Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg – blogdolindenberg@hojeemdia.com.br
Se o PSD de Gilberto Kassab insistir em lançar o senador Alexandre Silveira (PSD) como senador e se o também senador Carlos Viana (PL) resolver, a mando de seu partido, apoiar o governador Romeu Zema – e nada disso é descartável a essa altura do jogo –, não adianta Kalil estar encostando no governador Romeu Zema: ele será “cristianizado” e, como consequência, perderá a eleição, até então promissora.
O leitor poderá perguntar: o que vem a ser “cristianização”? Pois é. Na política brasileira – e não são raros os casos –, cristianizar significa o candidato perder o apoio de seu partido, que passa a apoiar uma outra candidatura com mais chances de vitória.
Isso é cristianizar, e vem da época em que Cristiano Machado (do PSD) – e olha o seu PSD aí, Kalil … – foi lançado candidato à Presidência da República, em 1950. No transcorrer da campanha, o velho PSD de Cristiano viu que o então candidato Getúlio Vargas tinha mais chances, e as principais lideranças do partido resolveram botar suas fichas em Getúlio Vargas, do PTB, que acabou vencendo a eleição.
A partir daí, o termo “cristianização” entrou definitivamente para o dicionário da política brasileira, não sendo raros os casos de “cristianização”.
Em 1985, por exemplo, Paulo Maluf, que havia derrotado Mario Andreazza na convenção do PDS, achou que tinha maioria no colégio eleitoral da época e resolveu bater chapa com o senador Tancredo Neves (PMDB) e perdeu a eleição – Tancredo não pode tomar posse por questões de saúde e José Sarney acabou empossado na Presidência.
Em 1989, Aureliano Chaves era o nome do PFL para a Presidência da República, mas o partido o “cristianizou”, dando a vitória a Collor de Mello. Nessa mesma campanha, Ulysses Guimarães era o candidato do PMDB e também foi “cristianizado”.
E assim a expressão “cristianização” foi incorporada ao dicionário da política brasileira, tudo tendo começado com Cristiano Machado, em 1950. De lá pra cá houve o “Lulécio”, quando Aécio Neves foi candidato e teve a simpatia de Lula, que presidia o país; veio depois o “Dilmasia”, com o sacrifício dos candidatos Hélio Costa (PMDB) e Patrus Ananias (PT), abrindo caminho para o então tucano Antônio Anastasia, de tal forma que a cristianização perdeu as aspas e se entronizou na política brasileira como símbolo de traição a um candidato que é abandonado pelo seu partido.
É o que pode acontecer aqui em Minas se o PSD resolver bancar a candidatura de Alexandre Silveira e se Carlos Viana bandear para o palanque de Romeu Zema, que, assim, nadaria de braçada, tirando um adversário do páreo (Viana) e nesse caso cristianizando – sem aspas – o ex-prefeito Alexandre Kalil, que vem tirando o terreno que o afasta de Zema.
Ou seja, embora o PT insista com o deputado Reginaldo Lopes para o Senado, Bolsonaro teria aqui o palanque ideal, ainda que o ex-presidente Lula, segundo a Quaest, poderia até eleger Kalil no embate com Zema, dada a transferência de votos de Lula para Kalil. Assim, Minas passa a ser uma encruzilhada para o PSD.
Foto: Agência Brasil