
Zhang Jun ainda criticou o próprio Conselho de Segurança ao afirmar que o órgão “arrastou os pés” por muito tempo na necessidade de exigir um fim ao conflito em Gaza.
Durante sua intervenção, o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, acusou os Estados Unidos de falsas promessas e de só reconhecer a necessidade de um cessar-fogo após mais de 30 mil habitantes de Gaza morrerem nos confrontos.
“Vocês só querem vender um produto aos seus eleitores”, ressaltou o diplomata de Moscou ao afirmar que apoiar o texto dos EUA significa “nos cobrir de vergonha”, porque não “podemos permitir que o Conselho de Segurança seja um instrumento de Washington para as suas políticas do Oriente Médio”.
“O texto norte-americano dá a Israel luz verde para um ataque a Rafah”, acrescentou o russo, lembrando que “durante seis meses o Conselho de Segurança não conseguiu pedir um cessar-fogo em Gaza devido aos repetidos vetos dos EUA, e agora, depois de seis meses com a Faixa praticamente aniquilada, os Estados Unidos pedem um cessar-fogo”.
Como único país que absteve-se na votação, a Guiana afirmou, por meio da embaixadora Carolyn Rodrigues-Birkett, que o texto proposto “faltava atribuição em uma série de áreas-chave”, como a responsabilização das autoridades de Israel pelo conflito.
“A quem se dirige a exigência de cumprimento das obrigações decorrentes do direito internacional? Quem impede a utilização de todas as rotas disponíveis para a Faixa de Gaza? Quem não respeita os mecanismos de não-conflito e notificação?”, disse ela.
“Sabemos as respostas a estas perguntas. Por que então as exigências relevantes nesta resolução não foram claramente dirigidas à potência ocupante, nem sequer uma vez?”, afirmou a diplomata segundo o jornal Al Jazeera.
O governo dos EUA, por sua vez, afirmou que “a Rússia e a China não fazem nada diplomático para uma paz duradoura ou para contribuir sinceramente para os esforços humanitários”.
“Há duas razões profundamente cínicas por trás deste veto: primeiro, a Rússia e a China não querem condenar o Hamas pelos ataques de 7 de Outubro. Além disso, simplesmente não querem ver um texto elaborado pelos Estados Unidos adotado”, afirmou a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, após o fracasso da resolução.
Redação de nova proposta
Após mais uma resolução no Conselho de Segurança ser vetada, impedindo que o conflito na Faixa de Gaza, que já deixou mais de 32 mil mortos, tenha um cessar-fogo, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que seu país trabalhará em uma proposta.
“Após o veto da Rússia e da China há poucos minutos, vamos retomar o trabalho com base no projeto de resolução francês no Conselho de Segurança e trabalhar com os nossos parceiros norte-americanos, europeus e árabes para chegar a um acordo”, disse Macron após uma reunião com os líderes da União Europeia em Bruxelas.
Com informações da Agência Brasil China.
Foto: Revista Fórum.