Amanda Moreira era casada com o engenheiro, Cleidson Aparecido Moreira de 40 anos. Ele trabalhava na Mina Córrego do Feijão, na unidade da mineradora Vale, em Brumadinho na região metropolitana de Belo Horizonte, quando ela se rompeu há um ano. O saldo da imprudência deixou 272 mortes, incluindo-se dois nascituros e onze pessoas desaparecidas.
O relógio marcava 12:28 daquele trágico 25 de janeiro de 2019. Desde aquele dia, à vida dela e de tantas mais mudaram para sempre.
A lama perdeu o controle e invadiu casas, alojamentos, refeitórios, plantação e com ela, levou vidas, sonhos, planos e tudo que encontrou pela frente. Os 365 se passaram e ninguém foi punido.
Chorando muito, diante da foto do marido e de centenas de vítimas dos atingidos pela lama, Amanda pedia com voz embargada: ” O que quero é justiça”.
Eles têm todos os recursos pra poder tentar se esvair. Eu recebo com alegria que foi feito a denúncia, mas assim eu não sei se realmente vai ter punição justa pelas duzentos e setenta mortes, disse para o blog emocionada.
A referência da mulher que perdeu o companheiro se mistura a tantos clamores por punição aos culpados numa semana de homenagens ás vitimas já se passando um ano do trágico rompimento.
Na última terça-feira, chegou á justiça a primeira denúncia contra os supostos responsáveis. Ao todo, o Ministério Público de Minas Gerais denunciou 11 funcionários da Vale e cinco da Tüv Süd, – empresa de auditoria alemã, que havia atestado a estabilidade da barragem que ruiu.
O ex-presidente da Vale, Fabio Schvartsman foi denunciado juntamente com outras 15 pessoas por homicídio doloso e duplamente qualificado. Além de crimes contra o meio ambiente.
Homenagens
Nesta quinta-feira (23), a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) prestou uma homenagem com cerimônia e inauguração de placa com todos os nomes das 270 pessoas que tiveram à vida interrompida por conta do rompimento.
O monumento inaugurado em Belo Horizonte, debaixo de chuva, marcou Minas pelo mundo. Assim como o construído em Washington, os Estados Unidos, em muro de granito com os nomes dos mais de 58 mil soldados americanos que morreram na guerra do Vietnã.
Assim como nas terras americanas como as das Minas Gerais, o sentimento de saudade e dor, foi evidenciado. Em cada rosto que acompanhou atentamente a fala de cada um que compôs a mesa.
Com faixas, rosas brancas e uma mesa com vela iluminativa, os familiares também perpetuatuavam a memória dos combatentes que por aqui foi contra a lama que chegou, sem nenhum aviso sonoro.
O presidente Agostinho Patrus comentou sobre a denúncia do Ministério Público apresentada à Justiça no início da semana. Ele falou do trabalho do legislativo ao longo do ano, lamentando pela dor que permanece e pela falta de punição.
“O que a gente sente e o que quero trazer para as famílias, as vítimas disso tudo, é que nós sabemos que a punição das pessoas não trazem de volta aqueles que perderam suas vidas. Mas ela é fundamental, não só para servir de exemplo a aqueles empreendedores que pensam em desrespeitar a legislação, que pensam em não tomar o cuidado necessário com a vida das pessoas. Esses exemplos também são importantes. Agora, é ver como o Judiciário vai conduzir”, disse o parlamentar.
A obra inaugurada hoje, também contextualiza partes do poema Lira Itabirana, do poeta Carlos Drummond de Andrade.
“Quantas toneladas exportamos/De ferro?/Quantas lágrimas disfarçamos/Sem berro?”
A placa estilizada foi instalada em frente ao Palácio da Inconfidência, na Praça Carlos Chagas, também conhecida como Praça da Assembleia.
Por lá, encontrei o senhor Irineu Lamounier Filho. Ele procurava no monumento o nome do irmão, Adriano Lamounier. Ele disse que o caçula de 12 irmãos, que trabalhava na Vale há 17 anos, deixou também dois filhos, um de 18 e outro de 17, além da esposa.
Para ele contou que o “enterro foi digno”, lamentando as 11 vítimas que ainda não foram encontradas. Com um suspiro forte e os olhos já com lágrimas, disse que a cidade de Brumadinho permanece triste, assim como as famílias daqueles que se forma tão repentinamente e de forma tão injusta.
A cidade, infelizmente, nunca mais vai ser a mesma. Não tem como ser a mesma. Foram muitas perdas, muitas amizades, muito triste. Absorver uma homenagem como essa é o que nos resta. Mas clamamos por punição também. É um modo de estar abrindo os olhos de todos, para não deixar passar , nem deixar ficar sem um apoio e sem solução. Mas é muito difícil, muito dolorido, concluiu.
Foto: Lena Alves