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Vestígios deixados pelos escravos ajudam a contar os 300 anos de história de Minas Gerais Ouro Preto foi a primeira capital do estado. No século 18, auge do ciclo do ouro, havia muitos africanos escravizados por lá, e foram eles que ergueram os casarões antigos e as igrejas centenárias que tornaram a cidade um patrimônio cultural da humanidade.

4 de dezembro de 2020, 08h26 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

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Por G1

Nesta semana, o estado de Minas Gerais está completando três séculos. É uma história de vilas ricas, que se tornaram cidades prósperas, uma história que começou a ser escrita com o brilho do ouro e com o suor de pessoas negras escravizadas.

A histórica Ouro Preto retrata a beleza arquitetônica que está em cada cantinho de Minas, rodeada de montanhas. E, debaixo delas, nas extensas galerias subterrâneas, é que foi retirada a principal riqueza para a construção do estado. Trabalho pesado, feito por negros escravizados. Eles dominavam todo o conhecimento e criavam ferramentas para a extração do ouro.

“A gente reproduziu um cabo numa ferramenta, que servia para poder deslocar blocos, fazendo o trabalho da alavanca. Outra ferramenta servia para trabalhar junto com a marreta, para poder abrir os vãos. Gana, Togo, Benim, um pedaço da Nigéria, Camarões, daquela região ali que vinham esses negros-mina, que tinham já esse conhecimento da mineração e do fazer, de buscar o ouro dentro da terra, então aqui a gente vê todo esse conhecimento palpável, porque a gente consegue identificar aqui muita técnica de engenharia”, explica Eduardo Ferreira, engenheiro e pesquisador da Universidade Federal de Ouro Preto.

A sabedoria africana também deixou legado na religião. Uma bandeira em ferro, símbolo do reinado, foi uma descoberta.

“Nós tivemos o conhecimento que ela tem mais de 200 anos e ela foi feita toda em uma técnica de martelada a ferro, e quem dominava esse ofício era o nosso povo escravizado”, conta Katia Silveiro, capitã da Guarda de Congo.

O conhecimento deixado pelos escravos resgata o protagonismo negro. No porão de um casarão centenário, onde provavelmente ficava a senzala, em uma parede estão desenhos que mostram a origem da população que ajudou a construir as cidades históricas de Minas.

“O sentimento que eu tenho é uma coisa meio de onde eu vim, que é a história de como era minha vida lá, como era lá e como eu vim para cá. Então, isso para mim está claro, é como um documento que está aqui na parede, escrito no reboco, em baixo relevo, no cantinho da casa”, diz Phellipe Passos, administrador do casarão.

Os escravizados eram muitos e influenciaram na política. Liderados por uma mulher negra, eles exigiam um novo governo e fizeram motins no famoso Morro da Queimada. A pressão deu resultado: em 1720, há 300 anos, foi criada a capitania mineira.

“Era uma mulher negra, de origem africana, que comandava as pessoas que estavam revoltosas no morro e desceu esse morro trazendo terror ao governador. Daí veio essa separação. Em 2 de dezembro, Minas Gerais se torna uma capitania independente de São Paulo para ter maior controle sobre a quantidade de ouro que estava saindo daqui”, explicou a historiadora e pesquisadora Sidnéa Santos.

Parte dessa riqueza histórica, que não é contada nos livros, está guardada na Casa de Cultura Negra.

“Os saberes africanos fizeram os 300 anos de Minas Gerais. Fizeram as igrejas, as ruas, os casarios, fizeram várias coisas. Celebramos, então, 300 anos de Minas Gerais graças aos nossos ancestrais, graças a essa civilização específica que veio para o Brasil”, afirma Kedison Guimarães, diretor de Promoção e Igualdade Racial de Ouro Preto.

Foto: Saulo Vieira/G1

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