A determinação da juíza Carolina Lebbos, de Curitiba, de mandar transferir o ex-presidente Lula para São Paulo, de onde ele iria para a penitenciária de Tremembé, é daquelas coisas que só passam na cabeça de um juiz – com todo o respeito aos magistrados. Dizer que é um pedido da Polícia Federal é zombar de quem acompanha esse processo. Não é de hoje que a PF vem implicando que Lula mudou a rotina da Superintendência, que a região ficou confusa, que os partidários e simpatizantes de Lula incomodam com o bom dia presidente e boa noite presidente, de forma que se era para fazer a transferência que se fizesse à época, não precisava esperar Sérgio Moro tornar-se ministro, até porque o ex-juiz de Curitiba não passa por um bom momento depois que o país tomou conhecimento de sua posição à frente lava-jato.
De maneira que o placar do Supremo Tribunal Federal ontem à tarde – dez a um – em favor do da permanência de Lula na sede da PF, em Curitiba, só não encerra o assunto porque na semana que vem o STF vai julgar o habeas corpus em favor do ex-presidente, no caso da acusação de falta de isenção do então juiz Sérgio Moro, para julgar o feito. Com ministros do Supremo sendo vítimas da ação inescrupulosa da lava-jato, mesmo com já dois votos contrários na Segunda Turma, o julgamento acaba sendo de desfecho incerto. Mas o fato é que a decisão ontem da juíza Carolina Lebbos acabou acirrando o ambiente político de Brasília e obrigando o STF a fazer um julgamento dos mais rápidos, para manter Lula em Curitiba.
E por que tudo isso? Quem quiser saber o que é o interior de Tremembé, para onde Lula iria, deveria conversar com um antigo hóspede de lá, o empresário Marcos Valério. Pelo que me contou à época o próprio Marcos Valério, só não o mataram numa cela provavelmente igual a que Lula ficaria, porque a juíza não teve esse cuidado de recomendar uma sala de “estado-maior” para o ex-presidente – uma sala mais ou menos igual a que está o ex-governador Eduardo Azeredo em Belo Horizonte, num quartel do Corpo de Bombeiros – mas não mataram Marcos Valério por que a intenção dos que invadiram a sua cela era de chantageá-lo. Mas quebraram os seus dentes, por pouco não afundaram seu maxilar, o espancaram a valer e por fim lhe aplicaram um “chuço” que quase perfurou seu pulmão. Daí a correria do Supremo ontem que entendeu que Lula corria risco de vida em Tremembé.
A rápida mobilização da Câmara dos Deputados, com Rodrigo Maia ligando para o presidente do Supremo, e enviando uma comitiva de uns 70 deputados de 12 partidos, foi também um recado para a juíza de Curitiba e para os demais tribunais, no sentido de que as coisas estão passando do limite. Com efeito, mesmo com a pressão da PF, não havia nenhum sentido na decisão da juíza Lebbos, a menos que possa ter sido orientada de fora em meio a um ambiente politico tão conturbado como o que estamos vivendo e sem nenhuma perspectiva de arejamento dessa atmosfera pesada que nos impregna e nos deprime, sobretudo aos democratas, de maneira que essa mobilização de hoje, quarta, tem endereços certos.