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Um almoço com leitão a pururuca em dia de pandemia nas alturas Comentário da Tarde

3 de março de 2021, 15h55 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Sou capaz de apostar que o deputado Fábio Ramalho, MDB-MG, caprichou como sempre no leitão, provavelmente à pururuca, com que saciou a fome do presidente Jair Bolsonaro, ontem em Brasília, num dia em que, apesar do almoço alegre, houve mais de 1.726 mortes no país provocadas pela pandemia que está prestes a completar um ano. Fabinho Liderança, como é conhecido o deputado mineiro, não estava só. Pelas fotos exigidas pela Folha de São Paulo, acompanhavam os comensais, entre outros, o governador de Minas, Romeu Zema, um seguidor das normas emanadas de Brasília, ele e seu secretário Mateus Simões, por sinal, eram os únicos a usar máscara, um adorno que o presidente da República dispensa por acreditar em cloroquina ou por já ter adquirido o coronavírus, embora tenha permitido que a sua genitora, dona Olinda, se vacinasse e ao que consta com a coronavac, do seu adversário João Dória.

O almoço preparado por Fabio Ramalho teve tropeiro, frango com quiabo, o leitão, sua especialidade, linguiça, provavelmente de Malacacheta, sua terra, enquanto do outro lado do mundo, ou da Bolsofera, o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, se reunia com vários governadores, a maioria por videoconferência, na busca de uma solução para a falta de recursos para a compra de vacinas, usando provavelmente o orçamento da União que ainda não foi votado pelo Congresso. São os dois lados de uma mesma moeda. Enquanto o presidente da Republica se refastela num lauto almoço, de outro, governadores e deputados se debruçam no problema que mata diariamente milhares de brasileiros e os secretários estaduais de saúde pedem um lockdown nacional para conter a pandemia que já matou mais de 250 mil brasileiros em menos de um ano e os hospitais de quase todo o país estão com sua capacidade de UTIs praticamente esgotada. Hoje o presidente da República usa uma cadeia de rádio e televisão para um comunicado ao país, devendo falar sobre a desoneração tributária do diesel e do gás de cozinha, mas já aproveitou a manhã para a sua própria defesa, a de que foi a mídia que instalou o pânico no país, como se o governo federal tivesse providenciado vacinas a tempo e a hora, como se ele tivesse dado o exemplo usando máscara e provocando aglomerações. Como se não bastasse isso, o presidente manda o seu chanceler Ernesto Araújo, chefiando uma missão – ao invés de mandar uma equipe científica – para visitar Israel e trazer de lá mais um remédio milagroso, tipo cloroquina, que seria um spray nasal que ainda está em fase experimental e sem qualquer comprovação científica de que sua eficácia para ajudar no combate ao coronavírus. É evidente que o país vai vencer essa crise, como já venceu outras, mas agora com um custo de vidas humanas terrivelmente alto, por culpa de um governo que em nenhum momento se preocupou de fato com a pandemia, como restou provado no alegre almoço de ontem no Palácio da Alvorada. Esse spray nasal é mais uma aposta de um presidente da República que não avalia as perdas humanas, senão a economia, como se uma coisa não tivesse relação com a outra. Pode ser mais uma aposta errada- tomara que não seja. O custo Brasil em vidas humanas já está alto demais.

Foto: REUTERS

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