O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está articulando estratégias para exercer influência no processo de sucessão do Papa Francisco, caso o pontífice venha a renunciar ou enfrente complicações de saúde. Segundo fontes da Casa Branca, a intenção do governo americano é assegurar que o futuro líder da Igreja Católica esteja mais alinhado à sua agenda ultraconservadora.
A ofensiva ganhou força após a escolha de Brian Burch como embaixador dos EUA no Vaticano, um movimento que foi interpretado por setores da Santa Sé como um ataque direto ao pontificado de Francisco. “Brian é um católico fervoroso, pai de nove filhos e presidente da CatholicVote. Ele me representou bem na última eleição”, declarou Trump, destacando o papel de Burch na mobilização do eleitorado católico.
Ao assumir o cargo, Burch adotou um tom diplomático, evitando qualquer referência direta ao Papa Francisco. “Estou comprometido em colaborar com os líderes do Vaticano e com a nova administração para promover a dignidade humana e o bem comum”, afirmou. Nos bastidores, porém, a CatholicVote, organização que ele lidera, tem fortalecido conexões com políticos conservadores e defendido pautas como a restrição ao aborto, o combate à agenda LGBT e o endurecimento das políticas migratórias.
A pressão exercida sobre o Vaticano se manifesta, entre outras formas, na redução de recursos destinados a entidades próximas ao Papa Francisco e no fortalecimento de grupos ultraconservadores dentro e fora dos Estados Unidos. Essas iniciativas são bem recebidas por setores tradicionalistas da Igreja, que celebram a postura de Trump, sobretudo quando ele se opõe a medidas consideradas progressistas pelo pontífice. “Ao garantir a proteção dos manifestantes pró-vida e a liberdade religiosa, podemos dizer que o presidente Trump tem sido um grande aliado dos católicos”, afirmou o vice-presidente JD Vance, durante uma oração pela saúde do Papa.
Em resposta, o Vaticano tem procurado conter essa influência por meio da nomeação de figuras críticas à administração Trump para cargos estratégicos. Ainda assim, a Casa Branca segue ampliando sua ofensiva, seja por meio da aproximação com cardeais e bispos conservadores, seja por meio de ações políticas e jurídicas que reforçam uma visão mais rígida dos valores religiosos. “Eles deveriam se olhar no espelho”, provocou Vance, referindo-se ao Papa Francisco.
Nos bastidores de Washington, a influência de católicos ultraconservadores no governo americano se tornou cada vez mais evidente, com nomes como Karoline Leavitt, Tom Homam e o próprio JD Vance defendendo a estratégia de Trump. Se Francisco alcançar os 92 anos em meio a essa disputa pelo controle do conclave, a Casa Branca quer garantir que seu sucessor esteja alinhado às bandeiras políticas do atual governo americano.
As informações são de Jamil Chade, do UOL.
Foto: Evan Vucci / AFP.