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Telegramas mostram que Ernesto Araújo mobilizou Itamaraty para garantir cloroquina, revela jornal Documentos obtidos pela "Folha de S.Paulo" indicam mobilização do aparato diplomático para conseguir remédio ineficaz contra Covid-19

10 de maio de 2021, 14h24 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Por Agência o Globo

Telegramas diplomáticos revelam que o ex-chanceler Ernesto Araújo mobilizou o Itamaraty para garantir fornecimento de cloroquina, droga comprovodamente ineficaz para o tratamento da Covid-19.

A mobilização do aparato diplomático do Brasil para conseguir a cloroquina começou pouco tempo depois de Bolsonaro falar em “possível cura para a doença”, em 21 de março de 2020. Os documentos foram obtidos pelo jornal “Folha de S.Paulo.

“Hospital Albert Einstein e a possível cura dos pacientes com Covid-19. Agora há pouco os profissionais do hospital Albert Einstein me informaram que iniciaram um protocolo de pesquisa para avaliar a eficácia da cloroquina nos pacientes com Covid-19”, escreveu Ernesto.

Em declaração durante reunião do G-20, em 26 de março, relatada em telegrama, Bolsonaro apontou para “testes bem-sucedidos, em hospitais brasileiros, com a utilização de hidroxicloroquina no tratamento de pacientes infectados pela Covid-19, com a possibilidade de cooperação sobre a experiência brasileira”.

Em janeiro, o colunista da revista Época, Guilherme Amado, mostrou que telegramas obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação pela  agência Fiquem Sabendo , especializada no tema, comprovavam que o Itamaraty intermediou a compra de hidroxicloroquina entre empresas brasileiras e indianas.

Os documentos mostram e-mails trocados pelo menos desde março, quando começou a pandemia, entre o diplomata Elias Luna Santos, da embaixada do Brasil em Nova Délhi, capital da Índia, com empresas indianas.

Em uma das conversas, Elias Santos trata de um acordo em que empresas indianas forneceriam ingredientes de hidroxicloroquina a empresas brasileiras que, em contrapartida, venderiam comprimidos da substância à Índia.

“Esta proposta garantiria continuidade da produção em ambos os países e ajudaria a manter os fluxos de comércio bilateral no setor farmacêutico neste momento de crise, o que pode ser benéfico para Brasil e Índia agora e no futuro”, diz o diplomata em um dos e-mails.

Segundo o jonral, houve inúmeros pedidos do Itamaraty para obtenção de cloroquina durante todo o mês de abril.

O documento mostra ainda que o Itamaraty teria pedido à Organização Pan-Americana de Saúde que entrasse em contato com o governo indiano para conseguir a liberação de um lote de milhões de doses de hidroxicloroquina. Já no dia 24 de abril, o ministério pediu apoio para uma farmacêutica brasileira importar hidroxicloroquina.

Ernesto na CPI da Covid

Próximo alvo da CPI da Covid, Ernesto Araújo avalia concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados no ano que vem ou, enquanto a eleição não se aproxima, pleitear um posto diplomático no exterior. Ele perdeu o cargo há pouco mais de um mês, após entrar em atrito com senadores — cabe ao Senado aprovar o nome de embaixadores, o que deve atrapalhar parte dos planos do ex-chanceler.

Ernesto, que está lotado na secretaria de gestão administrativa do Itamaraty, tem usado o Twitter e seu blog para fazer uma defesa da própria gestão, negando ter atrapalhado a compra de vacinas ao se insurgir contra a China, fabricante de insumos e imunizantes — tema que será investigado pela comissão. No início do mês, no entanto, fez críticas ao governo federal, descrito por ele como uma gestão “sem alma”. Segundo interlocutores, o novo chanceler, Carlos França, não o repreendeu em função da proximidade de Ernesto com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Foto: Adriano Machado / Reuters / 29-04-19

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