Por UOL
O presidente Lula (PT) não considera que o ministro da Justiça Flávio Dino tenha ficado enfraquecido após a revelação de que Luciane Barbosa Farias, conhecida como dama do tráfico amazonense, esteve em audiências no prédio do Ministério da Justiça, em Brasília. A análise é do colunista do UOL Tales Faria no UOL News da tarde desta quarta-feira (15).
Está havendo uma tremenda politização disso contra Flávio Dino, porque é o ministro que se opôs muito à oposição ao longo desse início de governo Lula. Conversei nesse feriado com amigos e auxiliares do presidente Lula. Ele não considera que Flávio Dino esteja enfraquecido por causa disso.
Lula pretende segurar o anúncio do ministro para a vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal, mas vai apressar o procurador-geral da República. Isso é o que ele tem dito aos auxiliares e amigos ligados ao PT.
A pressão da oposição e do centrão contra o nome de Flávio Dino está fortalecendo o ministro junto ao presidente, ao contrário de enfraquecê-lo. Mas isso não quer dizer, ainda, que ele será o escolhido.
Lula defendeu hoje o ministro sobre o episódio da passagem da mulher de um líder do Comando Vermelho pelos gabinetes de dois assessores de Dino no Ministério da Justiça. Ele disse e acredita que são ataques absurdos ‘artificialmente plantados’. É verdade, é ‘artificialmente plantado’.
Apesar da opinião de Lula, o PT quer a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias.
O problema principal para Dino e a indicação dele é o PT. O PT está fazendo um forte lobby pelo advogado-geral da União, Jorge Messias. Ele tem o apoio, por exemplo, do grupo de advogados Prerrogativas, que apoiou Lula durante todo o processo da Lava Jato. E por nomes fortes do PT, como o ex-ministro José Dirceu.
O problema do Flávio Dino não será essa moça que se reuniu com o secretário dele, o problema do Flávio Dino é a disputa interna no PT.
Além de Lula, quem quer a indicação de Dino à Corte é a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Apesar de que a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, apoia a escolha de Dino. Ela acha que o ministro teria mais peso no STF para se sobrepor aos demais ministros.
Entenda o caso
Luciane Barbosa Farias, conhecida como “dama do tráfico” amazonense, esteve em audiências no prédio do Ministério da Justiça, em Brasília. Ela é casada com Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, apontado como um dos líderes do Comando Vermelho.
Nas redes sociais, Luciane compartilhou várias fotos e vídeos em Brasília. Ela já esteve no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), na Câmara dos Deputados e em encontro com políticos.
O Ministério da Justiça admitiu ao Estadão que Luciane foi recebida por secretários, mas ressaltou que ela integrava uma comitiva de advogados. “A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes”.
Luciane esteve no Ministério da Justiça como presidente da ILA (Associação Instituto Liberdade do Amazonas). A Polícia Civil do AM diz que a ONG atua em prol dos presos ligados ao Comando Vermelho e é financiada com dinheiro do tráfico.
Em 19 de março, Luciane esteve com Elias Vaz, secretário nacional de Assuntos Legislativos. Em 2 de maio, ela se encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais.
O Estadão procurou o Instituto Liberdade do Amazonas, mas não conseguiu retorno. A advogada de Luciane, Cristiane Gama Guimarães Generoso, diz que não fala sobre processos de seus clientes. “Que absurdo é esse?”, respondeu sobre a acusação do MP sobre Luciane.
Já o Ministério da Justiça diz que seria “impossível” a detecção prévia da situação de Luciane. Leia na íntegra:
“No dia 16 de março, a Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) atendeu solicitação de agenda da Anacrim (Associação Nacional da Advocacia Criminal), com a presença de várias advogadas.
A cidadã mencionada no pedido de nota não foi a requerente da audiência, e sim uma entidade de advogados. A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes.
Por não se tratar de assunto da pasta, a Anacrim, que solicitou a agenda, foi orientada a pedir reunião na Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
A agenda na Senappen e da Anacrim aconteceu no dia 2 de maio, quando foram apresentadas reivindicações da Anacrim.
Não houve qualquer outro andamento do tema.”
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