Por UFMG
Começa nesta sexta-feira, 31, a etapa de ensaios clínicos que atestará a segurança e a eficácia de uma vacina chinesa contra a covid-19. O estudo, do qual participarão 852 voluntários em Belo Horizonte, será conduzido pela UFMG em parceria com o Instituto Butantan.
O anúncio foi feito na tarde desta quarta-feira, dia 29, pelo professor Mauro Teixeira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Ele foi um dos participantes da primeira edição on-line do ciclo de conferências e seminários Tempos presentes, que repercutiu as contribuições das universidades brasileiras no desenvolvimento de imunizantes contra o novo coronavírus.
Mauro Teixeira, que coordena o acordo de parceria entre o Instituto Butantan e a UFMG, descreveu a participação da UFMG nas pesquisas da empresa farmacêutica chinesa SinoVac. De acordo com ele, o ensaio clínico é caracterizado como duplo cego (os voluntários e os profissionais que administram as doses não sabem se se trata de medicamento ou placebo) e randomizado (a escolha de quem toma o placebo é feita ao acaso). Os testes para essa vacina são exclusivos, neste momento, para profissionais da área da saúde.
Além de atuar no Centro de Desenvolvimento de Fármacos do ICB, Mauro Teixeira coordena o INCT em Dengue. “A infraestrutura da UFMG no campo das pesquisas em dengue e outros estudos possibilitou que estivéssemos hoje preparados, de certa forma, para os ensaios clínicos no contexto da covid-19”, afirmou.
Conforme salientou o professor, os voluntários não estão sendo, de fato, “vacinados”. “Ainda não existem vacinas, apenas candidatas. Após receberem as doses, eles ainda serão acompanhados durante período que pode ultrapassar um ano. Há um conjunto de estudos prévios que sugerem que a vacina chinesa é segura e eficaz, mas o voluntário é apenas um ‘doador’ que se propõe a participar, sem a certeza de que a viabilidade do medicamento será comprovada”, explica. Veja a apresentação do professor Mauro Teixeira.
O painel foi aberto e mediado pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida. Ela lembrou que o ciclo Tempos presentes, lançado no ano passado, tem o objetivo de estimular reflexões sobre os desafios que se impõem à universidade. “Mas não imaginávamos que teríamos um desafio tão grande”, disse a reitora, referindo-se à pandemia de covid-19. Ela se solidarizou com as famílias que perderam pessoas queridas durante a pandemia.
Vacina inglesa
A reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Soraya Soubhi Smaili, relatou a experiência de readaptação das atividades acadêmicas que se fez necessária na instituição por causa da pandemia de covid-19. A dirigente destacou os esforços de pesquisas em virologia e a contribuição da universidade paulista para as pesquisas da Universidade de Oxford.
“Nosso comitê de enfrentamento da crise, criado no âmbito da Reitoria, reúne-se periodicamente com a gestão das escolas de Medicina e Enfermagem e com representantes de outras estruturas e centros especializados nos estudos e testes sobre vacinas. Pesquisadores da Unifesp, inclusive aqueles que não são da área da virologia, têm-se mobilizado para atender às solicitações da universidade e das agências de fomento”, relatou.
A pesquisa desenvolvida na Universidade de Oxford, como explicou a reitora, chegou ao Brasil graças a uma parceria mediada pelo Centro de Imunobiológicos Específicos da Unifesp. “Atualmente na fase 3 de desenvolvimento, a vacina foi aprovada pelo Conep e pela Anvisa. Os resultados das fases 1 e 2 atestaram a segurança e a capacidade de imunização da candidata à vacina. A fase 3, já em andamento, é realizada com cinco mil voluntários no Brasil – dois mil, no estado de São Paulo, sob liderança da Unifesp”, detalhou Soraya Smaili. A seleção dos voluntários, segundo ela, priorizou os profissionais da saúde e de áreas com alta exposição ao vírus, como logística e limpeza em unidades de saúde.
Originada na Escola Paulista de Medicina, fundada em 1933, a Unifesp, por muitos anos, esteve dedicada exclusivamente à área da saúde. Desde 2004, a universidade passa por uma expansão de grandes proporções. Embora conte hoje com 52 cursos de graduação nas diversas áreas do conhecimento, a área de saúde continua sendo o carro forte da instituição, oferecendo, por exemplo, 86 especialidades em residência médica.
Versão brasileira
O desenvolvimento de uma vacina brasileira foi tema da exposição do professor Flávio Fonseca, do Departamento de Microbiologia do ICB, que também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.
Como informou Fonseca, desde que a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil, o CT Vacinas da UFMG, do qual é um dos pesquisadores, foi rapidamente remodelado para atuar em três frentes: apoio à realização de diagnósticos pelo estado de Minas Gerais, pesquisa de novos testes e desenvolvimento de uma vacina.
“No âmbito da UFMG, em parceria com a Fiocruz, estamos desenvolvendo uma vacina quimérica, bivalente e geneticamente modificada contra a covid-19”, informou Fonseca.
A tecnologia adotada pelo CT Vacinas consiste na inclusão, no genoma do vírus vacinal contra a gripe, de partes do Sars-Cov-2, o causador da covid-19. “Pegamos genes que codificam a proteína de superfície do coronavírus e os inserimos, por meio da engenharia genética, no genoma do vírus da vacina da gripe. O resultado dessa engenharia genética é a formação de um vírus atenuado que serve para gerar anticorpos. Grudada na sua superfície, ela tem proteínas do Sars-Cov-2. A ideia é gerar uma vacina que proteja contra a gripe comum e contra a própria covid-19, já que o vírus quimérico tem proteínas de ambas”, explicou. “Se tudo der certo”, estimou o professor, o imunizante poderá ser testado em seres humanos no fim de 2021.
Os eixos da apresentação do professor Flávio Fonseca estão contidos neste documento.
O ciclo Tempos presentes promove reflexões sobre questões e desafios urgentes e contemporâneos. O painel desta quarta feira, que teve tradução para Libras, foi transmitido pelo canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) no YouTube, onde continua disponível.
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