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Taxas de poluição reduzem durante pandemia, aponta pesquisa do Cefet-MG Pesquisadores das áreas ambiental, física e astronômica analisam os reflexos globais das quedas nas taxas de poluição durante a pandemia do novo coronavírus

7 de abril de 2020, 17h00 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

Pesquisadores do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) analisaram um dos reflexos globais da redução nas taxas de poluição durante a pandemia do novo coronavírus, causador da COVID-19. “A Terra tem experimentado, após vários séculos, um momento para respirar” descreve o professor Arnaldo Freitas, do DCTA do CEFET-MG.

A análise da professora Adriana Wilken, do Departamento de Ciência e Tecnologia Ambiental (DCTA) da instituição, também explica o fenômeno com efeitos positivos à saúde e ao meio ambiente em todo o mundo em período de isolamento social.

“Menos combustíveis fósseis estão sendo queimados nos fornos das indústrias e nos tanques de combustão dos veículos, daí a redução dos poluentes gerados nesses processos emitidos para a atmosfera”, explica a professora Adriana Wilken.

Esse dado foi analisado recentemente pelo pesquisador Marshall Burke, da Universidade Stanford (EUA), que estudou a relação entre o ar mais limpo e a redução de mortes prematuras na China durante o período mais crítico do vírus no país. Os resultados impressionam: cerca de 50.000 vidas podem ter sido salvas com a paralisação de fábricas e diminuição drástica do trânsito.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo o mundo, ocorrem anualmente 4,2 milhões de mortes prematuras atribuídas à poluição ambiental, causadas por doenças cerebrovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica, infecção respiratória aguda baixa e câncer de pulmão, traqueia e brônquios. Só no Brasil, em 2018, os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com internações relacionadas a esses problemas superou R$1,3 bilhão.

De acordo com a professora Adriana Wilken, diversas substâncias são responsáveis pelo agravamento não apenas dessas condições de saúde, mas também da situação ambiental como um todo. “As indústrias caracterizam-se, predominantemente, como emissoras de material particulado, monóxido de carbono (CO) e dióxido de enxofre (SO2). Os veículos automotores, principalmente os movidos à gasolina, emitem o dióxido de nitrogênio (NO2), o monóxido de carbono (CO) e os hidrocarbonetos (HC). Esses poluentes, de uma forma geral, podem causar doenças em pessoas expostas a eles, principalmente doenças respiratórias. Dependendo do tempo de exposição e condições meteorológicas desfavoráveis, podem até mesmo causar mortes”, explica.

Ainda segundo a pesquisadora, a emissão do dióxido de carbono (CO2), resultado de qualquer processo de combustão (em fábricas ou veículos), agrava o efeito estufa, aumentando a temperatura da terra, que leva a problemas como aumento do nível do mar, desertificação de áreas férteis, migração de espécies, dentre outros. Durante o pico da pandemia na China, a emissão desse poluente caiu 25% em quatro semanas no país, entre o final de janeiro e meados de fevereiro, se comparado ao mesmo período do ano passado. Os dados são do Centro de Pesquisa sobre Energia e Limpeza do Ar (Finlândia).

Mas será que o mundo precisava de uma crise como essa para frear a poluição, poupar vidas e os recursos do planeta? O professor Arnaldo Freitas, do DCTA do CEFET-MG, acredita que não. Segundo ele, diversas alternativas poderiam ser utilizados para essa redução: “O uso de tecnologias sustentáveis empregadas no sistema modal, na matriz energética, na reciclagem de materiais, na gestão adequada de resíduos, no projeto de motores automotivos mais eficientes, na gestão pública voltada ao desenvolvimento sustentável, no planejamento ambiental de cidades, na elaboração de políticas públicas voltadas para a gestão socioeconômica e ambiental, pela adoção de instrumentos e incentivos econômicos de mecanismos ambientais, entre outros”, enumera.

Se, por um lado, tem havido uma diminuição considerável da “pressão antrópica sobre o meio ambiente e a Terra tem experimentado, após vários séculos, um momento de descanso para respirar”, como descreve o professor Arnaldo Freitas, por outro, o futuro, após a crise, pode não ser tão bom assim, analisa a professora Adriana Wilken: “O risco é a qualidade do ar ter uma súbita piora, pois os investimentos para voltar às atividades de uma forma geral, que baseiam-se na queima de petróleo e derivados, aumentariam fortemente a emissão de todos os poluentes citados, incluindo aqueles agravadores do efeito estufa, com consequências globais”.

Foto: Vinicius Januário/CEFET-MG

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