Por ALMG
Era uma quinta-feira de 1995. O Brasil comemorava 10 anos do fim da ditadura militar. Fernando Henrique Cardoso, segundo presidente eleito no processo de redemocratização, exercia seu primeiro mandato. Belo Horizonte, naquele 30 de novembro, recebia a transmissão da primeira TV pública de uma casa legislativa no Brasil, que se tornou, hoje, a TV Assembleia.
Nesses 25 anos, a emissora se consolidou como um canal plural, democrático, imparcial e de transparência do trabalho realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Cumpre o papel já anunciado pelo então presidente da ALMG, Agostinho Patrús, em seu pronunciamento na primeira transmissão. “Será também um instrumento a serviço da prática democrática: pelo diálogo, pelo livre debate e pela busca de soluções reais dos problemas que afetam a vida do cidadão e da comunidade. Podemos mesmo dizer que é a TV da cidadania que está no ar”, previu.
Passadas duas décadas e meia, seu filho, o atual presidente da ALMG, deputado Agostinho Patrus (PV), analisa a trajetória desse veículo de comunicação com os mineiros. “Constatamos que a TV Assembleia foi um importante canal de comunicação entre o mineiro, a mineira e a nossa Casa”.
Para o presidente, com as redes sociais, a emissora leva suas imagens nos mais diversos formatos para a sociedade mineira, buscando, sobretudo, “a sua informação, o seu desejo, a sua crítica, a sua ansiedade para a solução das políticas públicas”.
A implantação da emissora começou a ser sonhada quatro anos antes, com a instalação de um circuito interno de TV, que transmitia as reuniões de Plenário para os gabinetes e alguns pontos fixos da sede do Parlamento, no Edifício Tiradentes. Autor do requerimento para a criação da TV Assembleia, o deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT) lembra que na época não havia celular nem as novas tecnologias atuais. Na porta da Assembleia passava o cabo da rede responsável pela transmissão e daí surgiu a ideia de aproveitar para inserir o sinal da emissora interna.
A TV entrou no ar após a publicação da Lei Federal 8.977, de 1995, que regulamenta o serviço de TV a cabo no Brasil e permitiu ao Congresso Nacional, às assembleias estaduais e às câmaras municipais terem seus respectivos canais de TV a cabo.
“Abrimos as portas da Assembleia para todo mundo que estava em casa e queria acompanhar a sessão da Assembleia”, afirma o deputado ao contar que o objetivo era dar transparência e credibilidade ao trabalho do legislativo mineiro. “Juntamos a tecnologia com a vontade da transparência”.
Após um quarto de século, esse espírito permanece entre os servidores que cuidam da emissora. “Nós que hoje fazemos a TV Assembleia damos continuidade ao trabalho de quem nos antecedeu e que, com coragem e criatividade, fizeram da emissora uma referência para os legislativos de todo o País. Nesses 25 anos, mudaram as pessoas, trocaram-se as máquinas, aprimorou-se o jeito de fazer, mas o compromisso com a pluralidade e com o interesse público permanece o mesmo”, atesta a gerente-geral de Rádio e TV, Patrícia Porto.
Hoje, a emissora tem programação durante 24 horas e está presente em mais de 180 municípios mineiros. Ao todo, são 130 funcionários: 67 servidores, 56 terceirizados e 7 estagiários.
Saiba mais sobre a história da TV Assembleia.
Imparcialidade das notícias
A linha editorial da emissora prioriza a divulgação do trabalho dos parlamentares mineiros. Cobre ao vivo as reuniões do Plenário e das comissões, onde se efetivam as votações, a fiscalização dos Poderes, debates e a construção de politicas públicas. A TV também transmite eventos institucionais e culturais da Assembleia, noticiários e debates.
São 24 horas de programação diária, ultrapassando mil horas de transmissões ao vivo a cada ano. Por sua natureza pública e em função da própria composição pluripartidária do parlamento, os programas próprios procuram, na medida do possível, ouvir todos os lados envolvidos no fato que é narrado, buscando a imparcialidade e a essência da informação.
“No atual contexto de propagação de notícias falsas e desqualificação da classe politica, a emissora se propõe a ser uma ferramenta eficaz para que o fazer político volte a ser visto como legítimo e o principal meio de buscar o bem comum”, afirma Patrícia Porto.
São oito programas próprios. O telejornal diário Assembleia Notícia resume as atividades institucionais; o Mundo Político faz uma análise dos principais fatos da política estadual e nacional; Compactos de Comissões traz um resumo das audiências públicas em dez minutos de duração; o Visão Parlamentar faz entrevistas com parlamentares sobre a pauta legislativa e agenda de trabalho individual.
Os demais programas são Geração, Memória e Poder, Assembleia Debate e Panorama, entre outros conteúdos especiais produzidos de acordo com interesses pontuais.
Da Capital para o interior – Quando entrou em operação, em 1995, a TV Assembleia, então TV Legislativa, tinha duas horas e meia de programação e apresentava reprises das reuniões do Plenário. A partir de 1996, atingiu 12 horas de programação, com programas gravados e editados. Em 1997, passou a oferecer uma grade básica de programas, produzidos em estúdio.
Em 1998, a emissora se conecta ao satélite, o que lhe permite alcançar todo o Estado. Passa a transmitir 17 horas de programação, incluindo documentários e programas nas áreas do direito, política e cultura.
O canal das eleições
Em 1998, a TV Assembleia fez sua primeira grande cobertura das eleições, projeto que tornou a emissora uma referência no jornalismo político. Atualmente, a cobertura da emissora se inicia muito antes do dia do voto. São realizadas entrevistas com cientistas políticos, debates com os candidatos, análises e previsões sobre o cenário eleitoral.
No dia das eleições, a emissora se volta totalmente para o evento, trazendo informações durante todo o pleito e acompanhando as apurações dos votos. Diferente das emissoras comerciais, que dedicam os informes apenas para os cargos do Executivo ou do Senado, a TV Assembleia informa a votação dos deputados, antecipando o resultado para os mineiros.
A partir das eleições de 98, a emissora ganhou ainda mais fôlego. Já no ano seguinte, diversificou a grade de programação e saltou para 18 horas de transmissão diárias, consolidando a expansão para o interior do Estado.
A partir de 2000, a TV Assembleia se firmou como a emissora do Parlamento, da política e das eleições. Desde então, auxilia o Poder Legislativo a cumprir sua responsabilidade de educar para o exercício da cidadania com a cobertura ao vivo dos dias de votação e uma programação voltada a preparar o eleitor para o momento do voto e no acompanhamento do trabalho dos representantes eleitos democraticamente.
A TV ganha a rede mundial
Em 2007, o alcance da emissora foi ampliado para a rede mundial de computadores. No link “Assista Agora”, da página inicial do portal da ALMG, é disponibilizada a programação em tempo real por meio da tecnologia de streaming de vídeos. A TV também passou a oferecer vídeos sob demanda de toda a grade de programação, distribuindo conteúdos, a partir de 2009, também pelo Youtube e Twitter.
Em 2016, a programação em tempo real também passou a ficar disponível no Youtube. Em 2017, quando o celular passou a superar o computador como aparelho mais usado pelo brasileiro para se conectar à internet, os vídeos da TV Assembleia ganham destaque nas notícias do portal mobile da ALMG, criado para divulgar a atividade legislativa em dispositivos móveis, como smartphones e tablets.
Nas ondas digitais
Em 2009, a emissora iniciou a migração do sistema de gravação analógico para o digital, com ganhos de qualidade de imagem e som. Com novos equipamentos de edição e exibição, a grade foi ampliada de 19 para 24 horas diárias.
As mudanças também chegaram às transmissões. Em 2012, a TV Assembleia passou a integrar a Rede Legislativa (formada pelas TVs Senado, Câmara dos Deputados e Câmara Municipal), transmitindo em sinal aberto digital pelo canal 11.2 na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
A partir daí, a Rede Legislativa se expandiu para o interior do Estado. A TV Assembleia passou a compartilhar transmissores digitais também nas cidades de, Juiz de Fora (Zona da Mata), Pouso Alegre (Sul de Minas), Montes Claros (Norte), Sete Lagoas (Central) e Uberlândia e Uberaba, no Triângulo Mineiro.
Em 2013, a TV Assembleia foi uma das dez emissoras públicas brasileiras selecionadas pelo Projeto Ginga Br.Labs, do Ministério das Comunicações, para desenvolver conteúdos e aplicações interativas. Dois anos mais tarde, a emissora desenvolveu seu primeiro protótipo de aplicativo para interatividade na TV digital aberta.
Em 2017, além do canal da Rede Legislativa, a TV Assembleia iniciou a transmissão de sinal digital no canal 35, desligando definitivamente o sinal analógico na RMBH.
Conteúdo premiado
O conteúdo exibido pela TV Assembleia vem conquistando o reconhecimento nacional. Em 2014, por meio do documentário “Na Lei ou na Marra: 1964, um combate antes do golpe”, a TV Assembleia venceu o 36º Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, na categoria documentário de TV. O prêmio é organizado pelo Instituto Vladimir Herzog, pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), entre outras entidades.
Em 2016, a emissora conquistou o terceiro lugar no 33º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, entregue pela Ordem dos Advogados do Rio Grande do Sul. A premiação foi na categoria documentário com a série “Memórias Rompidas” sobre a tragédia provocada pelo rompimento da barragem de minério em Mariana (Central).
Em 2017, a reportagem “Desafios da Educação nos Municípios” foi uma das vencedoras do 10º Prêmio Délio Rocha de Jornalismo de Interesse Público, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais.
Na pandemia, emissora se reinventou
A necessidade do isolamento social, imposto pela pandemia de Covid-19, impactou a rotina da TV Assembleia. “Tivemos que incorporar a estética das imagens de celular e de internet. Isso foi uma libertação”, analisa a gerente-geral Patrícia Porto.
O gerente-geral de Radiodifusão da ALMG, Marcos Amaral Rainho Ribeiro, explica que com o distanciamento social, a emissora passou a realizar transmissões de forma remota, utilizando ferramentas como o aplicativo de reuniões virtuais Zoom. As reuniões de Plenário e comissões passaram a ser veiculadas com a participação remota de deputados e convidados e mesmo reportagens realizadas por profissionais a distância. Foram feitas entrevistas com pessoas que estavam até fora do Brasil.
Segundo Rainho, quebrou-se o paradigma de imagens e estúdios impecáveis e todas as emissoras passou a utilizar vídeos domésticos, feitos inclusive por celular. “Acabou o limite do mundo”, comemora. A partir daí, já é possível contatar e transmitir entrevistas com pessoas em qualquer parte do planeta.
Na avaliação de Marcos Rainho, o modelo híbrido atualmente utilizado pela Assembleia, que realiza transmissões com pessoas presenciais e remotas no mesmo evento, veio para ficar. Ele acredita que daqui pra frente, a transmissão remota será definitivamente incorporada na rotina de todas as emissoras de TV.
Entrega adiada – Se a pandemia permitiu nova evolução da TV Assembleia, por outro lado forçou o adiamento de um projeto que estava previsto para este ano de 2020.
A emissora previa passar a fazer as transmissões com o uso da tecnologia closed caption (legenda oculta, em tradução livre). Trata-se de um software que faz o reconhecimento de voz e a transforma em texto, transformado em legendas para facilitar a compreensão para as pessoas com deficiência auditiva. As legendas precisam ser habilitadas na TV, pelo telespectador, daí o termo oculto.
A ALMG chegou a adquirir os equipamentos em setembro, mas em função da pandemia houve atraso na entrega por parte dos fornecedores. A ideia era iniciar as transmissões já no aniversário dos 25 anos da emissora. O desejo teve de ser adiado e Marcos Rainho acredita que ainda no primeiro semestre de 2021 a tecnologia poderá ser acessada pelos telespectadores.
Foto: Marcelo Metzker