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Vacinas modernas oferecem proteção contra futuras ameaças globais Pesquisadores demonstram preocupação com alterações no vírus da gripe aviária.

11 de abril de 2025, 10h04 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

O temor de que a gripe aviária possa evoluir para uma nova pandemia segue preocupando autoridades de saúde ao redor do mundo. Para a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, o desenvolvimento de vacinas mais eficientes é fundamental para evitar que o vírus se torne uma ameaça global. Uma das principais apostas nesse cenário é a criação de uma vacina universal contra todos os tipos de influenza — projeto que já demonstrou bons resultados em testes preliminares.

“Trata-se de uma vacina baseada em RNA mensageiro, que incorpora o material genético de todos os subtipos dos vírus influenza A e B”, explica Mônica. Segundo ela, os testes iniciais em furões e ratos apresentaram resposta imunológica bastante positiva. “Inicialmente, os cientistas testaram cada antígeno separadamente, e os resultados foram promissores. Depois, administraram os 20 subtipos de forma conjunta e observaram a produção de anticorpos contra todos eles, com duração de pelo menos quatro meses após a aplicação.”

Mônica Levi também destacou que imunizantes específicos contra o vírus da gripe aviária já foram desenvolvidos e estocados em caráter emergencial por cerca de 20 países. No Brasil, a aposta está no imunizante que está sendo desenvolvido pelo Instituto Butantan, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A vacina já passou por testes em animais, com resultados encorajadores, e agora aguarda a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a fase de testes em seres humanos. O instituto já começou a recrutar voluntários para os ensaios clínicos.

A presidente da SBIm ressalta a necessidade de o Brasil produzir sua própria vacina o quanto antes, para não depender da indústria estrangeira em caso de emergência. “Esse vírus tem grande capacidade de adaptação e sofre mutações com rapidez, conseguindo infectar diferentes espécies com facilidade”, afirma.

Segundo a especialista, já foram identificadas mais de 350 espécies atingidas pelo vírus — muitas delas não eram afetadas no início do surto, incluindo mamíferos como gatos domésticos, detectados na Polônia. “A taxa de mortalidade é alta, pois não temos imunidade prévia contra esse vírus”, acrescenta.

Mônica Levi também alerta para o risco de o vírus sofrer novas mutações que permitam sua transmissão direta entre humanos. “Se ele adquirir a capacidade de se fixar mais facilmente nas células humanas, poderá se espalhar de pessoa para pessoa. E, segundo as evidências disponíveis, falta muito pouco para isso acontecer”, adverte.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2003 e março deste ano, foram registrados 969 casos confirmados de infecção por gripe aviária em humanos, causados pelo vírus Influenza A H5N1. Desses, 457 evoluíram para óbito, o que representa uma taxa de letalidade superior a 50%.

Apesar da alta letalidade histórica, esse índice vem caindo desde 2015. Em 2025, das 72 infecções registradas nas Américas, apenas duas resultaram em morte — uma nos Estados Unidos e outra no México. A maioria dos casos recentes ocorreu em território norte-americano.

As infecções em humanos normalmente ocorrem após contato direto com animais contaminados. O número de surtos em aves e mamíferos tem aumentado de forma preocupante. Entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025, foram reportados mais de 900 surtos em aves de criação e cerca de 1.000 em aves silvestres — números superiores aos registrados durante toda a temporada anterior, que durou do fim de 2023 a setembro de 2024.

No Brasil, o primeiro caso de gripe aviária foi confirmado em maio de 2023. Desde então, foram identificados 166 focos da doença: 163 em aves silvestres e três em aves de criação. Diante do aumento dos casos e do cenário internacional, o Ministério da Agricultura e Pecuária decidiu prorrogar por mais 180 dias o estado de emergência zoossanitária no país.

Foto: © Tomaz Silva/Agência Brasil.

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